Manaus vive corrida por oxigênio para salvar pacientes em hospitais
Rede de voluntários formou filas para levar cilindros vazios para reabastecimento em fábricas
manaus “Oxigênio aqui é Deus”, resumiu uma mulher que rezava nesta sexta-feira (15) no Serviço de ProntoAtendimento de Redenção, em Manaus, quando chegaram cilindros de oxigênio para atender os pacientes internados com Covid-19.
Com o sistema de saúde colapsado, a capital do Amazonas viu nesta sexta uma corrida por cilindros de oxigênio hospitalar, após o gás ficar indisponível na rede pública, levando à morte de pacientes.
“Senhor, meu Deus, encha os pulmões do meu marido com o seu oxigênio”, gritava Eliane Belmiro de Oliveira, 36, assoprando a boca em direção à sala de emergência onde o marido estava, no mesmo hospital.
A unidade virou um emblema da crise de saúde de Manaus por ter registrado a morte de ao menos seis pacientes no seu setor de emergência por falta de oxigênio nesta última quinta-feira (14).
A explosão de novos casos da Covid-19 fez com que a demanda por oxigênio chegasse a 76 mil m³ diários no Amazonas —na rede estadual, o consumo médio diário era de era 5 mil m³ antes da pandemia.
A produção diária de White Martins, Carbox e Nitron, que são as três fornecedoras do insumo para o governo do Amazonas, é 28,2 mil m³ por dia. A White Martins tenta importar o produto da Venezuela.
Na madrugada dessa sextafeira, a Força Aérea Brasileira desembarcou em Manaus uma carga de 6 m³ de oxigênio líquido da empresa White Martins, fornecedora do Governo do Estado.
A previsão é que um total de 22 mil m³ de oxigênio sejam encaminhados ao longo da semana para Manaus, em operação a partir de Guarulhos, cidade da Grande São Paulo.
Enquanto os suprimentos não chegam, pacientes morrem antes de serem aceitos nas unidades. Chorando, a
médica do Samu Patrícia Sicchar disse que a dificuldade para conseguir leitos em hospitais de porta aberta em Manaus piorou.
Depois de circular por unidades de saúde da cidade, conseguiu que dois pacientes fossem aceitos no Platão Araújo, zona leste de Manaus, mas eles teriam de enfrentar o mesmo drama: a falta de oxigênio.
“Em meia hora, eu vi falecerem dois. Não tem bico de oxigênio, infelizmente. São cenas de horror, o colega médico não tem mais o que fazer”, disse. “É dramática a situação das famílias amazonenses.”
No hospital, a enfermeira Graciete Mouzinho, 54, narra o drama: “No corredor lotado, as pessoas estavam tentando respirar e não conseguiam. Foi uma coisa horrível de se ver. Aqueles idosos pedindo socorro, levantando a mão, a família abanando e a gente não ter como ajudar. Sou enfermeira há 18 anos e nunca tinha sentido tanto medo na minha vida”, disse.
Para diminuir o problema,
os manauaras formaram uma rede de voluntários para ajudar a transportar os cilindros das unidades de saúde até as fábricas nos distritos industriais com os próprios carros para serem reabastecidos.
“É uma operação de guerra”, diz o policial militar Rodrigo Ricardo Ramos Pinto, 29. Rodrigo conversou com a
no final da manhã em cima da carroceria de uma caminhonete carregada com sete cilindros vazios.
Ele estava de folga e se juntou aos amigos para socorrer o serviço de pronto-atendimento do bairro Redenção, na zona centro-oeste de Manaus.
Rodrigo disse que conseguiu reunir doações de empresários. “Estamos fazendo esse mutirão que não vai ficar só aqui no Redenção. Iremos atender quantas unidades nós conseguirmos”, afirmou.
O movimento de voluntários é tão intenso que, ao lado da caminhonete de Rodrigo, outro veículo de mesmo porte estava lotado de cilindros vazios para serem reabastecidos.
O empresário Paulo de Castro,
52, cedeu o carro para a missão. “É uma questão humanitária. Estamos vendo a dificuldade da população e não podemos cruzar os braços. Não é porque eu não tenho ninguém internado que não vou ajudar. Todos nós somos irmãos. Não dá para esperar só os governantes. Já vimos que não deu certo”, disse.
Para sensibilizar as empresas, as unidades de saúde estão emitindo receituários com a urgência recomendada de compra que são apresentados pelos voluntários.
Com o apoio da Força Aérea, o governo do Amazonas iniciou nesta sexta a transferência de pacientes com Covid-19 para hospitais de outros estados.
Em uma mudança do plano previsto inicialmente, apenas nove pacientes que estavam internados na rede pública estadual foram transferidos para Teresina, no Piauí.
A expectativa era que fossem enviados 30.
De acordo com o governo do Amazonas, quatro pacientes apresentaram instabilidade e, por isso, não puderam ser embarcados. Outro paciente desistiu.
Estes foram os primeiros pacientes dos 235 que serão enviados para cinco estados brasileiros. Um segundo grupo de 15 pacientes deve ser encaminhado para São Luís, no Maranhão, também nesta sexta-feira.
O governo havia anunciado ainda que 60 bebês prematuros, internados em UTIs neonatais, que também demandam oxigênio hospitalar, seriam transferidos para outros estados. À tarde, porém, o governo voltou atrás, afirmando que a transferência não seria mais necessária porque conseguiu abastecimento de oxigênio para mais 48 horas.
O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) informou, em nota, que o Ministério da Saúde comunicou os estados sobre a solução parcial do problema com a chegada de novos tanques de oxigênio ao estado.
“O Conass está atento e continuará no propósito de cooperar com Ministério da Saúde e com a Secretaria de Saúde do Amazonas na busca de soluções definitivas para a grave crise sanitária”, afirmou.
Governo desiste de taxar importação de cilindros para o gás Bernardo Caram
brasília O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) anunciou nesta sexta-feira (15) que aC amex(Câm arade Comércio Exterior) reduziu azero o imposto de importação de itens como tanques de oxigênio, respiradores automáticos e monitores de sinais vitais.
A decisão, tomada em reunião extraordinária nesta sexta, veio após a divulgação de informações de que o governo havia elevado a tarifa de importação de cilindros para armazenamento de gases medicinais no fim do ano passado —poucos dias antes de o sistema de saúde de Manaus (AM) entrar em colapso por falta de oxigênio.
Em março de 2020, início da pandemia, a alíquota do imposto de importação foi zerada para esses produtos e demais itens hospitalares, como parte da estratégia de enfrentamento da Covid-19.
Mas decisão da Camex, ligada ao Ministério da Economia, no dia 24 de dezembro, acabou coma isenção da cobrança par aparte da lista de bens usados em hospitais. Assim, a importação de cilindros de ferro voltou a ser taxada em 14% e os de alumínio, em 16%.
Na prática, a medida tornou a entrada dos recipientes para gases medicinais no país mais cara. Outros itens hospitalares também perderam a isenção na ocasião.
A Camex é responsável por definir alíquotas do imposto de importação .“Sempre que possível, reduziremos impostos para facilitar o acesso de insumos e bens necessários à população para o combate ao Covid-19”, disse o presidente nas redes sociais.
No mesmo ato, a Camex havia retirado a isenção do imposto para outros produtos, como desinfetante para dispositivos médicos, saco de eliminação de resíduos de risco biológico, cortinas estéreis para salas de cirurgias, torniquete para coleta de sangue, máscaras, luvas, bomba de ar elétrica, entre outros.