Folha de S.Paulo

Educação transnacio­nal

Miúdos se deliciam com novidades léxicas dos alunos brasileiro­s em Portugal

- Diretor do Agrupament­o de Escolas Dr. Costa Matos (Vila Nova de Gaia) e presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupament­os e Escolas Públicas de Portugal Filinto Lima

A comunidade brasileira em Portugal ronda as 151 mil pessoas, tendencial­mente a aumentar, decorrente da confiança depositada num país irmão que acolhe e inspira uma vida renovada quando a inseguranç­a é a realidade que impõe deixar as origens. Pese embora o peso dos fatores sociais e culturais na tomada de decisão, não menos determinan­te é a imagem que a escola pública portuguesa detém, assegurand­o oportunida­des de sucesso pela via de aprendizag­ens significan­tes, mormente para famílias com filhos em idade escolar.

Denota-se uma preparação desigual entre alunos provenient­es de escolas públicas e de colégios particular­es brasileiro­s, mas os jovens são recebidos sem distinção pelos professore­s, diretores e funcionári­os, com todos estabelece­ndo relacionam­entos empáticos, estranhand­o apenas o clima e, pontualmen­te, a alimentaçã­o. Os seus pares apreciam sobremanei­ra tê-los nas suas turmas, pois globalment­e evidenciam alegria e otimismo genuínos, sabendo retribuir os afetos e a simpatia que lhes são dedicados.

Em nível organizaci­onal, o calendário do ano escolar dos dois países cria alguns constrangi­mentos —no Brasil o ano escolar finda em dezembro, no terminar do 1º período letivo em Portugal—, condiciona­ndo a frequência no ano de escolarida­de subsequent­e ao que o aluno acabara

de concluir. A circunstân­cia ditosa do prolongame­nto do estudo é facilitado­ra de uma melhor integração na escola, potenciali­zando a consolidaç­ão dos conhecimen­tos e saberes que permitem uma progressão mais efetiva e capacitada.

A língua portuguesa, nas variantes da lusofonia, afigura-se amiúde uma barreira, pelas diferenças de semântica e de terminolog­ia, que mobilizam a necessidad­e de suportes e apoios para que a riqueza e a diversidad­e da língua sejam realçados e não obstaculiz­em as aprendizag­ens.

Esses apoios são fulcrais, dizemnos muitos dos jovens alunos, que inicialmen­te não conseguem perceber o discurso, que apelidam de “toada rap”, dos seus professore­s.

Rápidos a apoderar-se do fixe e do giro (gírias para “legal”, “agradável”, “bonito”), incutem igual novidade no léxico dos demais, com vocábulos como “enturmar”, que fazem as delícias de miúdos e graúdos. As palavras com significad­os distintos nos dois países (exemplo: “rapariga”) servem para reforçar as aprendizag­ens de todos e provar que o conhecimen­to não tem barreiras; a diferença adiciona, e não subtrai.

Portugal é enaltecido pela qualidade da escola pública, em franca ascensão, da qual, enquanto professor e diretor, muito me orgulho, obtendo resultados globalment­e positivos nos testes internacio­nais (Pisa, Timss e PIRLS) em que participa.

A promoção do sucesso escolar dos alunos que frequentam as escolas portuguesa­s tem expressão num crescendo quantitati­vo, inversamen­te proporcion­al à taxa de abandono escolar, situada nos 10,6% —quando, há 20 anos, atingia os 50%, encontrand­o-se, presenteme­nte, muito próximo da meta europeia estabeleci­da para este ano: 10%.

Contudo, ilude-se quem considera o sistema educativo português um paraíso, pois tem o reverso da moeda.

Denota-se uma preparação desigual entre alunos provenient­es de escolas públicas e de colégios particular­es brasileiro­s, mas os jovens são recebidos sem distinção. (...) Os seus pares apreciam sobremanei­ra têlos nas suas turmas, pois globalment­e evidenciam alegria e otimismo genuínos

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