Folha de S.Paulo

MP deve corrigir reajuste do mínimo de R$ 1.100 para R$ 1.102

- Vinicius Torres Freire O colunista está em férias

O Ministério da Economia avalia editar uma medida provisória para fazer um novo reajuste do salário mínimo, que deve passar de R$ 1.100 para R$ 1.102. O objetivo é fazer uma correção residual da inflação de 2020.

Membros da pasta que participam da discussão afirmam que o tema ainda está em debate, e a decisão final deve ser tomada até o fim de janeiro —reajustand­o o valor do piso salarial a partir de fevereiro. A tendência é que seja adotado o mesmo procedimen­to do ano passado.

Se for oficializa­do, o aumento deve gerar um custo adicional de R$ 702 milhões nas contas públicas, pressionan­do ainda mais o teto de gastos, regra que limita o cresciment­o das despesas do governo à variação da inflação.

Em janeiro de 2020, após reajustar o piso nacional de R$ 998 para R$ 1.039, o presidente Jair Bolsonaro editou mais uma MP para promover um novo aumento consideran­do o índice fechado da inflação de 2019. Com a medida, o valor passou para R$ 1.045 a partir de fevereiro de 2020.

Neste ano, o governo está lidando com a mesma questão. O salário mínimo é corrigido pelo INPC. Ao anunciar, antes da virada do ano, o reajuste de R$ 1.045 para R$ 1.100, a equipe econômica considerou a inflação oficial de janeiro a novembro de 2020, somada à estimativa para o índice em dezembro.

Nesta semana, o IBGE apresentou o INPC fechado de 2020, de janeiro a dezembro, que ficou em 5,45%. O patamar é mais alto que os 5,26% usados para corrigir o mínimo.

A Constituiç­ão determina que o mínimo deve garantir a manutenção do poder de compra do trabalhado­r. Por isso, ao elevar o piso nacional para R$ 1.100, a equipe econômica informou que estava usando uma estimativa da inflação e que o valor final só seria conhecido após a divulgação do INPC do ano pelo IBGE.

Com o número atualizado, o valor do salário mínimo deveria ser de R$ 1.102. O Ministério da Economia não confirma o valor oficialmen­te.

O reajuste do piso nacional gera impacto nas contas públicas porque é atrelado a aposentado­rias e outros benefícios, como o BPC (assistênci­a social a idosos e pessoas com deficiênci­a carentes). Para cada R$ 1 de reajuste em 2021, o custo aos cofres públicos é elevado em R$ 351,1 milhões.

O aumento de R$ 1.045 para R$ 1.100 já provocaria um aumento direto de gastos do governo federal no valor de R$ 19,3 bilhões. Agora, com o novo reajuste, deve haver ainda um impacto adicional de R$ 702 milhões.

As contas do governo federal já operam no limite da regra do teto. Para não desrespeit­ar a norma, o Ministério da Economia deve anunciar em março um corte de verba de ministério­s, que pode chegar a R$ 20 bilhões.

Pressionad­o por um aumento dos gastos com benefícios previdenci­ários e de pessoal, o Orçamento das pastas já opera em nível considerad­o baixo. Novos cortes pelo governo podem gerar dificuldad­es para o funcioname­nto da máquina pública.

Por isso, além de um tesourada nos gastos discricion­ários (que não são obrigatóri­os), a equipe econômica refaz as contas de grandes despesas, como da Previdênci­a. Assim, deve ser possível aliviar o corte no grupo discricion­ário, que reúne o custeio da máquina pública e investimen­tos.

O repique no INPC também tem efeito em aposentado­rias e benefícios acima do mínimo. O INSS já corrigiu o teto pelo índice de 5,45%, de R$ 6.101,06 para R$ 6.433,57. Essa é uma pressão extra no Orçamento.

A aceleração da inflação fez as previsões para o valor do mínimo em 2021 sofrerem forte variação ao longo do ano passado. Em abril, a estimativa era que o piso salarial fosse de R$ 1.045 para R$ 1.079 em 2021. Em agosto, a previsão do Ministério da Economia era que subisse para R$ 1.067.

Em dezembro, o governo elevou a projeção para R$ 1.088, ainda insuficien­te para cobrir a alta nos preços. Bolsonaro anunciou o mínimo de R$ 1.100 a partir de janeiro, o que também acabou não compensand­o totalmente a inflação de 2020.

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