Folha de S.Paulo

‘Bossa Nova é uma máquina de investimen­tos em startups’

Fundo já colocou R$ 9 bi em novos negócios, afirma Pierre Schürmann

- Beatriz Montesanti

“Até 2017, se você falasse com os gestores de venture capital, eles iriam te dizer que era muito difícil levantar dinheiro. Bons gestores suavam para conseguir levantar R$ 30 milhões, R$ 40 milhões, R$ 50 milhões no fundo, não era nem em uma rodada, mas no fundo. E aí houve um boom em venture capital, e isso passar a ser superimpor­tante. Começaram a surgir os unicórnios, e algumas empresas cresceram

Pierre Schürmann cresceu em um barco, aprendeu a programar em terra firme, lançou um dos sites mais populares do Brasil nos primórdios de internet e, cinco empresas depois, criou o fundo de venture capital com o maior portfólio da América Latina.

A gestora Bossa Nova Investimen­tos, fundada por ele em 2011, já investiu R$ 9 bilhões em mais de 500 empresas. O plano, diz,écheg ar amila té 2025, mas ele acredita que, no ritmo atual, o fundo deve bate rameta em dois anos.

“A Bossa é uma máquina de fazer investimen­tos em startups”, diz o empresário, que atribui o bom desempenho a uma evolução inesperada do mercado de venture capital no Brasil.

Ele projeta uma nova onda de investimen­tos, bem maior que as anteriores, graças a uma nova geração de potenciais empreended­ores. Esse grupo tem outra visão, afirma, porque presenciou o nascimento dos atuais unicórnios brasileiro­s —as startups que valem mais de US$ 1 bilhão.

Contribui também o ambiente inédito de juros baixos.

“A próxima onda que vem aí é com Selic a 2%, capital infinito para tecnologia, plataforma­s enormes para distribuiç­ão, e pessoas que vivenciara­m, viram ser possível tirar empresa do zero, com dez pessoas numa sala, eira 2.000 em quatro anos”, afirma Schürmann . “Essas pessoas vão dizer: ‘acho que vou empreender também.”

Primogênit­o da família Schürmann, conhecida por dar a volta ao mundo em um veleiro, ele celebra hoje conseguir dar entrevista­s inteiras sem lembrar o fato. “Antes só falavam disso: como foi sua vida no barco?”

Desde novembro, ele é membro do conselho de administra­ção da Bossa Nova e se dedica a um novo empreendim­ento, o seu sétimo: a Nuvini, que realiza investimen­tos em empresas de software.

Como surgiu a Bossa Nova?

Em 2000, eu tinha feito investimen­tos em startups no Brasil com um fundo americano, e queria voltar a investir, mas comecei a Bossa de forma tímida. Os primeiros cinco anos foram basicament­e com capital próprio e alguns amigos coinvestin­do.

Em 2015, 2016, eu trouxe como sócio o João Kepler, que já era investidor-anjo, e decidimos expandir e acelerar o negócio. João é o alter ego da Bossa, está mais na mídia, eu sempre fui mais offmedia. Então, a Bossa teve dois ciclos e está tendo o terceiro agora.

Sabia que poderia ser grande, mas não tinha ideia do que poderia chegar até aqui.

E como vocês foram disso para se tornarem os maiores investidor­es do Brasil e da América Latina?

Não foi por acaso que nosso portfólio se tornou tão grande, pois tínhamos uma meta ambiciosa, mas como nos tornamos os maiores foi por acaso.

Olhando alguns fundos americanos, entendemos que era mais fácil adaptar o que já existia e funcionava bem. Fomos buscar um fundo americano chamado SV Angel, que tem hoje mais de 900 empresas investidas, e então decidimos que íamos fazer mil investimen­tos em startups no Brasil.

É um desafio gigante, achamos que ia demorar um pouco mais, mas estamos perto. Acabamos conseguind­o criar um efeito, uma espiral virtuosa, em que trazemos mais empreended­ores, mais investidor­es, e isso foi se alimentand­o e acelerou nosso processo de cresciment­o.

A Bossa foi minha quinta empresa, havia poucos concorrent­es na época, e houve uma enorme mudança em venture capital, ninguém podia prever que o mercado estaria desse tamanho.

Em 2015, o mercado de venture capital deveria ser praticamen­te do tamanho da rodada da [startup de marketplac­e] Olist, que acabou de levantar capital de mais de R$ 300 milhões. O ano inteiro, o mercado inteiro, era equivalent­e à rodada de investimen­to de uma empresa no mês de novembro hoje. Decidimos seguir um rumo e chegamos mais rápido do que imaginávam­os.

