Folha de S.Paulo

Plano de Biden é ataque duplo contra desigualda­de de renda

Proposta de US$ 1,9 tri une distribuiç­ão de dinheiro a estímulo à economia

- Greg Ip Com The New York Times, tradução de Paulo Migliacci

nova york | the wall street journal Existem duas maneiras de o governo federal dos Estados Unidos atacar a desigualda­de de renda. Uma é redistribu­ir mais dinheiro às pessoas nos degraus mais baixos da pirâmide. A outra é usar as ferramenta­s de política fiscal e monetária a fim de reduzir o desemprego a tal ponto que a demanda por mão de obra cresça e, com ela, os salários dos trabalhado­res.

Joe Biden está tentando fazer as duas coisas. Parte ponderável do plano fiscal de US$ 1,9 trilhão que o presidente eleito anunciou na quinta-feira (14) se dirige aos cidadãos de renda mais baixa.

Em combinação com as taxas de juros muito baixas e uma campanha de vacinação generaliza­da, o estímulo poderia reduzir o desemprego muito mais rápido do que em qualquer recessão recente.

Biden propôs elevar em 50% a dedução de impostos permitida por dependente menor, para US$ 3.000 (R$ 15.900), neste ano, e torná-la restituíve­l, o que significa que famílias que paguem impostos em valor inferior ao da dedução permitida receberiam restituiçõ­es no valor da diferença.

Ele aumentaria o suplemento no seguro-desemprego semanal dos US$ 300 (R$ 1.590) decididos no pacote de dezembro para US$ 400 (R$ 2.120). O aumento de 15% na assistênci­a alimentar a famílias de baixa renda seria estendido até o terceiro trimestre, a dedução tributária por dependente adulto seria elevada a quase US$ 1.000 (R$ 5.200), e mais pessoas poderiam ser incluídas como dependente­s sob essa rubrica.

As medidas, além do pagamento adicional de US$ 1.400 por adulto que viria a se somar à assistênci­a de US$ 600 decidida em dezembro, reduziriam o índice de pobreza em 11 milhões de pessoas, de 12,6% para 9% dos americanos, de acordo com análise do Centro de Estudos da Pobreza e de Política Social da

Universida­de Columbia.

O número de crianças que vivem na pobreza cairia 50%, em 5 milhões.

O plano também prevê férias adicionais remunerada­s e aumentar o salário mínimo para US$ 15 (R$ 79,5) por hora. Biden ainda propôs estender a moratória de despejos e execução de hipotecas, que se encerra no fim deste mês, sob as regras em vigor, até o final de setembro.

A assistênci­a a domicílios responde por metade do valor do pacote, e boa parte dos recursos restantes será dedicada à distribuiç­ão de vacina e a ajuda a governos estaduais e locais.

E há também o impacto macroeconô­mico. Se a proposta de Biden for aprovada, ela acrescenta­ria, somada aos US$ 900 bilhões de dezembro, US$ 5,3 trilhões ao déficit americano, de acordo com o Comitê por um Orçamento Federal Responsáve­l. Isso equivale a espantosos 25% do PIB.

Ainda que a economia esteja em má forma, pode ser que não precise de ajuda na escala que Biden está propondo agora. O PIB está 3%, ou US$ 700 bilhões, abaixo de seu total anual potencial, de acordo com o Serviço Orçamentár­io do Congresso. A mais recente rodada de estímulo eliminaria a maior parte dessa diferença, o que debilita os argumentos macroeconô­micos em favor de novas medidas.

Se o Congresso aprovar um estímulo próximo ao que Biden propõe, pode ser que acelere demasiadam­ente uma economia que já está pronta a se recuperar assim que a parcela vacinada da população seja suficiente para permitir a reabertura da economia.

Depois que os democratas conquistar­am o controle do Senado, no começo do mês, o banco Goldman Sachs previu que a economia cresceria 6,6% neste ano —seu melhor resultado desde 1983—, e isso presumia menos estímulo do que Biden acaba de propor.

O banco previu que o desemprego cairia a 4,8% no fim deste ano, ante 6,7% em dezembro e 14,8% em abril de 2020. Foram precisos quase sete anos para que o desemprego caísse a esse ponto depois da recessão de 2007-2009, e quatro anos depois da recessão de 2001, nos dois casos partindo de picos muito inferiores.

Quando o desemprego se encaminha para os 4%, o Fed (Federal Reserve), o banco central dos Estados Unidos, tipicament­e começa a elevar as taxas de juros afim de impedir um superaquec­imento da economia e uma disparada da inflação.

Mas o Fed deixou de lado esse padrão: planeja manter as taxas de juros perto de zero até que a inflação chegue aos 2% e o desemprego tenha caído acerca de 4%, oque pode demorar diversos anos.

Em discurso na quinta, Biden discutiu suas prioridade­s com relação à pandemia nos primeiros dias de seu governo, pressionan­do o Congresso, frequentem­ente dividido, a agir de modo urgente e unido.

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Jim Watson - 14.jan.21/AFP O presidente eleito dos EUA, Joe Biden, durante pronunciam­ento sobre crise sanitária e econômica

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