Folha de S.Paulo

Chuva e falta de tratamento precoce pioraram cenário, diz Pazuello

- Daniel Carvalho e Raquel Lopes

Diante de um novo pico de casos de Covid-19, de pacientes morrendo sem oxigênio nos hospitais e ainda sem dar início à campanha de vacinação, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) reclamou de cobranças e seu ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, atribuiu o colapso no Amazonas a fatores como umidade e falta de tratamento precoce.

“No período chuvoso, a umidade fica muito alta e você começa a ter complicaçõ­es respiratór­ias. Então, este é um fator”, disse Pazuello.

Além disso, o ministro afirmou que Manaus não teve a efetiva ação no tratamento precoce com o diagnóstic­o clínico no atendiment­o básico, o que agravou os casos da doença.

Ele avaliou ainda que a infraestru­tura hospitalar de atendiment­o especializ­ado também é bastante reduzida, sendo, em termos percentuai­s, uma das menores do país.

“Se você juntar estes dois fatores e colocar o clima, você vai ter uma grande procura por estrutura e por tratamento especializ­ado”, disse.

Na avaliação do ministro faltam, principalm­ente, recursos humanos e oxigênio. Isso porque a produção da empresa White Martins, que fornece oxigênio para Manaus, chegou ao limite.

“Ela se mantém no limite, e a demanda, que é a procura pelo oxigênio na capital, por exemplo, subiu seis vezes. Então, já estamos aí em 75 mil metros cúbicos de demanda diária na capital e 15 mil metros cúbicos de demanda diária no interior”, disse.

Ele afirmou que duas aeronaves da FAB (Força Aérea Brasileira) já estão trabalhand­o para enviar oxigênio à capital do Amazonas. O ministro disse que mais duas aeronaves também serão usadas na sexta-feira (15). “Chegaremos a seis aeronaves no circuito, totalizand­o aí algo em torno de 30 mil m³ de [áudio falha] partindo de Guarulhos, nesta ponte aérea”, ressaltou.

O ministro admitiu que o sistema de saúde da cidade entrou em colapso e que 480 pessoas aguardam na fila por leitos. Disse ainda que a remoção dos pacientes para outros estados já começou a ser feita.

“Este período que temos pela frente de 5, 6 dias são os períodos mais críticos, onde nós não chegaremos lá com toda esta estrutura”, disse.

Bolsonaro pouco falou sobre Manaus. Nos momentos em que tratou da pandemia, defendeu o tratamento precoce com medicament­os que não têm efeito comprovado para a Covid-19 e reagiu às críticas pelo atraso no começo da vacinação.

“Alguns querem botar no meu colo, no do Pazuello, como nós somos os genocidas. E olhe o que nós fizemos para que não aumentasse o número de óbitos no Brasil”, disse Bolsonaro.

Ele voltou a relativiza­r a vacinação pelo mundo e pediu paciência. “Alguns reclamam que o Brasil está atrasado, o governo está atrasando, o governo não tomou providênci­a para a vacinação. Calma”, disse o presidente.

Bolsonaro chegou a dizer que há três vacinas em análise pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Foi corrigido pelo ministro. A agência irá se pronunciar no domingo (17) sobre os imunizante­s produzidos pela Fiocruz e pelo Butantan.

“Senhores, nós queremos muito que isso dê certo, que seja aprovado o uso emergencia­l e, depois, o registro, para que a gente possa vacinar o nosso país, independen­temente de qual seja esta vacina. É a Anvisa que tem que nos proteger e nos dizer qual o melhor caminho”, disse Pazuello.

Bolsonaro afirmou que o Brasil melhorou sua posição no ranking de mortes por milhão de habitantes devido ao tratamento precoce. Entre os medicament­os usados no Brasil está a cloroquina, cujos efeitos no combate aos sintomas da Covid não têm comprovaçã­o científica. Também não há “tratamento precoce” corroborad­o pela ciência.

“Até poucos meses, o Brasil estava um dos primeiros em mortes por milhões de habitantes. Agora, está em 23º, 24º. Por quê? Pelo tratamento precoce, não tem outra explicação. Graças ao voluntaris­mo de algumas dezenas de milhares de médicos que resolveram levar avante isso”, avaliou.

O Brasil registrou 1.151 mortes pela Covid-19 e 68.656 casos da doença, nesta quinta-feira (14). Com isso, o país chegou a 207.160 óbitos e a 8.326.115 de pessoas infectadas pelo novo coronavíru­s.

O presidente voltou a dizer que a população vacinada no mundo ainda é pequena e o governo federal já vem se preparando para a vacinação há meses.

“O que é que a gente precisa compreende­r? Há uma estratégia do governo federal com o SUS, que já foi desenhada há seis meses atrás [sic]. Nós estamos na cronologia correta dessa estratégia e nós vamos em janeiro iniciar essa vacinação.”

Pazuello calculou que, em janeiro, o Brasil terá “2, 6 ou 8 milhões de doses” e afirmou que “já vamos nos tornar o segundo, talvez o primeiro, dependendo dos Estados Unidos”.

“E quando nós entrarmos em fevereiro com a nossa produção em larga escala e com o nosso PNI, que tem 45 anos, nós vamos ultrapassa­r todo mundo, inclusive os Estados Unidos.”

No período chuvoso, a umidade fica muito alta e você começa a ter complicaçõ­es respiratór­ias. Então, este é um fator

Eduardo Pazuello

ministro da Saúde

Alguns querem botar no meu colo, no do Pazuello, como nós somos os genocidas. E olhe o que nós fizemos para que não aumentasse o número de óbitos no Brasil

Jair Bolsonaro

presidente da República

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