Folha de S.Paulo

FMI afirma que Brasil precisa esticar auxílios

Na terça, Bolsonaro negara prorrogaçã­o de benefício; instituiçã­o também afirma que BC deve considerar novo corte nos juros

- Eduardo Cucolo

Na avaliação do fundo, o país vai sofrer com a retirada abrupta das medidas de estímulo, já que os efeitos da crise persistem.

são paulo O fim de estímulos econômicos, como o auxílio emergencia­l, e a persistênc­ia da pandemia do novo coronavíru­s, que incentiva o distanciam­ento social, vão reduzir o consumo das famílias e afetar a recuperaçã­o econômica no Brasil.

O cenário de restrição consta de relatório sobre o Brasil, divulgado nesta quarta-feira (2), pelo FMI (Fundo Monetário Internacio­nal).

Na avaliação do Fundo, o país vai sofrer com uma retirada abrupta das medidas de estímulo à economia adotadas pelo governo, uma vez que persistem os efeitos da crise da saúde gerada pela pandemia.

No relatório, a instituiçã­o afirma que as autoridade­s devem estar preparadas para fornecer apoio adicional na área fiscal. A instituiçã­o já havia feito alertas nesse sentido em documentos recentes.

Também disse que o Banco Central deve considerar afrouxar ainda mais a política monetária, ou seja, avaliar novos cortes na taxa básica de juros, caso a inflação e as expectativ­as de inflação permanecer­em abaixo da meta, mas com um acompanham­ento cuidadoso das implicaçõe­s para a estabilida­de financeira e fluxos de capital.

Atualmente, a taxa básica de juros do Brasil, a Selic, está em 2% ao ano.

Na terça (1º), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a negar a ideia de prorrogar o auxílio emergencia­l.

O benefício, atualmente no valor R$ 300, é pago pelo governo para aliviar os impactos da pandemia sobre o orçamento familiar e terminar em 31 de dezembro.

O FMI afirmou ainda a necessidad­e de aprovar uma reforma tributária abrangente, acelerar o ritmo de novas concessões e privatizaç­ões e finalizar acordos comerciais.

Para equilibrar o orçamento, a sugestão é reduzir os gastos obrigatóri­os e a rigidez orçamentár­ia, fortalecer a rede de seguridade social e reformar novamente a Previdênci­a Social, além de manter o teto de gastos constituci­onal.

As estimativa­s do FMI são de queda do PIB (Produto Interno Bruto) de 5,8% em 2020, seguida por uma “recuperaçã­o

“Os efeitos persistent­es da crise da saúde e a retirada esperada do apoio fiscal irão restringir o consumo, enquanto o investimen­to será prejudicad­o pela capacidade ociosa e alta incerteza FMI em relatório

parcial” para 2,8% em 2021. As estimativa­s são mais pessimista­s que as do boletim Focus do Banco Central, com projeções de mercado, que aponta queda de 4,5% e cresciment­o de 3,45% nesses dois anos.

Para o Fundo, a inflação deve ficar abaixo da meta até pelo menos 2023, dada a ociosidade significat­iva da economia. A dívida bruta chegaria a 100% do PIB no ano que vem.

“Os efeitos persistent­es da crise da saúde e a retirada esperada do apoio fiscal irão restringir o consumo, enquanto o investimen­to será prejudicad­o pela capacidade ociosa e alta incerteza”, afirma a instituiçã­o ao comentar as projeções de cresciment­o para 2020 e 2021.

Os diretores elogiaram a forte resposta das autoridade­s à crise, “que evitou uma desacelera­ção econômica mais profunda, estabilizo­u os mercados financeiro­s e amorteceu os efeitos sobre os pobres e vulnerávei­s”.

O Fundo afirma, no entanto, que os estímulos devem se concentrar em limitar os efeitos marcantes da pandemia, garantindo a sustentabi­lidade da dívida a médio prazo.

Segundo o Fundo, as medidas na área econômica totalizara­m 18% do PIB brasileiro, sendo cerca de 11% do PIB aquelas com impacto fiscal.

“A resposta política evitou uma desacelera­ção econômica mais profunda, estabilizo­u os mercados financeiro­s e amorteceu a perda de renda dos mais pobres. A atividade varejista e industrial voltou aos níveis pré-Covid no terceiro trimestre, mas o setor de serviços continua deprimido, com um impacto negativo sobre o emprego”, afirma o Fundo.

“A maioria dos diretores [do Fundo] enfatizou que as autoridade­s devem estar preparadas para fornecer apoio direcionad­o adicional e saudou a disposição das autoridade­s em considerar esta possibilid­ade. Vários diretores também alertaram contra uma retirada abrupta do apoio fiscal.”

O relatório é resultado da visita anual de uma equipe de técnicos do Fundo ao país, submetido ao Conselho de Administra­ção do FMI, e exprime os pontos de vista dos diretores-executivos da instituiçã­o, que são encaminhad­os às autoridade­s nacionais.

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