Contra coronavírus, condomínios usam folhas de cobre e luz ultravioleta
Novos produtos não garantem proteção nem substituem medidas básicas, alerta infectologista
são paulo Na tentativa de garantir proteção aos moradores na pandemia, condomínios diversificaram o leque de produtos que prometem diminuir os riscos de contaminação ao eliminar microrganismos das superfícies e evitar a exposição nas áreas comuns.
Administradoras de condomínios vêm sendo bombardeadas com ofertas de empresas que classificam suas mercadorias como inovadoras no combate à Covid-19. Os produtos vão de dispositivos para abertura de portas com os pés a softwares que permitem assembleias online com número ampliado de participantes.
“Todos os dias têm chegado ofertas de produtos novos no mercado. Durante a pandemia, temos avaliado a eficácia e viabilidade dessas mercadorias para aplicação nos residenciais”, afirma José Roberto Graiche Junior, vice-presidente do Grupo Graiche, que administra 725 condomínios pelo país.
Mas o consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia Wladimir Queiroz alerta que as inovações podem trazer uma falsa sensação de segurança, levando a um relaxamento das medidas básicas e realmente eficazes no combate ao coronavírus. Mesmo com novas tecnologias à disposição, os moradores não devem dispensar a máscara e o álcool em gel quando precisarem sair de casa.
No mês passado, o Parque Cidade Jardim, complexo de condomínios na zona sul de São Paulo, teve portão, catraca e corrimãos revestidos com folhas de cobre, metal com propriedade antimicrobiana.
Segundo a Elfer Alumínio, desenvolvedora da tecnologia, a inovação é uma lâmina bem fina de cobre autoadesiva, em folhas de 0,05 milímetros de espessura, que podem ser coladas em objetos muito tocados pelos moradores.
Antes, esse revestimento não era viável, e a instalação de uma maçaneta ou corrimão com cobre exigia a troca da peça inteira.
A espessura fina também garante uma área de revestimento maior, barateando o serviço. O custo para aplicar o produto em uma maçaneta varia de R$ 10 a R$ 20. Em uma catraca, o valor vai de R$ 90 a R$ 130. Já em um corrimão, pode chegar a R$ 400.
“Estudos mostram que o coronavírus pode sobreviver por dias em superfícies de plástico ou de inox, comuns em condomínios. Mas, na superfície de cobre, o tempo de vida do microrganismo é reduzido para até duas horas”, afirma o engenheiro Fabio Passerini, gerente da Elfer Alumínio.
Ele explica que o metal tem íons livres que geram uma espécie de ataque e causam rupturas na membrana dos micróbios, destruindo também seu material genético.
Um condomínio localizado na Oscar Freire, na zona oeste de São Paulo, também investiu em novas tecnologias para tentar proteger os moradores contra a Covid-19.
Nos elevadores do prédio foram instalados dispositivos que, segundo a empresa Superled, matam microrganismos, incluindo o coronavírus.
Por R$ 2.900, o chamado Vírus Killer, produto com luz ultravioleta (UVC), emite radiação que teria capacidade para inativar o microrganismo.
Os sensores do equipamento detectam movimentos, e a luz é emitida sempre que o ambiente está vazio. A luz UVC pode causar danos quando usada incorretamente, provocando queimaduras de pele e córnea ou câncer de pele.
Equipamentos que emitem luz ultravioleta também são vendidos em modelo portátil, com a função de matar o vírus nas superfícies de correspondências e caixas, por exemplo (preço médio de R$ 150).
Outros itens adquiridos pelos condomínios são tapetes sanitizadores, que usam solução de hipoclorito de sódio para desinfetar calçados (preço médio de R$ 100), e dispositivos que permitem abrir portas com os pés (cerca de R$ 75).
Wladimir Queiroz, da Sociedade Brasileira de Infectologia, diz que alguns dos novos produtos até podem mitigar riscos de contaminação, mas não garantem proteção plena contra o coronavírus.
“No caso do cobre, o vírus tem sobrevida mais curta, mas ainda assim resiste por algumas horas. E, nos espaços comuns, não sabemos quando alguém passou pela última vez no local”, diz o médico.
O infectologista também põe em xeque a eficiência da luz ultravioleta. Segundo ele, os raios podem eliminar microrganismos de superfícies, mas não são capazes de eliminar o vírus em suspensão no ar. “Provavelmente, a maior via de transmissão do coronavírus é a inalatória. Por isso, nada vai substituir o uso de máscara e higienização das mãos”, afirma Queiroz.
Além de novos produtos que prometem combater a Covid-19, a pandemia tem estimulado parcerias de condomínios com empresas que produzem estruturas que evitam o contato físico.
Em condomínios da zona leste e sul de São Paulo administrados pela Oma, o iFood instalou armários que evitam o contato entre entregadores e clientes. O pedido pelo aplicativo é posto diretamente no armário, que é destravado pelo morador com senha.
Já na Lello Condomínios, a pandemia acelerou a implantação de uma plataforma que permite a realização de assembleias online.