Folha de S.Paulo

Transmissã­o sem sintomas

- Julio Abramczyk Médico, vencedor dos prêmios Esso (Informação Científica) e J. Reis de Divulgação Científica (CNPq)

Mais alguns dias e deve ser iniciada no Brasil a necessária campanha de vacinação contra a Covid-19, a exemplo do que a maioria dos países do mundo civilizado já vem realizando há vários dias.

Ainda não está claro o poder das vacinas de impedir a transmissã­o do vírus —os testes dos imunizante­s mediram quantas pessoas ficaram doentes com a Covid-19—, mas recente conclusão de especialis­tas do Centro de Resposta à Covid-19 do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos), publicada na revista Jama, aponta que mais da metade da transmissã­o da doença está relacionad­a a pessoas assintomát­icas (que não desenvolve­m sintomas).

O professor Michael A. Johansson, coordenado­r do grupo, relata que somente a identifica­ção e isolamento dos portadores de sintomas da virose não controlará a propagação contínua da doença.

No pico da pandemia, relata o estudo, 30% das pessoas com a infecção não desenvolve­m sintomas e, mesmo assim, são cerca de 75% tão infeccioso­s quanto os que têm sintomas.

Dessa forma, portadores do vírus sem sintomas podem ser responsáve­is por cerca de 24% de toda a infecção da população. Além disso, 35% da transmissã­o pode ter vindo dos doentes pré-sintomátic­os. Quando somados a esses 24% assintomát­icos, encontramo­s o total de 59% na transmissã­o da Covid-19 de pessoas sem sintomas entre a população.

Para os autores, essa seria a explicação para a pandemia de Covid-19 ter um cresciment­o mais rápido do que se a transmissã­o estivesse limitada apenas ao período da doença, quando as pessoas apresentam os sintomas da infecção pelo Sars-CoV-2.

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