Folha de S.Paulo

A eternidade em 17 dias

Final da Libertador­es dependerá de muitas coisas nesse intervalo

- Paulo Vinicius Coelho Jornalista, autor de “Escola Brasileira de Futebol”, cobriu seis Copas e oito finais de Champions

Da noite de quarta-feira (13), quando o Santos atropelou o Boca Junior se venceu por 3 a 0, até atarde de sábado (30), final da Libertador­es, o intervalo será de 17 dias.

Foi exatamente o número mágico de datas de treino para o Corinthian­s de Vagner Mancini, entre as vitórias contra Botafogo (2 a 0) e Fluminense (5 a 0).

A diferença é que os próximos 17 dias terão cinco jogos para o Palmeiras e quatro para o Santos. A maratona verde começa na noite desta sexta (15), contra o Grêmio. Depois, clássico contra o Corinthian­s, visitas ao Flamengo e ao Ceará e encontro com o Vasco para recuperar partida da primeira rodada.

O Santos visita o Botafogo, recebe Fortaleza e Goiás e viaja a Belo Horizonte para enfrentar o Atlético-MG, de Jorge Sampaoli, antes de pisar no Maracanã.

A quantidade aumenta as chances de lesão e, consequent­emente, a imprevisib­ilidade da finalíssim­a da Libertador­es. Sem contar o risco de algum craque contrair Covid-19, como o goleiro santista John, desfalque contra o Boca Juniors por causa da doença.

O Santos parece chegar mais forte, porque jogou bem duas vezes contra o Grêmio, duas contra o Boca, o clássico contra o São Paulo e eliminou três campeões da Libertador­es nos mata-matas.

O Palmeiras jogou mal contra Internacio­nal, Bragantino, Libertad, América-MG, River Plate... Verdade que foi muito forte na Argentina, contra o River, mas errou a estratégia e teve atuação de filme de terror na segunda semifinal.

Lembra um pouco a Copa do Brasil de 2015, quando o Santos estava melhor e seu próprio presidente, Modesto Roma, pediu o adiamento das finais por duas semanas. O Palmeiras se concentrou exclusivam­ente na decisão e foi campeão.

Desta vez, Abel Ferreira não pensa em um, mas em três torneios. O sucesso da temporada é inegável: campeão paulista, finalista da Libertador­es e Copa do Brasil e só depende de si para ser campeão brasileiro.

Só São Paulo, Internacio­nal e Palmeiras podem sonhar com o troféu nacional, se vencerem todas as suas partidas, sem esperar por tropeço de ninguém.

A temporada extraordin­ária pode ser analisada como fracasso retumbante se perder para o Santos, não vencer o Grêmio e terminar em quinto lugar no Brasileiro.

Por outro lado, o Palmeiras tem chance de repetir as cinco coroas de 1950-1951 e as cinco conquistas de 1972, anos em que venceu todas as competiçõe­s que disputou.

Para alcançar tudo isso, seu adversário será o time mais impression­ante da Libertador­es.

O Santos perdeu Sampaoli, Sasha, Éverson, tinha um presidente confuso, que irritou o vestiário ao cortar 70% dos pagamentos durante a pandemia, manteve os salários atrasados e decidiu contratar Cuca.

Há dois anos, o técnico finalista da Libertador­es dizia que o Santos teria de melhorar muito, depois de perder as oitavas de final contra o Independie­nte por inscrição irregular de Carlos Sánchez. Foi a única vez do Santos fora das quartas de final do maior torneio sul-americano de clubes desde 1984.

Os santistas levarão ao Maracanã a tradição que têm na Libertador­es. Em agosto, quando foi consultado sobre voltar a um clube tão cheio de problemas, Cuca respondeu: “Eu estou com muita vontade. Conheço todos os problemas e vou fazer tudo dar certo, porque está na hora de voltar a trabalhar”.

O que se pede aos técnicos brasileiro­s, inquietude, Cuca sempre teve. Por isso, pode ganhar sua segunda Libertador­es, a quarta do Santos.

Mas a final de 30 de janeiro dependerá de muitas coisas nesse intervalo de 17 dias.

| dom. Juca Kfouri, Tostão | seg. Juca Kfouri, Paulo Vinicius Coelho | ter. Renata Mendonça | qua. Tostão | qui. Juca Kfouri | sex. Paulo Vinicius Coelho | sáb. Katia Rubio

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil