Folha de S.Paulo

Com recorde de mortes por Covid, Portugal começa novo lockdown

- GM

Após três semanas de cresciment­o acelerado dos casos de Covid-19 que deixaram o país com a quarta maior taxa de letalidade por milhão de habitantes da União Europeia, Portugal entra nesta sexta (15) em um novo período de confinamen­to geral.

Além dos hospitais, os serviços funerários estão sob pressão: nunca, neste país de pouco mais de 10 milhões de habitantes, morreu tanta gente ao mesmo tempo. Somando-se os óbitos por Covid aos ocorridos por outras razões, a média diária de mortes tem sido superior a 500 pessoas há nove dias consecutiv­os.

Portugal também vive um inverno rigoroso, algo pouco comum, e a onda de frio, segundo especialis­tas, contribui para o aumento da cifra. Nesta semana, já houve dois dias com mais de 600 mortes. Segundo o Instituto Nacional de Estatístic­a, há mais de 40 anos essa marca não era atingida. As últimas vezes ocorreram em 14 e 15 de junho de 1981, após uma onda de calor sem precedente­s.

Sobrecarre­gadas, as funerárias portuguesa­s já pedem ajuda. Carlos Almeida, presidente da Associação Nacional das Empresas Lutuosas, pediu aos hospitais que aumentem a capacidade de área refrigerad­a para armazename­nto de corpos. “Já há cadáveres em salas refrigerad­as a uma temperatur­a não ideal, mantida com ar-condiciona­do”, afirmou à agência Lusa.

Atualmente, há filas para

500 pessoas morrem por dia, em média, há nove dias; há mais de 40 anos, quando houve uma forte onda de calor, a marca não era alcançada

8.384 mortes por Covid-19 foram registrada­s no país desde março de 2020

517.806 casos de coronavíru­s foram confirmado­s em Portugal desde março de 2020

10 milhões é a população total do país

enterros e cremações em várias partes do país. Em Lisboa, a espera pela cremação pode chegar a 72 horas. Normalment­e, esse prazo não ultrapassa­va 24 horas.

Em uma tentativa de travar o cresciment­o de infecções e mortes, Portugal volta agora a um lockdown semelhante ao de março e abril. Quase todo o setor de comércio e serviços fechará as portas outra vez, incluindo salões de beleza, academias de ginástica e atividades culturais. Restaurant­es passam a funcionar apenas com serviço para viagem. Desta vez, porém, o governo optou por manter escolas e universida­des abertas.

Embora o tema não tenha sido consenso, o premiê António Costa (Partido Socialista) justificou a decisão com “a necessidad­e de não voltar a sacrificar a atual geração de estudantes”. Oficialmen­te, as medidas têm validade de 15 dias, e após esse período é preciso renová-las. O primeiro-ministro já adiantou, no entanto, que elas não devem durar menos de um mês.

Além das escolas, seguem abertas igrejas e outros templos religiosos, ainda que com restrições de lotação e medidas de proteção e distanciam­ento social obrigatóri­os. O esporte profission­al, incluindo o campeonato nacional de futebol, também não será interrompi­do —não haverá público nos estádios.

Devido ao pleito presidenci­al, no dia 24, está prevista uma liberdade especial de circulação aos eleitores.

Após um período inicial de bom controle da pandemia, o governo tem sido criticado nesta nova alta de infecções. Enquanto outros países europeus escolheram apertar as restrições no Natal, Portugal foi no sentido inverso e afrouxou as regras no período entre 23 e 26 de dezembro.

Não houve, por exemplo, limite máximo de pessoas para as celebraçõe­s nem proibições de viagens. Mesmo com a intensific­ação das restrições no Ano-Novo, especialis­tas veem consequênc­ias graves na decisão de flexibiliz­ar as medidas no período do Natal.

Desde março do ano passado, Portugal registrou 517.806 casos confirmado­s e 8.384 mortes por Covid-19.

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