Por que mil empresas? Como chegaram a esse número?

Tem um embasament­o técnico, por incrível que pareça. Existe nos EUA uma entidade chamada Kauffman Foundation, responsáve­l por medir os resultados dos fundos de investimen­to, e também de anjos. Em 2015 eles fizeram a primeira pesquisa sobre investimen­to no estágio em que a Bossa investe, o pré-seed, que é depois do anjo.

Eles chegaram à conclusão de que, se você conseguiss­e investir em mais de 600, 700 empresas, conseguiri­a ter o retorno médio de duas a três vezes do capital investido, que foi o que a Bossa construiu.

Quando esperam atingir essa marca?

Tínhamos uma visão inicial de 2025, e já era próximo. Acho que, potencialm­ente, conseguimo­s chegar antes, pelo ritmo de investimen­to que a Bossa está fazendo, pelo número de bons empreended­ores que existem no Brasil hoje, com o surgimento de muitos negócios bem legais em tecnologia, software, crescendo a fatia no PIB, acho que tem potencial muito bom para que a Bossa chegue a seus mil investimen­tos antes de 2025.

Algum ano específico?

Acho que em 2022 a gente chega lá. A Bossa é uma máquina de fazer investimen­tos em startups.

Quais são os critérios do fundo para fazer investimen­tos?

A Bossa investe em B2B [sigla em inglês para empresas dedicadas a fornecer soluções para outros negócios, e não para o consumidor final], software em tecnologia e software em internet, e que já estejam faturando.

Não investimos em ideia, em negócios recém-começados. Tem hoje anjo para fazer isso, outras iniciativa­s e partes do ecossistem­a que atendem muito bem esse empreended­or e essa empreended­ora.

Qual costuma ser o tamanho do aporte que a Bossa faz?

Acho que investimos em torno de R$ 300 mil a R$ 500 mil iniciais. A Bossa participa geralmente também dos outros estágios de investimen­to. Geralmente somos o primeiro cheque e, depois, acompanham­os o ciclo todo de investimen­to, à medida que o negócio cresce e faz sentido entrar nos follow-ons [ofertas seguintes de ações].

Quando esse ciclo se encerra para a Bossa Nova?

Se encerra de algumas formas. A mais positiva é quando a empresa é adquirida —alguém compra. A segunda é quando existe uma rodada de investimen­tos que tem um fundo maior, entra uma Kaszek, um SoftBank, fundos que compram investidor­es pequenos para dar uma arrumada na base societária. O contrapont­o é quando as coisas não dão certo, o negócio fecha e temos o chamado “ride off”, perdemos o capital investido lá.

Com que frequência isso acontece?

Temos algo em torno de 40 empresas que não deram certo. A frequência depende de uma série de fatores: de quem está investindo, quem está acompanhan­do, mercadolog­icamente falando. Você tem gente que fez quatro investimen­tos e três deram errado. Nosso diferencia­l é que temos uma experiênci­a: quanto mais investimen­to você faz, melhor você analisa, melhor seu filtro, melhor o investimen­to que você atrai.

Comovê o mercado d estar tups hoje noBr asilem comparação­aquando começou?

O mercado viveu algumas fases. Começou em 2008, co maida do Buscapé para a Naspers, gerou um momento de euforia. Aí veio 2014, que ninguém sabia o que ia acontecer, mas gerou uma safra de excelentes empreended­ores, como o Nubank, a Créditas, a RD Station. Era uma época que não tinha dinheiro, e você precisava ir lá, fazer acontecer sem capital.

De lá para cá, o conhecimen­to subiu muito. As plataforma­s de distribuiç­ão de tecnologia aumentaram através do mobile, o que impulsiono­u muito o acessoe a capacidade das empresas de distribuir conteúdo e vender.

Tudo isso, ainda, sem capital no mercado. Até 2017, se você falasse com os gestores de venture capital, eles iriam te dizer que era muito difícil levantar dinheiro. Bons gestores suavam para conseguir levantar R$ 30 milhões, R$ 40 milhões, R $50 milhões no fundo, não era nem em uma rodada, mas no fundo. E aí houve um boom em venture capital, e isso passaras er super importante. Começaram a surgir os unicórnios, e algumas empresas cresceram.

 ?? Adriano Vizoni/Folhapress ?? Pierre Schürmann, fundador e membro do conselho da gestora Bossa Nova Investimen­tos, durante entrevista
Adriano Vizoni/Folhapress Pierre Schürmann, fundador e membro do conselho da gestora Bossa Nova Investimen­tos, durante entrevista

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