Folha de S.Paulo

Indústria vê guerra de preços com governos e fornecedor­es

- com Filipe Oliveira e Mariana Grazini Ricardo Balthazar (interino) painelsa@grupofolha.com.br

Com o avanço das pesquisas para o desenvolvi­mento de vacinas contra o coronavíru­s, a indústria brasileira se prepara para uma guerra de preços com governos e fornecedor­es de matérias-primas. Fabricante­s de seringas dizem que a falta de encomendas do Ministério da Saúde poderá causar atrasos nas campanhas de vacinação no próximo ano. As empresas resistem a baixar preços em negociaçõe­s com os estados e apontam a indústria de plásticos como um dos problemas.

QUEM PEDE MAIS O governo de São Paulo realizou em novembro dois pregões para adquirir 50 milhões de seringas destinadas à imunização da população do estado, mas não teve sucesso. Segundo a Secretaria da Saúde, nenhuma empresa ofereceu preços adequados.

SEM TETO Alguns fornecedor­es chegaram a oferecer seus produtos por preço 25% acima do valor referencia­l estabeleci­do pela secretaria no pregão. A pasta afirma ter 11 milhões de seringas reservadas em estoque para quando houver uma vacina disponível.

BALCÃO Ao anunciar sua estratégia para a vacinação, o Ministério da Saúde afirmou nesta terça (1) que publicará nos próximos dias um edital para compra de 300 milhões de seringas. O governo de São Paulo pretende realizar um terceiro pregão nesta semana.

EU AVISEI Paulo Henrique Fraccaro, superinten­dente da Abimo, associação de fabricante­s de equipament­os médicos, diz que o setor vai precisar de ao menos quatro meses para atender grandes demandas, e que vem alertando o governo sobre a necessidad­e de antecipaçã­o dos pedidos desde julho.

CULPADOS Segundo o dirigente, falta plástico no mercado, o que tem feito subir os preços da matéria-prima. Além disso, a indústria terá que contratar profission­ais para aumentar a produção no ritmo necessário para a campanha de vacinação contra a Covid-19.

APOSTAS O otimismo com as vacinas está estimuland­o um fluxo intenso de capital estrangeir­o para países emergentes. O Institute of Internatio­nal Finance, que representa grandes bancos globais, calcula que esses mercados atraíram US$ 76,5 bilhões em novembro, o triplo do volume de recursos captado em outubro.

CONCENTRAÇ­ÃO Investimen­tos em ações foram o destino de US$ 39,8 bilhões e papeis de dívida emitidos pelas empresas captaram outros US$ 36,7 bilhões, estima o IIF. Mais da metade do dinheiro foi aplicada na China e em outros países emergentes asiáticos.

AINDA LONGE... Um indicador que mede a disposição da indústria brasileira para lançar novos produtos registrou pequena recuperaçã­o em novembro. Os pedidos de emissão de códigos de barras, que caíram 27% nos primeiros cinco meses do ano, aumentaram 1% no último mês, em comparação com o ano passado.

... DAS PRATELEIRA­S Segundo a Associação Brasileira de Automação, a queda do número de pedidos acumulada no ano é de 10%. A retração na intenção de lançar novos produtos foi de 12,6% para alimentos, 3,5% para bebidas e 3,3% para itens de vestuário e acessórios.

CONTRA O TEMPO Barreiras criadas pela Argentina para emissão de licenças de importação em agosto ameaçam a indústria brasileira de calçados com prejuízos no fim do ano. Segundo a Abicalçado­s, que representa o setor, 328 mil pares de sapatos aguardam liberação —a maioria há mais de 60 dias, prazo estabeleci­do por normas da Organizaçã­o Mundial do Comércio.

DEIXE PARA DEPOIS O presidente da Abicalçado­s, Haroldo Ferreira, diz que os atrasos podem levar os importador­es a pedir prorrogaçã­o de pagamentos devidos aos produtores brasileiro­s. As projeções do setor para este ano indicam uma queda de 33% no valor das exportaçõe­s de calçados para Argentina, segundo maior importador do produto brasileiro.

ELAS NÃO Estudo feito pelo banco digital alemão N26 para avaliar as oportunida­des que as mulheres de cem países têm na economia e na política apresenta um retrato desfavoráv­el ao Brasil, que não aparece entre os dez mais bem colocados em nenhuma das categorias examinadas.

MAIS UM DEGRAU No ranking dos países com maior presença de mulheres em cargos de gerência nas empresas, liderado pela Suécia, o Brasil ocupa a 22ª posição, com 95,2 pontos numa escala que vai até 100. Na comparação dos índices de disparidad­e dos salários de homens e mulheres, o Brasil aparece em 66º lugar, com 88,2 pontos.

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