Associação Nacional do Rifle decreta falência nos EUA
Investigada por corrupção em NY, entidade é principal lobby de armas no país
O mais poderoso grupo de lobby de armas nos EUA, a Associação Nacional do Rifle (NRA, na sigla em inglês), anunciou nesta sexta (15) que entrou com pedido de falência em tribunal do Texas, como parte de um processo de reestruturação.
Com o movimento, o grupo de armas, criado em Nova York após a Guerra Civil (18611865), pode estar tentando evitar uma investigação da procuradoria-geral de Nova York sobre supostos esquemas de corrupção que levaram a brigas internas e a algumas saídas de membros do conselho.
Em comunicado, a NRA disse que se reestruturaria como uma organização sem fins lucrativos do Texas para sair de “um ambiente político e regulatório corrupto em Nova York”, onde está atualmente registrada. A entidade entrou com uma petição no Tribunal de Falências dos EUA em Dallas, capital do estado sulista.
Normalmente, grupos sem fins lucrativos licenciados em Nova York e sob investigação são proibidos de se deslocar durante uma investigação —o gabinete da procuradoria-geral, por exemplo, impediu que a Fundação Trump fechasse antes de terminar uma investigação sobre a organização.
O grupo disse em um comunicado que não haveria mudanças imediatas em suas operações ou força de trabalho, e que continuará “combatendo atividades anti-segunda emenda, promovendo a segurança e treinamento de armas de fogo e avançando em programas públicos em todos os EUA”. A segunda emenda da Constituição garante o direito de manter e portar armas.
“A situação financeira da NRA finalmente atingiu seu status moral: falência”, disse a procuradora-geral de Nova York, Letitia James, em um comunicado nesta sexta. “Enquanto analisamos esse processo, não permitiremos à NRA usar esta ou qualquer outra tática para fugir da responsabilidade e da supervisão do meu escritório.”
Em agosto, James entrou com uma ação para dissolver a NRA, alegando que líderes do grupo sem fins lucrativos desviaram milhões de dólares para uso pessoal e para comprar o silêncio e a lealdade de ex-funcionários.
A ação movida por James em um tribunal estadual em Manhattan alega que os líderes da NRA pagaram por viagens familiares às Bahamas, jatos particulares e refeições caras que contribuíram para uma redução de US$ 64 milhões (R$ 338 milhões na cotação atual) no balanço da associação em três anos.
Como tentativa de bloquear sua investigação, a NRA processou James em um tribunal federal, dizendo que ela violou o direito do entidade à liberdade de expressão. O litígio permanece pendente.
A NRA nas últimas décadas tem sido uma das principais vozes que se opõem às medidas de controle de armas no país. Doou mais de US$ 30 milhões (R$ 159 mi) à campanha de Donald Trump em 2016.
As ações da NRA provavelmente colocarão o processo da procuradoria-geral em espera e uma reincorporação poderia impedi-la de buscar a dissolução do grupo. Em seu processo, James disse que a incorporação do NRA como uma organização sem fins lucrativos em Nova York deu a ela autoridade para dissolvê-lo.
A entidade sofreu pressões após massacres realizados com armas de fogo nos EUA nos últimos anos, por defender a manutenção de facilidades para a compra de armas. Dificultar o acesso a armamentos é um caminho apontado como forma de evitar que cidadãos comuns façam ataques contra frequentadores de escolas, de supermercados e de outros espaços públicos.
Em 2019, a associação fechou a NRA TV, canal de vídeos criado em 2016 e introduzido com um quadro em que um de seus apresentadores, Grant Stinchfield, destrói a marretadas uma TV sintonizada na CNN. Em outra tentativa de promover o uso de armas, um site da associação publicou uma releitura de contos de fadas: a vovozinha da Chapeuzinho Vermelho, com um fuzil em mãos, diz ao Lobo Mau que não pretende virar seu almoço.
“A situação financeira da NRA finalmente atingiu seu status moral: falência
Letitia James procuradora-geral de Nova York