Falta de O2 também matou no litoral de SP, dizem funcionários de hospital
Profissionais afirmam que rede não dá conta da demanda e denunciam presença de ratos e larvas
são paulo Profissionais da área da saúde relatam mortes por sufocamento e falta de oxigênio em São Sebastião, cidade do litoral norte de São Paulo.
A reportagem da Folha conversou com pessoas que trabalham no Hospital de Clínicas da cidade, que narraram situação similar à do sistema de saúde de Manaus (AM), onde há escassez de oxigênio.
De acordo com os relatos ouvidos pela reportagem, a falta de estrutura no hospital levou à morte de ao menos duas pessoas com Covid-19 em dezembro, na UTI. Os nomes obtidos pela reportagem e as datas de suas mortes foram enviados à Prefeitura de São Sebastião, que afirmou que não expõe “publicamente casos de óbitos na mídia sem autorização da família”.
Há relatos ainda de que não há médicos suficientes para fechar a escala do hospital e de que estão sendo usados ventiladores pulmonares só com torpedo (tubo de oxigênio) porque a rede de oxigênio não atenderia a demanda.
Esses torpedos deixaram de ser comprados e começaram a ser enchidos em uma usina do próprio hospital, segundo os relatos, com um nível de aproveitamento pior.
São Sebastião foi um dos municípios litorâneos que não respeitaram o Plano São Paulo nos dias em que vigorou a fase vermelha, com fechamento de bares e restaurantes. A cidade tem praias badaladas de SP, como Maresias, Camburi e Barra do Sahy.
Um funcionário do hospital disse que em novembro, quando havia quatro pacientes intubados e precisando de ventilação mecânica, a rede já não dava conta. Com falha no torpedo, dois pacientes morreram por falta de oxigênio, afirmou.
Após o episódio, os tubos de oxigênio voltaram a ser comprados, embora com racionamento, e se esgotam com frequência, dizem os entrevistados pela Folha. Mas, devido à falta de estrutura na rede de oxigênio do hospital, os pacientes têm de ficar constantemente ligados nos torpedos, o que envolve riscos, dizem os profissionais.
Segundo eles, o risco ocorre quando é preciso trocar o oxigênio da rede pelo do tubo. Um funcionário explicou que o torpedo normalmente é usado para transporte de paciente ou em um posto adaptado, como hospital de campanha, mas não em uma UTI.
Pelas informações repassadas à reportagem, embora oficialmente haja 20 respiradores, só dez ficam lá. Os outros são levados a outras unidades após fiscalizações, afirmam.
Os funcionários relatam ainda problemas de estrutura e condições do serviço e enviaram à reportagem fotos que mostram um rato e larvas na unidade.
A situação também é ruim no Hospital da Costa Sul, em Boiçucanga, dizem. A unidade atende muitos turistas e, devido à demora, há relatos de agressividade por parte de pacientes, gerando medo entre os funcionários.
Os funcionários disseram que estão elaborando uma nota aberta para tratar de todos esses assuntos.