Coletânea de textos de Sylvia Plath convida a observar o amadurecimento da escritora
Johnny Panic e a Bíblia de Sonhos e Outros Textos em Prosa **** * Autora: Sylvia Plath. Trad.: Ana Guadalupe. Ed.: Biblioteca Azul. R$ 59,90 (464 págs.)
Leitores de Sylvia Plath recebem “Johnny Panic e a Bíblia dos Sonhos” com alegria, pois a coletânea apresenta 31 textos inéditos no Brasil. São contos, trechos de diários e ensaios escritos entre 1949 e 1963.
Contudo, vale considerar que o volume reúne parte da produção da escritora entre seus 17 e 30 anos. Alguns textos apresentam uma voz atenta aos detalhes, contraditória, um tanto ácida e insegura,mas também acompanhamos o caminho percorrido pela autora até alcançar seu estilo.
A recepção da obra de Plath é influenciada por fatos biográficos como a morte de seu pai, suas internações psiquiátricas e seu suicídio aos 30 anos. No entanto, o trabalho de descrição e criação de imagens em sua prosa e poesia são marcantes e nem sempre recebem o destaque merecido.
Contos como “O Domingo dos Minton”, “As Filhas de Blossom Street” e “Iniciação” perdem um pouco do impacto por se alongarem ou recorrerem a fórmulas de escrita criativa, mas têm boas reflexões sobre como o mundo pode ser hostil com quem não se adequa às expectativas sociais.
No ensaio “América! América!” a escritora trata de sua experiência como descendente de imigrantes —seu pai era um biólogo alemão . Lembranças de Boston e da escola se misturam a uma crítica ao país como terra de liberdades.
É difícil não pensar na biografia de Plath ao ler “Mães” e “Blitz de Neve”, em que as personagens são mulheres jovens lidando com filhos, o cansaço e o isolamento na Inglaterra.
Mas a importância da imaginação fica clara em “O Domingo dos Minton” e a “A Caixinha de Desejos,” que, além de abordarem a frustração de uma mulher por não ter sonhos criativos, desenham uma tensão entre os cônjuges feita de silêncios e expectativas, que reaparece em “O Quinquagésimo-nono Urso”.
A sensação de irregularidade dos textos e de variação na maturidade da escritora se deve muito à decisão editorial de de Ted Hughes de não pôr os textos em ordem cronológica.
A apresentação de Margaret Atwood, no entanto, oferece outros caminhos ao mostrar que, mesmo textos para revistas femininas, anteriores à popularização do movimento de liberação feminina, já mostravam um tom crítico.