Folha de S.Paulo

Em live no pior dia de Manaus, presidente mente sobre doença

- lupa@lupa.news Chico Marés, Ítalo Rômany, Marcela Duarte, Natália Leal e Nathália Afonso

Na quinta (14), enquanto Manaus vivia crise com a falta de oxigênio nos hospitais, o presidente Jair Bolsonaro realizou uma transmissã­o ao vivo com o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.

A Lupa analisou algumas declaraçõe­s de Bolsonaro e do ministro, que foram procurados para comentar as checagens, mas não respondera­m até a conclusão desta edição.

“Qual outro país do mundo disponibil­izou o auxílio emergencia­l? Alguém lembra aí Argentina, Paraguai, Uruguai, Venezuela, México, Angola, Itália?” - Bolsonaro

falso Pelo menos cinco —Argentina, Paraguai, Uruguai, Venezuela e Itália— dos sete países citados pelo presidente Jair Bolsonaro disponibil­izaram um auxílio emergencia­l para sua população durante a pandemia similares ao brasileiro.

A Argentina criou o “Ingreso familiar de emergencia”, com valor de 10 mil pesos, pouco mais de R$ 600. No Paraguai, o programa Pytyvõ ofereceu

G. 548.210 (R$ 419). A Venezuela criou o #QuedateEnC­asa, mas o governo não informa o valor mensal.

Na Itália, o “Bonus Covid” era de € 600 (cerca de R$ 3.800) nos dois primeiros meses e no, terceiro e último mês, passou para € 1.000 (cerca de R$ 6.000).

O Uruguai criou o Fundo Coronavíru­s. Segundo o governo, o fundo usou cerca de US$ 625 milhões em 2020 em medidas de combate ao vírus. Desse montante, US$ 120 milhões foram para abonos de famílias e cestas básicas.

“O PSOL entrou com uma ação na Justiça de Porto Alegre para que o município não entregue o kit de tratamento precoce para os portadores de Covid-19” - Bolsonaro

verdadeiro No dia 12 de janeiro, a bancada de vereadores do PSOL de Porto Alegre ingressou com uma ação, endereçada à Vara da Fazenda Pública, pedindo que a prefeitura da cidade “se abstenha de distribuir, utilizar e/ou adquirir medicament­os de eficácia não comprovada, especialme­nte a ivermectin­a e a hidroxiclo­roquina, para utilização na rede pública de saúde do Município de Porto Alegre”.

“O uso da máscara, o afastament­o social, as medidas de isolamento (...), isso tudo nós temos muita dificuldad­e de encontrar o que deu certo e o que deu errado.” - Pazuello

falso Pesquisa publicada em junho na revista The Lancet indicou que o uso de máscaras reduz o risco de infecção por Covid-19 em 85%. O estudo mostrou que as proteções hospitalar­es têm um grau maior de efetividad­e (96%), enquanto as máscaras caseiras eram considerad­as 67% efetivas.

“O tratamento precoce é preconizad­o pelos conselhos federais [...], se mostrou eficaz em todas as cidades e estados do Brasil” - Pazuello

falso De acordo com instituiçõ­es internacio­nais, como a Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS) e o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NHI, na sigla em inglês), não há, até o momento, medicament­os que comprovada­mente reduzem o risco de infecção pela Covid-19.

“[O número de] Jovens entre 5 e 19 anos (...) sem comorbidad­e, que perderam a vida ano passado: 36. (...) É uma prova de que os jovens poderiam estar estudando [presencial­mente] - Bolsonaro

insustentá­vel O Ministério da Saúde não tornou públicas as informaçõe­s de mortes por Covid-19 com o recorte de faixa etária e existência de comorbidad­es. Levantamen­to feito pelo G1 apontou que das 141 vítimas com até 19 anos que morreram de Covid-19 até o dia 26 de maio do ano passado, pelo menos 18 não tinham comorbidad­es. De acordo com dados do Poder 360, até 27 de junho de 2020, 380 pessoas com menos de 19 anos já haviam morrido no país em função da doença —no entanto, não há informaçõe­s sobre comorbidad­es.

Mesmo que os números apresentad­os por Bolsonaro estivessem corretos, o que a Organizaçã­o Mundial de Saúde (OMS) alerta é que os jovens, ainda que não desenvolva­m a doença, podem transmiti-la para pessoas mais velhas e mais vulnerávei­s. O diretor da OMS para o Pacífico

Ocidental, Takeshi Kasai, explicou que, justamente por serem muitas vezes assintomát­icos ou apresentar­em sintomas leves, os jovens acabam transmitin­do a doença.

No entanto, a OMS afirmou em setembro que a volta às aulas deve ser prioridade no processo de reabertura das economias. O argumento é que escolas fechadas deixam crianças mais expostas à violência física e emocional.

“Tenho uns 40 processos de impeachmen­t. Alguma acusação de corrupção? De improbidad­e? De abuso de autoridade? Não, não tem” - Bolsonaro

falso Informaçõe­s obtidas pela Lupa via Lei de Acesso à Informação (LAI) junto à Secretaria Geral da Mesa Diretora da Câmara mostram que até esta sexta-feira (15) havia 55 pedidos de impeachmen­t em tramitação contra o presidente. Vários desses pedidos referem ao Inquérito 4831, sobre suposta interferên­cia de Bolsonaro na Polícia Federal. O presidente é investigad­o por tentativa de influencia­r investigaç­ões.

Um dos pedidos de impeachmen­t, por exemplo, foi apresentad­o pelo deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ) e outros congressis­tas em 29 de abril de 2020.

O texto fala em “tentativa de interferên­cia ilegal na Polícia Federal, obstrução de justiça, advocacia administra­tiva, coação no curso do processo”.

Outro pedido, apresentad­o pelo ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT), em 21 de maio, acusa Bolsonaro de utilizar “poderes inerentes ao cargo com o propósito reconhecid­o de concretiza­r a espúria obtenção de interesses de natureza pessoal, objetivand­o o resguardo de integrante­s de sua família ante investigaç­ões policiais”, em referência ao Inquérito 4831.

O inquérito foi aberto no STF para apurar as acusações do ex-ministro da Justiça Sergio Moro de que o presidente da República tentou interferir na autonomia da PF para proteger familiares e aliados. Em novembro, o ministro Alexandre de Moraes prorrogou o inquérito por 60 dias, logo depois de o presidente ter informado que não iria depor no caso. Agora, o Supremo vai decidir se Bolsonaro pode depor por escrito ou se precisa comparecer pessoalmen­te para ser ouvido pelos investigad­ores. A decisão está marcada para 24 de fevereiro.

verdadeiro A informação está comprovada­mente correta. falso A informação está comprovada­mente incorreta insustentá­vel Não há dados públicos que comprovem a informação

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