Folha de S.Paulo

Buffalo tem nova chance de dar fim à fama de sofredor

- Alex Sabino

são paulo A revista Forbes elegeu em 2016 a cidade esportiva mais sofrida dos EUA. Deu Buffalo. A fórmula de julgamento levou em conta jejum de títulos, grandes campanhas que terminaram em fracasso e a decepção dos fãs.

Se o município do estado de Nova York ficou com o primeiro lugar, grande parte da culpa é do Buffalo Bills. A equipe da NFL (National Football League, a liga profission­al de futebol americano) tem agora uma nova chance de acabar com isso. No último sábado, diante do Indianapol­is Colts, voltou a venceu nos playoffs pela primeira vez desde 1995 e está a dois jogos de disputar o título da liga no Super Bowl.

“Ano que vem vamos voltar ao Super Bowl. E seremos campeões”, disse o kicker Scott Norwood em 1991.

A mitologia perdedora dos Bills tem muito a ver com essa frase. O time havia acabado ser derrotado em uma das finais mais dramáticas da história. O próprio Norwood errou um chute na última jogada e o New York Giants ganhou por 20 a 19. A única vez em que o Super Bowl terminou com apenas um ponto de diferença entre vencedor e vencido.

Metade da profecia de Norwood

se concretizo­u. Os Bills retornaram ao Super Bowl não apenas uma, mas três vezes: em 1992, 1993 e 1994. Perderam todas. Caíram, respectiva­mente, diante do Washington Redskins e do Dallas Cowboys (duas vezes), o que levou a imprensa americana a criar a frase “anyone but Buffalo” (qualquer um, menos Buffalo).

Nenhum outro time chegou a quatro Super Bowls seguidos, e Buffalo perdeu de todos os jeitos. Apertado, de lavada, com quarterbac­ks titular e reserva, respeitand­o o adversário ou o provocando.

“O que faz um torcedor dos Bills depois de vencer o Super Bowl? Desliga o videogame”, era a piada nos anos 1990, muito antes dos memes.

Neste sábado (16), às 22h15 (de Brasília), a franquia enfrentará o Baltimore Ravens pelo divisional playoffs, a semifinal da AFC (American Football Conference, uma das duas conferênci­as da NFL). Se ganhar, fará a final da AFC e, então, o Super Bowl contra o campeão da NFC (National Football Conference).

Os Bills terminaram a temporada regular com a segunda melhor campanha da AFC. Foram 13 vitórias e 3 derrotas. Ficaram atrás apenas do atual campeão do Super Bowl, o

Kansas City Chiefs (14-2).

O time teve a segunda melhor produção ofensiva da NFL, com média de 396,4 jardas por jogo. Um dos destaques da temporada, o quarterbac­k Josh Allen, 24, foi o quinto melhor (passes para 4.544 jardas), e o wide receiver Steffon Diggs ficou em primeiro nas jardas recebidas: 1.535.

A boa campanha e ter voltado a vencer nos playoffs gera otimismo na torcida, apelidada de Bills Mafia, apesar do sofrimento nas últimas décadas.

Os dramas não ficaram restritos ao Super Bowl. Em 1999, a equipe tinha um jogo ganho contra o Tennessee Titans, fora de casa, depois de converter um field goal (que vale três pontos) a 16 segundos do fim. Era apenas reiniciar o jogo e comemorar a classifica­ção.

Quando os Bills devolveram a bola ao adversário para a última jogada, Tennessee conseguiu protagoniz­ar lance inusitado, com passe lateral que enganou os defensores de Buffalo. Marcou touchdown, venceu e avançou nos playoffs. A jogada foi batizada como “music city miracle” (o milagre da cidade da música), já que os Titans jogam em Nashville, capital do country dos Estados Unidos.

Buffalo foi eleita a cidade mais sofrida também porque nenhum clube ou franquia local jamais ganhou um título nacional entre as principais ligas profission­ais. O município tem o Buffalo Sabres, da NHL (hóquei), e já teve o Buffalo Braves na NBA.

Por problemas financeiro­s, a franquia de basquete se mudou para a Califórnia em 1978. Transformo­u-se no San Diego Clippers, hoje em dia Los Angeles Clippers, que continua sem títulos da NBA. Os Bills foram campeões em 1964 e 1965 da AFL (American Football League), liga rival da NFL e que se fundiu a ela em 1970.

“Ainda incomoda quando as pessoas perguntam sobre isso. Éramos uma equipe persistent­e e que nunca desistia. Mas será que éramos um fracasso porque perdemos quatro Super Bowls? Quantos times chegam ao Super Bowl a cada ano? Dois. Estávamos sempre lá”, relembra o quarterbac­k Jim Kelly, integrante da equipe de 1990 a 1993.

A presença dos Bills nos playoffs não é a única novidade da pós-temporada. O Cleveland Browns chegou ao mata-mata pela primeira vez desde 2002, derrotou o Pittsburgh Steelers e agora encara os Chiefs. Os Browns chegaram a ter recorde negativo de 0 vitória e 16 derrotas em 2017.

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