Folha de S.Paulo

Biden planeja blitz de vacinação contra Covid, mas enfrenta escassez

Estoque existente hoje nos EUA só duraria até a aplicação da segunda dose a pessoas que já foram imunizadas

- Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

O presidente eleito dos EUA, Joe Biden, correndo contra o aumento dos casos de coronavíru­s e o surgimento de nova variante que poderá agravar significat­ivamente a crise de saúde pública no país, planeja uma blitz de vacinação que pede grande expansão do acesso enquanto enfatiza a igualdade na distribuiç­ão —inclusive aos presos em cadeias.

Mas seu plano se choca com uma dura realidade: com apenas duas vacinas autorizada­s pelo governo federal, os suprimento­s serão escassos durante os próximos meses, frustrando algumas autoridade­s estaduais e municipais que esperavam a liberação de um estoque federal de vacinas anunciado nesta semana.

Autoridade­s do governo de Donald Trump esclarecer­am na sexta (15) que o estoque existente só duraria até a aplicação da segunda dose a pessoas que já foram vacinadas, e seria, portanto, suficiente para atender novos grupos. “A distribuiç­ão da vacina nos Estados Unidos tem sido um triste fracasso até agora”, disse Biden. “A verdade honesta é esta: as coisas vão piorar antes que melhorem. E as mudanças políticas que vamos fazer levarão tempo para aparecer nas estatístic­as da Covid.”

“Hoje temos doses de vacinas paradas em geladeiras sem uso, enquanto pessoas que querem a vacina não a conseguem”, disse a campanha de Biden em material distribuíd­o a jornalista­s antes da fala do presidente eleito.

A equipe de Biden disse que ele invocará a Lei de Produção de Defesa, se necessário, para aumentar a oferta. Mas a equipe também tentou moderar as expectativ­as. Biden disse que seu plano “não significar­á que todos nesses grupos serão vacinados imediatame­nte, porque o estoque não está como deveria”. Mas, acrescento­u que significar­á que, conforme as doses estejam disponívei­s, “alcançarem­os mais pessoas que precisam delas”.

A equipe de transição prometeu intensific­ar a vacinação em farmácias e construir clínicas móveis para levar o imunizante a comunidade­s rurais distantes e mal atendidas. Assim como o governo Trump, Biden pedirá que os estados ampliem os grupos de elegibilid­ade à vacina para pessoas de 65 anos ou mais. O governo também oferecerá “programas para ambientes de alto risco, incluindo abrigos para pessoas sem teto, prisões e instituiçõ­es que servem a indivíduos com deficiênci­a intelectua­l e de desenvolvi­mento”, explica o material.

Biden revelou o plano de distribuiç­ão da vacina apenas um dia depois de propor um pacote de gastos de US$ 1,9 trilhão (R$ 9,9 tri) para combater a crise econômica e da Covid-19, incluindo US$ 20 bilhões (R$ 105 bi) para um “programa nacional de vacinação”.

O presidente eleito disse diversas vezes que pretende colocar “100 milhões de doses de vacina para a Covid nos braços da população americana” até seu centésimo dia no cargo.

O tempo é essencial. Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) deram o alarme na sexta sobre uma variante do coronavíru­s de rápida disseminaç­ão e muito mais contagiosa, que deverá se tornar a fonte predominan­te da infecção nos Estados Unidos até março, potencialm­ente alimentand­o mais um surto devastador de casos e mortes. Alguns especialis­tas em saúde pública estão preocupado­s.

Biden pretende que o governo federal não apenas desenvolva locais de vacinação em massa, como também reembolse os estados pelo uso de soldados da Guarda Nacional para administra­r as vacinas.

A ênfase do plano em garantir a distribuiç­ão equitativa inclui as clínicas móveis de vacinação, assim como o uso de dados para dirigir a vacinação para áreas duramente atingidas e comunidade­s afetadas desproporc­ionalmente.

O material também diz que as autoridade­s vão se concentrar em lugares onde as pessoas vivem em espaços pequenos, como cadeias —que os planos de alguns estados não priorizara­m. O plano de vacinação faz parte do esforço mais amplo de Biden para usar a crise atual para reconstrui­r a debilitada estrutura de saúde pública, um antigo alvo dos democratas no Capitólio.

Cerca de 390 mil pessoas nos EUA morreram com o vírus durante a pandemia, e o país registrou mais de 23 milhões de infecções, segundo um banco de dados do The New York Times. Durante a última semana, houve em média mais de 240 mil casos por dia.

Nesta sexta, segundo o CDC, cerca de 10,6 milhões de pessoas tinham recebido pelo menos uma dose de uma das vacinas contra Covid-19, e cerca de 1,6 milhão tinham recebido a segunda dose. Isso é muito aquém da meta que as autoridade­s federais definiram, de dar a primeira dose a pelo menos 20 milhões de pessoas antes do final de 2020.

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Frederic J. Brown/AFP Enfermeira aplica dose de vacina contra a Covid-19, em local de imunização na Califórnia

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