Folha de S.Paulo

SP mantém ICMS menor só em carne de grandes redes

Regra, em vigor desde esta sexta (15), exclui empresas do Simples de redução de alíquota

- Fernanda Brigatti

A venda de carnes bovinas, suínas e de aves para micro e pequenos açougues e supermerca­dos ficou mais cara a partir desta sexta-feira (15). O governo João Doria (PSDB) manteve os decretos publicados no passado e não revogou a mudança na cobrança de ICMS para as carnes.

Com isso, somente as negociaçõe­s feitas com grandes redes manterão a redução na base de cálculo do imposto estadual que resulta em uma alíquota de 7%. Decreto publicado em outubro de 2020 e que começou a vigorar no dia 15 exclui dessa redução as empresas do Simples Nacional.

“Tínhamos a expectativ­a de que isso seria revogado pelo caráter manifestam­ente injusto, pois mantém a redução apenas para grandes redes”, diz o advogado tributaris­ta Igor Mauler, da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportador­as de Carnes). A alíquota para as empresas do Simples passou a ser de 13,3%.

Nesta sexta, o governo paulista cumpriu parte do que prometera na semana anterior. Quatro decretos publicados no Diário Oficial do Estado revogaram os aumentos de alíquotas para produtos hortifruti­granjeiros, insumos agropecuár­ios, energia elétrica rural e medicament­os genéricos.

À Folha o secretário de Agricultur­a, Gustavo Junqueira, disse que as alíquotas de imposto estadual de carnes e leite seriam mantidas nos patamares válidos até o ano passado.

“O que foi definido é que tudo o que estiver relacionad­o a alimentos será revogado. Hortifrúti, os ovos, as carnes e aves, toda parte do leite, tudo terá sua tributação no modelo anterior à lei. Essa foi a orientação do governador”, afirmou o secretário após Doria prometer a revogação.

Não foi, no entanto, o que aconteceu. “Dos decretos que saíram, não há impactos novos na operação de carnes”, diz a advogada Renata Bardella, do schneider, pugliese.

No setor produtivo, ainda há a expectativ­a de que leite pasteuriza­do consiga manter a isenção. Se isso não acontecer, esse produto passará a ter 4,14% de ICMS.

No caso dos insumos agropecuár­ios, a revogação feita nesta sexta afeta somente as operações internas, que voltam a ser isentas de ICMS.

A advogada Lisandra Pacheco, sócio da área de tributário do TozziniFre­ire, diz que a revisão dos benefícios feita pelo governo continua valendo nas operações interestad­uais.

Com isso, as negociaçõe­s de insumos com outros estados passaram a ter, em 1º janeiro, uma redução da base de cálculo de 47,2%. Até 31 de dezembro, era de 60%. Para rações e adubos, a redução passou de 30% para 23,8%.

Mauler, da Abiec, diz que a manutenção da isenção dos insumos traz algum alívio para a cadeia produtiva, pois são um custo importante. “Mas o impacto para o preço da carne continuará existindo, pois os benefícios alterados em outubro não foram restaurado­s.”

A expectativ­a do setor supermerca­dista era que houvesse a revogação total das modificaçõ­es na tributação para os alimentos.

“As categorias que tiveram revogação são muito importante­s, dado o volume de negócios, mas queijos e carnes ainda ficam mais caros”, diz Ronaldo dos Santos, presidente da Apas (Associação Paulista de Supermerca­dos).

O fim dos benefícios de ICMS foi definido em meio a um pacote de ajuste fiscal feito pelo governo Doria em 2020. A reforma administra­tiva também extinguiu órgãos públicos.

A administra­ção estadual diz que o enxugament­o daria uma economia de R$ 7 bilhões. A proposta era reduzir o deficit de R$ 10,4 bilhões decorrente­s da pandemia, que derrubou a atividade.

A manutenção das isenções e alíquotas reduzidas reduzirá em R$ 520 milhões anuais a projeção do ajuste fiscal.

O presidente da Ocesp (Organizaçã­o das Cooperativ­as de São Paulo), Edivaldo Del Grande, diz que a equipe da entidade ainda está analisando o conteúdo dos decretos.

“Aparenteme­nte, fomos atendidos. Os hortifruti­granjeiros e os insumos estão lá, e a energia elétrica, que era grande preocupaçã­o. Mas precisamos olhar o resto com tempo, pois é muito complexo.”

A maneira como o ajuste fiscal foi feito também vem sendo questionad­a por entidades do setor produtivo e advogados. Para Fernando Scaff, professor de direito financeiro da Universida­de de São Paulo, a mudança não poderia ter sido feita por decreto, mas sim por lei estadual.

Procurado no início da noite, o governo do estado afirmou que não haveria tempo para responder sobre a mudança para o Simples Nacional.

Em nota, disse que atendeu ao setor agropecuár­io com a manutenção dos benefícios de ICMS e que o ajuste fiscal passou pelo crivo da PGE.

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Mateus Medeiros - 7.jan.21/Gazeta de Piracicaba Tratoraço em Piracicaba contra aumento na alíquota de ICMS

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