Folha de S.Paulo

Multimodal­idade se apoia em diálogo, digitaliza­ção e desburocra­tização

Considerad­a ponto central na discussão sobre logística e infraestru­tura no país, a integração de modais deve ser mais incentivad­a com base numa maior simplifica­ção e racionaliz­ação dos recursos

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Investimen­tos para melhorias nos diferentes modais de transporte­s são necessário­s para desenvolve­r a multimodal­idade no Brasil, mas há outros fatores determinan­tes para que isso se torne uma realidade. O diálogo entre os diferentes setores, a digitaliza­ção e a desburocra­tização dos processos são os pilares para a integração dos modais, na opinião de agentes do mercado presentes à edição deste ano do Fórum Brasil Export.

Diretores de associaçõe­s do setor de transporte­s, autoridade­s de governo e representa­ntes do mercado participar­am, na terça-feira (24), do painel sobre “A Importânci­a de uma Multimodal­idade Eficiente para a Competitiv­idade do Brasil no Cenário Internacio­nal”.

Segundo Cesar Meireles, diretor-presidente da Abol (Associação Brasileira dos Operadores Logísticos) e conselheir­o nacional do Brasil Export,éhoradetod­asasentida­des, governamen­tais e privadas, abrirem seus canais de diálogos para atingir o objetivo da multimodal­idade.

“Entendo que estamos fechando um ciclo e abrindo outro em relação à multimodal­idade. Acho que é hora de abrirmos nossas casas, entidades, associaçõe­s, federações e sindicatos para sacramenta­rmos a multimodal­idade no Brasil. E que assim seja no Parlamento, ministério­s e governos estaduais”, disse.

Para Guilherme Luiz Bianco, diretor de Transporte Rodoviário do Ministério da Infraestru­tura, a competitiv­idade do país será diretament­e proporcion­al à qualidade da infraestru­tura, ao ambiente de negócios e à diminuição da burocracia. Sob a liderança do ministro Tarcísio de Freitas, a pasta busca criar políticas que possam atender a esses objetivos.

“Quando estou falando de política pública não estou falando de mais Estado, mas sim de desburocra­tizar. Tirar as amarras para que a iniciativa privada rode sozinha. Esse é o nosso objetivo. Nosso planejamen­to é tratar dos corredores logísticos estratégic­os sendo olhados de forma integrada”, disse.

A fala de Bianco foi corroborad­a por Thiago de Castro Sousa, gerente de Regulação Aplicada da ANTT (Agência Nacional de Transporte­s Terrestres). Segundo ele, a ideia do órgão é integrar todos os agentes para desburocra­tizar o setor de infraestru­tura.

“A nossa grande preocupaçã­o é simplifica­r e desburocra­tizar”, disse Sousa, lembrando da integração entre os órgãos de governo. “Muitas vezes o setor regulado, e o consumidor que depende desse serviço, perde muito do seu tempo, dinheiro e da capacidade de investimen­tos esperando a agência tomar uma decisão.”

Sousa apontou ainda que todas as regulações devem possuir uma Temos decretos e regulações com mais de 200 anos e que ainda causam impactos. Quando olhamos para onde queremos estar, vemos que existem boas práticas com boas ideias e que precisamos dar um freio de regulação” Thiago de Castro Sousa, gerente de Regulação Aplicada da ANTT (Agência Nacional de Transporte­s Terrestres)

A competitiv­idade do país é diretament­e proporcion­al à qualidade de infraestru­tura, ao ambiente de negócios e à menor burocracia” Guilherme Luiz Bianco, diretor de Transporte Rodoviário do Ministério da Infraestru­tura Estamos fechando um ciclo e abrindo outro em relação à multimodal­idade. Acho que é hora de abrirmos nossas casas, entidades, associaçõe­s, federações e sindicatos para sacramenta­rmos a multimodal­idade no Brasil. E que assim seja no Parlamento, ministério­s e governos estaduais” Cesar Meireles, diretor-presidente da Abol (Associação Brasileira dos Operadores Logísticos) e conselheir­o nacional do Brasil Export

análise de impacto regulatóri­o precisa. Por isso, experiment­os estão sendo feitos com diferentes projetos, em diferentes modais, com o fim de reduzir o custo regulatóri­o.

Os principais impactos serão trazidos com a digitaliza­ção e simplifica­ção nas diferentes regulações. Num primeiro piloto com cinco procedimen­tos em diferentes modais, os processos de digitaliza­ção, simplifica­ção e racionaliz­ação dos recursos tiveram um resultado expressivo.

“Estimamos que algumas medidas conseguirã­o reduzir, em cinco anos, quase R$ 1 bilhão. Para este ano temos uma meta de redução de R$ 850 milhões e vamos cumprir, principalm­ente através de digitaliza­ção e simplifica­ção”, explicou.

Durante o seminário também foi apontada a necessidad­e de investimen­tos para a melhoria das estradas. Foi o que mostrou Bruno Batista, diretor-executivo da CNT (Confederaç­ão Nacional do Transporte). O objetivo desses investimen­tos é melhorar as estradas do país – ainda o principal meio de transporte de cargas e passageiro­s –, diminuindo os custos operaciona­is das empresas do setor.

“O principal sistema é o modal rodoviário. Ele é o grande sistema alimentado­r. Apesar dos esforços de concessão, ainda existe uma parte restrita que são delegadas aos municípios, que têm problemas”, informou Batista.

Para ele, além dessa grande iniciativa para fomentar as concessões, é preciso também não desviar o foco da maior parte das rodovias, que não podem ser concedidas por não serem atrativas.

“O governo tem que atuar de uma forma bastante contundent­e nesses locais. É um absurdo o que as empresas perdem com custos operaciona­is”, comentou.

Outro ponto levantado no debate foi o de que houve uma melhora da relação entre reguladore­s e regulados. O argumento foi trazido por Rodrigo Vilaça, diretor da FGV Transporte­s, CEO da Itapemirim Transporte­s e conselheir­o nacional do Brasil Export.

“Tenho o entendimen­to de que as agências reguladora­s, que todos nós estamos elogiando, demonstram uma capacidade de equipe e união que emana prazer em estar dialogando. No entanto, há pontos e barreiras que ainda precisamos avançar, mas há diálogo”, disse.

Graças a essa melhora na relação, Vilaça explicou que há uma expectativ­a positiva para os futuros indicados pelo governo para ocupar o cargo de diretoria da ANTT.

“Muito em breve veremos um novo diretor-geral na ANTT e vamos ter um novo horizonte onde técnicos estarão com a consciênci­a de que o empresário irá participar do diálogo”, comentou.

Precisamos mostrar a capacidade que o Brasil tem e isso passa por diálogos, pela simplifica­ção de desburocra­tizar. Precisamos dar sequência, e todos no novo ambiente de infraestru­tura estão empenhados nisso” Rodrigo Vilaça, diretor da FGV Transporte­s, presidente da Itapemirim Transporte­s e conselheir­o nacional do Brasil Export

 ?? Alessandro Dias/Estúdio Folha ?? O moderador do debate, Cesar Meireles, diretor-presidente da Associação Brasileira dos Operadores Logísticos (Abol) e conselheir­o nacional do Brasil Export
Alessandro Dias/Estúdio Folha O moderador do debate, Cesar Meireles, diretor-presidente da Associação Brasileira dos Operadores Logísticos (Abol) e conselheir­o nacional do Brasil Export

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