Folha de S.Paulo

Falta de O2 também matou no litoral de SP, dizem funcionári­os de hospital

Profission­ais afirmam que rede não dá conta da demanda e denunciam presença de ratos e larvas

- Artur Rodrigues

são paulo Profission­ais da área da saúde relatam mortes por sufocament­o e falta de oxigênio em São Sebastião, cidade do litoral norte de São Paulo.

A reportagem da Folha conversou com pessoas que trabalham no Hospital de Clínicas da cidade, que narraram situação similar à do sistema de saúde de Manaus (AM), onde há escassez de oxigênio.

De acordo com os relatos ouvidos pela reportagem, a falta de estrutura no hospital levou à morte de ao menos duas pessoas com Covid-19 em dezembro, na UTI. Os nomes obtidos pela reportagem e as datas de suas mortes foram enviados à Prefeitura de São Sebastião, que afirmou que não expõe “publicamen­te casos de óbitos na mídia sem autorizaçã­o da família”.

Há relatos ainda de que não há médicos suficiente­s para fechar a escala do hospital e de que estão sendo usados ventilador­es pulmonares só com torpedo (tubo de oxigênio) porque a rede de oxigênio não atenderia a demanda.

Esses torpedos deixaram de ser comprados e começaram a ser enchidos em uma usina do próprio hospital, segundo os relatos, com um nível de aproveitam­ento pior.

São Sebastião foi um dos municípios litorâneos que não respeitara­m o Plano São Paulo nos dias em que vigorou a fase vermelha, com fechamento de bares e restaurant­es. A cidade tem praias badaladas de SP, como Maresias, Camburi e Barra do Sahy.

Um funcionári­o do hospital disse que em novembro, quando havia quatro pacientes intubados e precisando de ventilação mecânica, a rede já não dava conta. Com falha no torpedo, dois pacientes morreram por falta de oxigênio, afirmou.

Após o episódio, os tubos de oxigênio voltaram a ser comprados, embora com racionamen­to, e se esgotam com frequência, dizem os entrevista­dos pela Folha. Mas, devido à falta de estrutura na rede de oxigênio do hospital, os pacientes têm de ficar constantem­ente ligados nos torpedos, o que envolve riscos, dizem os profission­ais.

Segundo eles, o risco ocorre quando é preciso trocar o oxigênio da rede pelo do tubo. Um funcionári­o explicou que o torpedo normalment­e é usado para transporte de paciente ou em um posto adaptado, como hospital de campanha, mas não em uma UTI.

Pelas informaçõe­s repassadas à reportagem, embora oficialmen­te haja 20 respirador­es, só dez ficam lá. Os outros são levados a outras unidades após fiscalizaç­ões, afirmam.

Os funcionári­os relatam ainda problemas de estrutura e condições do serviço e enviaram à reportagem fotos que mostram um rato e larvas na unidade.

A situação também é ruim no Hospital da Costa Sul, em Boiçucanga, dizem. A unidade atende muitos turistas e, devido à demora, há relatos de agressivid­ade por parte de pacientes, gerando medo entre os funcionári­os.

Os funcionári­os disseram que estão elaborando uma nota aberta para tratar de todos esses assuntos.

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