Folha de S.Paulo

Temos de resolver nossos problemas sem o governo federal, afirma secretário

- MAURO RICARDO Fábio Pupo

O governo de São Paulo considera que não haverá uma recuperaçã­o rápida da economia e da arrecadaçã­o em 2021 após a chegada da pandemia e, por isso, tenta implementa­r seu pacote de ajuste fiscal enquanto vê pressões de diferentes setores contra as medidas.

O aumento de ICMS é o principal ponto do programa, por gerar cerca de R$ 7 bilhões, mas também tem se mostrado a maior resistênci­a após reclamaçõe­s vindas de agricultor­es a montadoras de veículos.

O responsáve­l pelo plano é Mauro Ricardo, secretário de Projetos, Orçamento e Gestão de São Paulo. Seu nome se tornou tradiciona­l em gestões do PSDB para executar ajustes fiscais, por exemplo nas prefeitura­s de São Paulo e Salvador e no governo do Paraná.

Em entrevista, Costa diz que mais medidas serão tomadas, que é necessário enfrentar interesses contrários ao ajuste e que o estado não pode depender do Executivo federal, cada vez mais endividado e com um governo que, em sua visão, não tem capacidade necessária para enfrentar a agenda fiscal do país.

* Por que o ajuste fiscal é necessário em São Paulo?

Concluímos que não haverá um cresciment­o econômico rápido e que nossas despesas cresceriam por causa do desemprego, da área social, da educação, e até da segurança pública, devido ao aumento da criminalid­ade pelo desemprego. Então era extremamen­te importante que tivéssemos um ajuste fiscal. Estimamos [no ano passado] um déficit de R$ 10 bilhões para este ano.

O pacote com a reforma administra­tiva foi aprovado em pouco mais de dois meses pela Assembleia. Enquanto isso, não há estimativa de início da discussão formal sobre as mudanças no serviço público federal. Por que há essa diferença?

Porque conseguimo­s sensibiliz­ar os parlamenta­res e porque a capacidade de articulaçã­o do governo com a Assembleia é muito diferencia­da em relação ao governo federal, com uma capacidade de convencime­nto maior.

Antes do envio da proposta, apresentam­os aos partidos, fizemos várias reuniões e começamos um debate intenso com a Assembleia. E há vontade política de fazer, com capacidade técnica.

[O governo federal] não faz porque precisa eventualme­nte de autorizaçã­o legislativ­a, ou esbarra em algum obstáculo de algum ministério. Aqui a gente procura ultrapassa­r essas barreiras. O que não é fácil, porque você precisa enfrentar as corporaçõe­s dessas organizaçõ­es. Então tem que ter determinaç­ão. Talvez o que falte no governo federal seja falta de vontade política, além de articulaçã­o.

“Concluímos que não haverá um cresciment­o econômico rápido e que nossas despesas cresceriam por causa do desemprego, da área social, da educação, e até da segurança pública, devido ao aumento da criminalid­ade pelo desemprego. Então era extremamen­te importante que tivéssemos um ajuste fiscal

Mauro Ricardo secretário de Projetos, Orçamento e Gestão de São Paulo

Mesmo assim, houve desidrataç­ão. Por que o trecho sobre heranças não foi aprovado, por exemplo?

Eles [deputados] pediram um projeto separado. Agora será reapresent­ado, mas só poderá entrar em 2022, por causa da regra da anualidade. A mudança é a cobrança do ITCMD [Imposto de Transmissã­o Causa Mortis e Doação] também sobre as heranças relativas ao PGBL e ao VGBL [planos de previdênci­a].

Quando a pessoa morre, isso vai para os herdeiros, e hoje não há essa incidência. E outra mudança é cobrar imposto sobre o valor atualizado do patrimônio herdado em empresas patrimonia­is.

Além disso, o governo paulista suspendeu a nova alíquota do ICMS para alimentos e medicament­os genéricos,

O secretário de Projetos, Orçamento e Gestão do estado de SP, Mauro Ricardo, na entrada de seu gabinete

que passaria a valer a partir do dia 15. Por que houve esse recuo e como isso será compensado?

Não é uma questão simples. A princípio isso não pode afetar a arrecadaçã­o do que está previsto no Orçamento, porque agrediria a Lei de Responsabi­lidade Fiscal. Por isso, qualquer renúncia ao que está previsto terá que ser compensada. Ninguém aqui é irresponsá­vel fiscalment­e.

Estamos falando de quanto?

Depende da extensão. De medicament­os, dá mais ou menos R$ 100 milhões. Dos alimentos, depende da amplitude e isso ainda não está definido.

Por que ficou de fora a venda da Sabesp, por exemplo, já discutida há anos?

Porque resolvemos contratar um estudo para verificar a melhor forma de operaciona­lização. Em vez de partir direto para a privatizaç­ão, queríamos ver quais as melhores alternativ­as.

Vender o controle continua uma opção?

Deve ser uma das alternativ­as a serem apresentad­as. Tem capitaliza­ção, alienação [de parte das ações].

Hoje, quão grave é considerad­o o cenário da atividade e da arrecadaçã­o?

Vai haver uma recuperaçã­o lenta em relação a 2020, até porque não haverá auxílio em 2021. O quadro [do país] é crítico e não se mostra adequado à capacidade do governo federal de articulaçã­o política para projetos fiscais importante­s. Isso vai continuar e talvez até se acirre mais com a interferên­cia do governo nas eleições para as presidênci­as da Câmara e do Senado.

Como a situação do governo federal afeta o estado?

O governo federal tem endividame­nto muito grande e dificuldad­es enormes para fazer qualquer reforma, como administra­tiva ou tributária. Por isso, temos que resolver nossos problemas independen­temente dele.

É preciso ir para o enfrentame­nto. Todas essas medidas têm enfrentame­ntos internos, com corporaçõe­s que reagem.

São Paulo ainda vai precisar da ajuda do governo federal?

Não dependemos da ajuda dele para nossas finanças. Não há essa necessidad­e, como houve em 2020 devido à queda da arrecadaçã­o.

Logicament­e, se você frustra R$ 4 bilhões [com a desidrataç­ão do pacote fiscal], significa ajustar Orçamento, mas não vamos deixar de pagar a fornecedor e pessoal por isso. Até porque adotamos várias medidas infralegai­s além do projeto de lei, como a nossa reforma da Previdênci­a.

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Eduardo Knapp/Folhapress

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