Folha de S.Paulo

Investigaç­ão contra ex-ministro em caso de ‘rachadinha­s’ no Rio é arquivada

- IN

A investigaç­ão contra o deputado estadual Carlos Minc (PSB) no caso das “rachadinha­s” da Assembleia Legislativ­a do Rio de Janeiro foi arquivada na terça-feira (12) pelo Ministério Público estadual.

O Gaocrim (Grupo de Atuação Originária Criminal), vinculado ao gabinete do procurador-geral de Justiça —até aquela data Eduardo Gussem, que deixou o cargo nesta sexta-feira (15)—, entendeu não haver indícios de crimes após aprofundar a apuração de dados do Coaf sobre o gabinete de Minc, ex-ministro do Meio Ambiente no governo Lula.

A apuração contra o presidente da Assembleia, André Ceciliano (PT), outro alvo do caso, também se distanciou das suspeitas de “rachadinha”. Por determinaç­ão da Justiça, as diligência­s da investigaç­ão foram enviadas para a primeira instância para que as apurações sejam aprofundad­as —o que, na prática, tira momentanea­mente o foco do petista.

Ceciliano e Minc foram 2 dos 21 deputados citados no relatório do Coaf (órgão federal de inteligênc­ia financeira) produzido em janeiro de 2018 que levou à apuração contra membros da Assembleia, entre eles o senador Flávio Bolsonaro (Republican­os-RJ), que integrou o Legislativ­o fluminense entre 2003 e 2019.

A investigaç­ão iniciada pelo relatório contra o filho do presidente Jair Bolsonaro culminou na denúncia apresentad­a ao Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Rio sob acusação de peculato, lavagem de dinheiro, apropriaçã­o indébita e organizaçã­o criminosa.

De acordo com o MP-RJ, Flávio desviou R$ 6 milhões dos cofres da Assembleia por meio de 12 ex-funcionári­os, sendo que ao menos R$ 2 milhões foram repassados a Fabrício Queiroz, apontado como operador financeiro do esquema.

Os mesmos funcionári­os sacaram outros R$ 2 milhões que os investigad­ores suspeitam terem sido entregues a Queiroz.

O primeiro denunciado citado no relatório do Coaf foi o deputado estadual Márcio Pacheco (PSC), acusado de desviar cerca de R$ 1 milhão em esquema semelhante ao atribuído a Flávio.

Há outros cinco deputados sob investigaç­ão, cuja conclução, são ficará a cargo do gabinete do recém-empossado procurador-geral, Luciano Mattos. Ex-deputados também são alvo de promotores que atuam na primeira instância, sem foro especial.

O gabinete de Minc aparecia no relatório com R$ 16 milhões de movimentaç­ão considerad­a atípica. A principal suspeita do MP-RJ recaía sobre o chefe de gabinete do deputado, Antônio Lisboa.

Os sigilos bancário e fiscal de Minc, Lisboa e outros quatro funcionári­os do deputado foram quebrados com autorizaçã­o da Justiça. Após dois anos de investigao Gaocrim concluiu não haver indícios de crimes.

Minc, antes de ser notificado da decisão do MP-RJ, afirmou que já esperava o arquivamen­to.

“Eles vasculhara­m tudo dos meus assessores e não tem nada para os meus familiares. Encontrara­m seis depósitos meus para meus funcionári­os, para ressarcir gastos do gabinete. Não tem loja de chocolate, carro, apartament­o. O meu patrimônio é o mesmo há dez anos”, disse o deputado.

Oex-ministroaf­irmounãote­r queixas do Ministério Público.

“Tenho um mandato marcado por realizar investigaç­ões. Não me queixo do MPRJ. Sempre fui parceiro do MP. Sendo esse o resultado, só confirma essa confiança que tenho. Ao contrário de outros. Mas fiquei por dois anos numa lista ao lado do Bolsonaro. Não sabia onde me meter”, disse Minc.

A apuração contra Ceciliano passou a ter como foco a relação do presidente da Assembleia com um suposto agiota de Paracambi, sua base eleitoral, cujos parentes foram empregados em seu gabinete.

Ao menos quatro pessoas ligadas ao empresário Carlos Alberto Dolavale, conhecido como Betinho, foram nomeadas no gabinete do petista num período em que ele dizia ser credor em cerca de R$ 170 mil do deputado.

Após a Folha revelar o rumo da apuração contra Ceciliano, Dolavale procurou a Justiça para informar que a dívida atribuída ao petista fora, na verdade, contraída por um vereador da cidade que usou o nome do deputado como “garantia”.

O MP-RJ pediu novas diligência­s, mas o desembarga­dor Rogério Oliveira de Souza, relator do caso, decidiu que as medidas não tinham mais relação direta com Ceciliano, enviando o caso à Justiça em Paracambi, na primeira instância.

O gabinete de Ceciliano liderava em volume de movimentaç­ões financeira­s suspeitas indicadas no relatório, somando R$ 49 milhões entre 2011 e 2017. Boa parte (R$ 26 milhões) estava vinculada a Elisângela Barbieri, assessora do presidente da Assembleia entre 2011 e 2019 e mulher de Betinho.

O relatório do Coaf foi produzido no âmbito da Operação Furna da Onça, que prendeu em 2018 dez deputados estaduais. Ele foi elaborado a pedido do Ministério Público Federal, que solicitou todas as comunicaçõ­es de movimentaç­ões atípicas envolvendo pessoas nomeadas na Assembleia.

A menção no relatório não significa a prática de algum ilícito. O volume da movimentaç­ão, por sua vez, não é medida para a suspeita que eventualme­nte recaia sobre os deputados estaduais.

 ?? Rodrigo Capote - 8.mai.19/Folhapress ?? O deputado estadual Carlos Minc (PSB-RJ), em evento com ex-ministros do Meio Ambiente
Rodrigo Capote - 8.mai.19/Folhapress O deputado estadual Carlos Minc (PSB-RJ), em evento com ex-ministros do Meio Ambiente

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil