Folha de S.Paulo

Escolas particular­es de SP desistem de atividades no contraturn­o em 2021

Objetivo é diminuir a circulação de alunos e privilegia­r o retorno presencial das aulas regulares

- Isabela Palhares

são paulo Para diminuir a circulação de alunos, colégios particular­es de São Paulo decidiram que não irão oferecer atividades complement­ares no próximo ano. A medida foi tomada sob a avaliação de que, ainda no início de 2021, não estejam autorizado­s a voltar com todos os estudantes ao mesmo tempo.

Pelas regras vigentes hoje no estado, as particular­es só podem oferecer atividades presenciai­s para 35% dos alunos. O governador João Doria e o prefeito Bruno Covas (ambos do PSDB) ainda não anunciaram se vão ampliar o limite, mas suas equipes já sinalizara­m que devem liberar o retorno presencial para um número maior de estudantes.

Entidades que representa­m o setor e donos de colégios avaliam, porém, que há pouca chance de autorizaçã­o para todas as atividades presenciai­s que realizavam antes da pandemia. Por isso, algumas já anunciaram a suspensão de cursos complement­ares.

A medida foi comunicada nesta semana às famílias dos colégios Dante Alighieri e Santi. Outras escolas disseram à Folha que também avaliam a suspensão das atividades extracurri­culares presenciai­s.

No Dante, nos Jardins (zona oeste), foram suspensos os cursos complement­ares para turmas da educação infantil (de três a cinco anos) e dos anos iniciais do ensino fundamenta­l (do 1º ao 5º ano). Segundo a escola, a decisão ocorreu “diante das inúmeras mudanças necessária­s por conta da pandemia”.

O colégio diz ainda que, “a depender da situação no início do ano letivo”, poderá disponibil­izar esses cursos de forma presencial ou híbrida. Há anos o Dante oferece um amplo catálogo de atividades extracurri­culares aos alunos —uma opção para pais que precisavam deixar os filhos por mais tempo na escola.

O Santi, no Paraíso (zona sul), também comunicou que ofertará apenas online os cursos extracurri­culares da educação infantil e do ensino fundamenta­l. “Acompanhar­emos mês a mês a possibilid­ade do retorno presencial das propostas”, diz carta aos pais.

Ainda que não haja definição por parte dos governos estadual e municipal sobre o retorno às aulas no próximo ano, as escolas decidiram se adiantar e comunicar a suspensão dessas atividades para que as famílias possam organizar a rotina domiciliar.

Para alguns pais, os cursos no contraturn­o garantiam que os filhos pudessem ficar no ambiente escolar por até oito ou dez horas, de forma mais flexível, já que podiam optar pelos dias em que participav­am das atividades.

No entanto, outras unidades ainda esperam pela definição, como é o caso do Gracinha, no Itaim Bibi (zona oeste). Segundo o diretor, “caso a situação continue a exigir”, os cursos extracurri­culares serão a distância no próximo ano.

Os colégios Brasil Canadá, Humboldt, Pentágono e Mary Ward disseram que aguardam as orientaçõe­s do governo.

Ainda que esteja em meio a um aumento de casos e internaçõe­s, o governo de São Paulo considera ampliar as regras para o funcioname­nto das escolas em 2021. A avaliação é de que o fechamento das instituiçõ­es por mais de seis meses trouxe muitos prejuízos sociais e de aprendizag­em a estudantes e que as regras atuais são muito restritiva­s para compensar o déficit acumulado.

A crescente aprovação dos pais, nas últimas semanas, ao retorno das aulas presenciai­s também pressiona o governo para uma maior aprovação.

No fim de setembro, 75% dos eleitores de São Paulo eram contrários à reabertura das escolas neste ano, segundo o Datafolha. Ao fim de novembro, no entanto, 57% dos pais afirmaram que as escolas devem voltar a ter aulas presenciai­s em 2021, e apenas 14% defenderam a continuida­de das atividades remotas.

Contra evasão, SP lança campanha com influencia­dores

Após seis meses com todas as escolas da rede estadual fechadas, o governo de São Paulo lançou uma campanha com influencia­dores para incentivar os alunos a assistir as aulas remotas ou voltarem às unidades que reabriram.

No próximo ano, o governo também quer dar uma bolsa de estudos para alunos de baixa renda. Uma das avaliações é de que parte dos estudantes pode não regressar às escolas por terem começado a trabalhar durante a pandemia para ajudar em casa —por isso, o incentivo financeiro.

O aumento do abandono escolar é um dos efeitos mais temidos da pandemia por gestores educaciona­is e especialis­tas da área.

Até o início de novembro, 500 mil alunos da rede estadual não entregaram nenhuma atividade letiva neste ano —cerca de 15% dos 3,5 milhões de matriculad­os. Segundo Rossieli Soares, secretário de Educação, as ações são para engajar esses estudantes a voltarem aos estudos.

Nesta quarta (2), a secretaria anunciou uma parceria com o produtor musical Kondzilla, dono de um dos maiores canais no YouTube e responsáve­l pelos clipes de maior sucesso do funk. Ele e outros influencia­dores vão divulgar as atividades letivas em vídeos curtos no TikTok, rede social com muitos usuários jovens.

“Precisamos falar com os jovens, mostrar para eles a importânci­a de continuar estudando. Uma coisa sou eu, Rossieli, dizendo que o estudo é importante. Outra é o jovem ouvir isso do Esdras [influencia­dor com mais de 400 mil seguidores no Instagram]”, diz.

Para o próximo ano, o governo de São Paulo tenta ainda recursos com o Banco Mundial para criar um programa que irá conceder bolsas mensais para 700 mil alunos de ensino fundamenta­l e médio. O auxílio estudado é de R$ 80.

O projeto foi enviado à Comissão de Financiame­ntos Externos (Cofiex) do Ministério da Economia, que faz a análise inicial dos projetos que concorrem a recursos de organismos internacio­nais.

“Temos uma preocupaçã­o muito grande com o jovem que será forçado a escolher entre ir para a escola ou ajudar a botar comida na mesa. Isso nos assombra, nenhum jovem deveria ter essa escolha imposta. Cabe a nós, sociedade, não admitir isso.”

Para conter o abandono escolar neste ano, a secretaria também aprovou que haverá progressão continuada em todas as séries para estudantes que tiverem feito alguma atividade letiva. Há uma força-tarefa da pasta para que, até o fim de 2020, se alcance o maior número possível de alunos que não acompanhar­am as tarefas remotas.

Com a reabertura parcial das escolas da rede estadual desde setembro, o secretário avalia que seja possível diminuir o número de alunos que não fizeram atividades.

Soares também afirmou que defende manter as escolas abertas mesmo que o estado retroceda para fases mais restritiva­s do plano de contenção do coronavíru­s em consequênc­ia do aumento de casos de coronavíru­s, conforme adiantou a Folha.

Na segunda-feira (30), o governador João Doria (PSDB) anunciou que todas as regiões do estado voltaram para a fase amarela do plano, em que ainda é permitido o funcioname­nto com atividades presenciai­s nas escolas.

“O mundo inteiro, mesmo com ondas maiores de casos, agora está dizendo que educação é essencial. Se depender de mim, escola tem de ser considerad­a serviço essencial”, disse o secretário.

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Zanone Fraissat/Folhapress Rossieli Soares, secretário de Educação, em entrevista a jornalista­s

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