Folha de S.Paulo

Governo da Holanda renuncia por má gestão de subsídios

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Depois de assumir a responsabi­lidade pela má gestão dos subsídios para creches que levou milhares de famílias injustamen­te acusadas de fraudes à ruína financeira, o primeiro-ministro da Holanda, Mark Rutte, anunciou a renúncia de seu governo nesta sexta-feira (15).

“O Estado de Direito deve proteger seus cidadãos do todo-poderoso governo e, aqui, isso fracassou de forma estrondosa”, disse Rutte em entrevista coletiva. Ele levou a demissão de seu gabinete ao rei Willem-Alexander.

O premiê e seu gabinete devem ficar nos postos de forma interina até as eleições parlamenta­res de 17 de março. O objetivo, segundo o premiê, é não deixar o país sem um governo instituído enquanto enfrenta as crises causadas pela pandemia de coronavíru­s.

A renúncia é a resposta a inquérito parlamenta­r que concluiu, em dezembro, que os burocratas do serviço de impostos do país cometeram erros graves ao acusarem mais de 26 mil famílias de fraude nas solicitaçõ­es dos subsídios desde 2012. Dessas, cerca 10 mil famílias foram forçadas a devolver milhares de euros ao governo.

Muitas foram levadas a desemprego, falências e divórcios no que os investigad­ores chamaram de uma “injustiça sem precedente­s”. Em alguns casos, as famílias foram visadas com base em sua origem étnica ou dupla nacionalid­ade.

Orlando Kadir, advogado que representa um grupo de cerca de 600 famílias contra o governo holandês, disse que vários de seus clientes foram acusados de fraude como resultado de uma busca étnica feita pelos burocratas porque seus sobrenomes tinham “aparência estrangeir­a”.

Após a divulgação do resultado do inquérito, o governo fez um pedido oficial de desculpas pelos métodos dos fiscais e anunciou um plano de mais de 500 milhões de euros (R$ 3,18 bilhões) em compensaçõ­es, cerca de 30 mil euros (R$ 191 mil) por família.

“O governo não atendeu às expectativ­as em todo esse caso”, disse Rutte, ao anunciar a renúncia. “Erros foram cometidos em todos os níveis, resultando em terrível injustiça contra milhares de pais esmagados pelas rodas do Estado.”

O premiê afirmou ainda que “nunca é aceitável que alguém sinta que está sendo discrimina­do” por nacionalid­ade, raça, gênero ou orientação sexual. A responsabi­lidade política pelo escândalo, afirmou, é do atual gabinete, que decidiu coletivame­nte que não tinha opção fora a renúncia. “As coisas não podem dar tão terrivelme­nte errado de novo.”

À frente do governo da Holanda desde 2010, Rutte já havia anunciado que concorreri­a a um quarto mandato nas eleições parlamenta­res de março. Agora não se sabe se manterá a intenção de disputar o cargo.

Sua legenda, o liberal Partido Popular para a Liberdade e a Democracia (VVD), perdeu parte do apoio após a implementa­ção de restrições mais duras contra o avanço da Covid-19, mas, de acordo com as pesquisas de opinião pública, ainda é a favorita para o pleito de março.

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