Escolas particulares de SP desistem de atividades no contraturno em 2021
Objetivo é diminuir a circulação de alunos e privilegiar o retorno presencial das aulas regulares
são paulo Para diminuir a circulação de alunos, colégios particulares de São Paulo decidiram que não irão oferecer atividades complementares no próximo ano. A medida foi tomada sob a avaliação de que, ainda no início de 2021, não estejam autorizados a voltar com todos os estudantes ao mesmo tempo.
Pelas regras vigentes hoje no estado, as particulares só podem oferecer atividades presenciais para 35% dos alunos. O governador João Doria e o prefeito Bruno Covas (ambos do PSDB) ainda não anunciaram se vão ampliar o limite, mas suas equipes já sinalizaram que devem liberar o retorno presencial para um número maior de estudantes.
Entidades que representam o setor e donos de colégios avaliam, porém, que há pouca chance de autorização para todas as atividades presenciais que realizavam antes da pandemia. Por isso, algumas já anunciaram a suspensão de cursos complementares.
A medida foi comunicada nesta semana às famílias dos colégios Dante Alighieri e Santi. Outras escolas disseram à Folha que também avaliam a suspensão das atividades extracurriculares presenciais.
No Dante, nos Jardins (zona oeste), foram suspensos os cursos complementares para turmas da educação infantil (de três a cinco anos) e dos anos iniciais do ensino fundamental (do 1º ao 5º ano). Segundo a escola, a decisão ocorreu “diante das inúmeras mudanças necessárias por conta da pandemia”.
O colégio diz ainda que, “a depender da situação no início do ano letivo”, poderá disponibilizar esses cursos de forma presencial ou híbrida. Há anos o Dante oferece um amplo catálogo de atividades extracurriculares aos alunos —uma opção para pais que precisavam deixar os filhos por mais tempo na escola.
O Santi, no Paraíso (zona sul), também comunicou que ofertará apenas online os cursos extracurriculares da educação infantil e do ensino fundamental. “Acompanharemos mês a mês a possibilidade do retorno presencial das propostas”, diz carta aos pais.
Ainda que não haja definição por parte dos governos estadual e municipal sobre o retorno às aulas no próximo ano, as escolas decidiram se adiantar e comunicar a suspensão dessas atividades para que as famílias possam organizar a rotina domiciliar.
Para alguns pais, os cursos no contraturno garantiam que os filhos pudessem ficar no ambiente escolar por até oito ou dez horas, de forma mais flexível, já que podiam optar pelos dias em que participavam das atividades.
No entanto, outras unidades ainda esperam pela definição, como é o caso do Gracinha, no Itaim Bibi (zona oeste). Segundo o diretor, “caso a situação continue a exigir”, os cursos extracurriculares serão a distância no próximo ano.
Os colégios Brasil Canadá, Humboldt, Pentágono e Mary Ward disseram que aguardam as orientações do governo.
Ainda que esteja em meio a um aumento de casos e internações, o governo de São Paulo considera ampliar as regras para o funcionamento das escolas em 2021. A avaliação é de que o fechamento das instituições por mais de seis meses trouxe muitos prejuízos sociais e de aprendizagem a estudantes e que as regras atuais são muito restritivas para compensar o déficit acumulado.
A crescente aprovação dos pais, nas últimas semanas, ao retorno das aulas presenciais também pressiona o governo para uma maior aprovação.
No fim de setembro, 75% dos eleitores de São Paulo eram contrários à reabertura das escolas neste ano, segundo o Datafolha. Ao fim de novembro, no entanto, 57% dos pais afirmaram que as escolas devem voltar a ter aulas presenciais em 2021, e apenas 14% defenderam a continuidade das atividades remotas.
Contra evasão, SP lança campanha com influenciadores
Após seis meses com todas as escolas da rede estadual fechadas, o governo de São Paulo lançou uma campanha com influenciadores para incentivar os alunos a assistir as aulas remotas ou voltarem às unidades que reabriram.
No próximo ano, o governo também quer dar uma bolsa de estudos para alunos de baixa renda. Uma das avaliações é de que parte dos estudantes pode não regressar às escolas por terem começado a trabalhar durante a pandemia para ajudar em casa —por isso, o incentivo financeiro.
O aumento do abandono escolar é um dos efeitos mais temidos da pandemia por gestores educacionais e especialistas da área.
Até o início de novembro, 500 mil alunos da rede estadual não entregaram nenhuma atividade letiva neste ano —cerca de 15% dos 3,5 milhões de matriculados. Segundo Rossieli Soares, secretário de Educação, as ações são para engajar esses estudantes a voltarem aos estudos.
Nesta quarta (2), a secretaria anunciou uma parceria com o produtor musical Kondzilla, dono de um dos maiores canais no YouTube e responsável pelos clipes de maior sucesso do funk. Ele e outros influenciadores vão divulgar as atividades letivas em vídeos curtos no TikTok, rede social com muitos usuários jovens.
“Precisamos falar com os jovens, mostrar para eles a importância de continuar estudando. Uma coisa sou eu, Rossieli, dizendo que o estudo é importante. Outra é o jovem ouvir isso do Esdras [influenciador com mais de 400 mil seguidores no Instagram]”, diz.
Para o próximo ano, o governo de São Paulo tenta ainda recursos com o Banco Mundial para criar um programa que irá conceder bolsas mensais para 700 mil alunos de ensino fundamental e médio. O auxílio estudado é de R$ 80.
O projeto foi enviado à Comissão de Financiamentos Externos (Cofiex) do Ministério da Economia, que faz a análise inicial dos projetos que concorrem a recursos de organismos internacionais.
“Temos uma preocupação muito grande com o jovem que será forçado a escolher entre ir para a escola ou ajudar a botar comida na mesa. Isso nos assombra, nenhum jovem deveria ter essa escolha imposta. Cabe a nós, sociedade, não admitir isso.”
Para conter o abandono escolar neste ano, a secretaria também aprovou que haverá progressão continuada em todas as séries para estudantes que tiverem feito alguma atividade letiva. Há uma força-tarefa da pasta para que, até o fim de 2020, se alcance o maior número possível de alunos que não acompanharam as tarefas remotas.
Com a reabertura parcial das escolas da rede estadual desde setembro, o secretário avalia que seja possível diminuir o número de alunos que não fizeram atividades.
Soares também afirmou que defende manter as escolas abertas mesmo que o estado retroceda para fases mais restritivas do plano de contenção do coronavírus em consequência do aumento de casos de coronavírus, conforme adiantou a Folha.
Na segunda-feira (30), o governador João Doria (PSDB) anunciou que todas as regiões do estado voltaram para a fase amarela do plano, em que ainda é permitido o funcionamento com atividades presenciais nas escolas.
“O mundo inteiro, mesmo com ondas maiores de casos, agora está dizendo que educação é essencial. Se depender de mim, escola tem de ser considerada serviço essencial”, disse o secretário.