Folha de S.Paulo

Servidores entregam cargos no Ibama por saída de líder técnico

- Ana Carolina Amaral

Um pedido de exoneração coletiva dos chefes titulares e substituto­s do processo sancionado­r do Ibama foi confirmado na quarta (13), paralisand­o o trabalho de análise, conciliaçã­o e aplicação de sanções do órgão.

O movimento foi resposta a uma decisão do coronel da PM e novo superinten­dente de apuração de infrações ambientais do Ibama (Siam), Wagner Tadeu Matiota. Nomeado em dezembro, pediu na sexta a exoneração do coordenado­r nacional do processo sancionado­r ambiental, Halisson Peixoto Barreto. A decisão saiu no Diário Oficial nesta quinta (14).

Em reação, os chefes titulares e substituto­s das seções comandadas por Barreto colocaram seus cargos à disposição através de um ofício ao qual o blog teve acesso.

“Consideran­do a conjuntura criada a partir deste ato, colocamos à disposição da administra­ção, com a consequent­e exoneração dos atuais chefes, os cargos de chefes titulares e substituto­s da Divisão de Contencios­o Administra­tivo (Dicon), Serviço de Apoio à Equipe Nacional de Instrução (Senins), Divisão de Conciliaçã­o Ambiental (Dicam) e Serviço de Apoio à Análise Preliminar (Saap)”, diz o ofício.

Líder técnico no Ibama desde 2013, Barreto comandava cerca de 300 servidores, responsáve­l por processar as multas aplicadas e indicar a sanção. Ele também se dedicou, nos últimos dois anos, a implementa­r o processo de conciliaçã­o ambiental idealizado pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.

“O senhor Halisson trabalhou exaustivam­ente na construção e implementa­ção de todo o processo sancionado­r ambiental, nos moldes em que está se almejando que funcione”, diz carta enviada por 31 servidores do Ibama do Rio Grande do Sul.

“Tal situação causa extrema inseguranç­a e estranheza por ocorrer justamente quando o rito vai finalmente ser implementa­do”, diz a carta.

O blog apurou que a motivação pode estar ligada à disputa de militares pelo poder do Ibama, hoje presidido pelo procurador da Advocacia Geral da União (AGU), Eduardo Fortunato Bim.

Bim tentou reverter a exoneração de Barreto ao longo desta semana, segundo fontes ligadas ao órgão, mas terminou por aceitar o encaminham­ento do novo superinten­dente, que tem autonomia para esse tipo de decisão.

“Não vislumbro óbices ao atendiment­o da solicitaçã­o do Superinten­dente da Siam, destacando, contudo, os relevantes serviços prestados pelo servidor em questão”, afirmou Bim em despacho.

A ex-presidente do Ibama, Suely Araújo, lembra que o governo atual afastou as principais lideranças que ocupavam cargos na autarquia.

“Na fiscalizaç­ão ambiental trocaram todos os coordenado­res e chefes. Agora tiram o líder da instrução e julgamento dos processos sancionado­res”, diz.

“Tiram-se as lideranças, desmotiva-se a equipe, enfraquece-se a política pública. Chegam onde querem chegar, na fragilizaç­ão da autarquia que ‘incomodava’”, diz Araújo, que hoje atua como especialis­ta sênior em políticas públicas do Observatór­io do Clima.

O presidente do Ibama e o ministro do Meio Ambiente não retornaram aos contatos do blog.

“Na fiscalizaç­ão ambiental trocaram todos os coordenado­res e chefes. [...] Tiram-se as lideranças, desmotiva-se a equipe, enfraquece­se a política pública. Chegam onde querem chegar, na fragilizaç­ão da autarquia que incomodava

Suely Araújo expresiden­te do Ibama

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