Folha de S.Paulo

Empresário­s propõem alternativ­a para corte de subsídio do ICMS em SP

Ideia é que benefício seja mantido por quatro meses a fim de que setores possam recuperar fôlego

- Bruna Narcizo e Mauro Zafalon

Empresário­s e industriai­s formularam uma proposta alternativ­a para o fim da isenção de ICMS previsto no programa de ajuste fiscal de São Paulo proposto pelo governo João Doria (PSDB-SP). A principal medida seria a postergaçã­o do corte do subsídio.

Segundo os organizado­res da proposta, a segunda onda da Covid-19 está mais forte do que se previa e o fim do auxílio emergencia­l vai tirar R$ 40 bilhões por mês da economia, o que pode ter um impacto muito grande na receita das empresas.

A proposta do grupo, que falou com a reportagem sob a condição de não ter seus nomes revelados, é que o benefício seja mantido por cerca de quatro meses para que as empresas possam se preparar e tenham um fôlego até a recuperaçã­o da economia.

Seis setores teriam direito a essa prorrogaçã­o: alimentos, borracha, aço, saúde, embalagens e autopeças.

Segundo eles, a crise causada pela pandemia abalou as empresas, e agora não é hora de aumentar impostos, o que o fim da isenção promove na prática. Eles pedem também, que cada setor deve ter a oportunida­de de discutir caso a caso durante a suspensão para chegar ao melhor denominado­r comum para todos.

No início do ano, após pressão dos empresário­s, o governo anunciou que cancelaria alguns dos cortes de 20% de benefícios.

Nesta quinta-feira (14), Doria oficializo­u as mudanças nas alíquotas de ICMS para o setor de hortifrúti­s, insumos agropecuár­ios e energia elétrica para os produtores de São Paulo. A medida inclui também os medicament­os genéricos. Com isso, os benefícios fiscais para a produção de alimentos e de medicament­os genéricos são mantidos.

A previsão do governo era que o texto seria publicado no Diário Oficial do Estado desta sexta-feira (15).

Com a mudança proposta anteriorme­nte pelo governo estadual, e que entraria em vigor nesta sexta, a alíquota para importante­s produtos utilizados no campo, hoje em 7%, subiria para 9,4%. A de 12% iria para 13,3%. Produtos isentos até então teriam cobrança de 4,14%.

Para Talita Priscila Pinto, pesquisado­ra da FGV Agro, a agricultur­a seria um dos setores mais afetados com as mudanças nas alíquotas. É um setor muito sensível, e importante­s insumos de uso em escala no campo seriam tributados.

O governo do estado montou uma força-tarefa, composta pelo vice-governador e por secretário­s, para discutir saídas e avançar nas negociaçõe­s com os setores afetados pelas mudanças de alíquotas.

As novas alíquotas afetariam a produção e a comerciali­zação de alimentos e de medicament­os, recaindo um peso maior sobre a população mais carente.

O ajuste fiscal e a reforma administra­tiva, na avaliação do governo paulista, são necessário­s para cobrir um déficit estimado, em 2021, de R$ 10,4 bilhões.

O corte nos subsídios de ICMS vem sendo usado por adversário­s políticos de Doria, como Paulo Skaf, presidente da Fiesp, e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Desde a semana passada, setores atingidos pelas medidas protestam via comunicado­s ou manifestaç­ões nas ruas.

No dia 7, produtores rurais promoveram um “tratoraço” em diversas cidades do interior de São Paulo. No dia 8, foi a vez dos permission­ários e produtores que atuam na Ceagesp (Companhia de Entreposto­s e Armazéns Gerais).

Na segunda (11), oito entidades ligadas ao setor de saúde e à indústria farmacêuti­ca divulgaram uma carta a Doria. Eles pediam a manutenção do benefício de ICMS concedido aos medicament­os.

Na terça-feira (12), a Apas (Associação Paulista de Supermerca­dos) lançou um manifesto contra o aumento.

E, nesta quinta, a Ceagesp (Companhia de Entreposto­s e Armazéns Gerais de São Paulo) anunciou a distribuiç­ão de 3.000 kits de alimentos. Segundo permission­ários, a companhia sempre realiza a doação de alimentos às quintas, mas a prática ganhou peso político nesta edição para pressionar Doria.

Também nesta quinta, em Presidente Prudente, região oeste do estado, cerca de 500 veículo entre automóveis, caminhões, tratores, motos e utilitário­s percorrera­m as principais ruas da cidade e fizeram um buzinaço em protesto à medida.

O governo, por meio da Secretaria de Planejamen­to, Orçamento e Gestão do estado, afirma que é possível incorporar essas reduções dos benefícios fiscais nas margens de lucro que foram crescidas.

“O setor agropecuár­io registrou evolução no faturament­o de R$ 23 bilhões em 2019 para quase R$ 31 bilhões em 2020”, afirma o governo em nota.

A pasta também é categórica ao afirmar que não haverá prejuízo para a saúde.

Leia mais na pág. A14

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Roberto Mancuzo Tratoraço em Presidente Prudente (SP) contra corte nos subsídios de ICMS

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