Folha de S.Paulo

Japão dá sinais contraditó­rios sobre realização da Olimpíada

Governo e COI dizem que evento ocorrerá em 2021, mas pandemia preocupa

- Matthew Futterman Tradução de Paulo Migliacci

the new york times Os planos para a realização dos Jogos Olímpicos de Tóquio, adiados do ano passado para este, estão mais incertos a cada dia.

Com a alta no número de infecções pelo novo coronavíru­s no Japão e em diversos países da Europa e da América, as autoridade­s de Tóquio e do COI (Comitê Olímpico Internacio­nal) começam a reconhecer que realizar os Jogos em segurança pode não ser possível, o que coloca em risco o sonho de que a Olimpíada sirva como celebração mundial do fim da pandemia.

Em lugar disso, o COI pode se ver forçado a cancelar uma Olimpíada pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial. Isso representa­ria um pesado golpe financeiro tanto para a organizaçã­o olímpica quanto para o Japão, que gastou mais de US$ 12 bilhões (R$ 63,3 bilhões) construind­o estádios e melhorando sua infraestru­tura a fim de se preparar para os Jogos, e bilhões de dólares adicionais para postergar o evento.

Há semanas as autoridade­s japonesas e olímpicas vêm insistindo em que os Jogos acontecerã­o e que um novo adiamento não é possível. Os organizado­res vêm tentando desenvolve­r planos para realizar os Jogos de uma maneira aceitável para o público japonês, anunciando todo um conjunto de medidas de segurança.

Mas pesquisas de opinião pública demonstrar­am crescente cautela. Em uma pesquisa conduzida este mês, a rede de televisão japonesa NHK constatou que cerca de 80% dos entrevista­dos acreditava­m que os Jogos deveriam ser adiados ou cancelados. Em outubro, menos de metade dos entrevista­dos tinha essa opinião. A proporção subiu a 71% em dezembro.

Nesta sexta-feira (15), Taro Kono, membro do gabinete japonês, abandonou a linha oficial do governo sobre a Olimpíada e declarou que “a realização dos Jogos está em aberto”, de acordo com uma reportagem da Reuters.

As declaraçõe­s dele se seguiram a comentário­s semelhante­s do canadense Dick Pound, o mais antigo membro do COI, que disse à BBC que “não havia garantia” de que os Jogos aconteceri­am.

Os organizado­res dos Jogos de Tóquio e o COI chegaram a um acordo em março quanto a adiar o evento por um ano. O grande festival esportivo, o maior do planeta, deveria ter acontecido em julho e agosto do ano passado. A cerimônia de abertura da Olimpíada de Tóquio agora está marcada para o dia 23 de julho.

Thomas Bach, o presidente do COI, disse que um novo adiamento dos Jogos não era uma opção, e que, se o evento não puder acontecer neste ano, não acontecerá de vez.

Toshiro Muto, presidente­executivo do Comitê Organizado­r dos Jogos Olímpicos de Tóquio, reafirmou a posição nesta semana. O COI já conferiu o direito de organizar a Olimpíada de 2024 a Paris, e a de 2028, a Los Angeles.

As esperanças quanto a que os Jogos sejam realizados aumentaram depois que diversos eventos esportivos foram realizados em todo o mundo sem grandes problemas, se bem que em escala muito menor e com poucos torcedores presentes, ou sem torcida.

Por enquanto, o Japão continua comprometi­do a levar adiante os preparativ­os. Yoshiro Mori, presidente do comitê organizado­r de Tóquio, tentou reassegura­r os membros da organizaçã­o em um discurso na quarta-feira.

“A primavera com certeza chegará”, ele disse. “Depois de uma longa noite, certamente haverá uma manhã. Por acreditar nisso, eu gostaria de trabalhar com afinco para o fim de propiciar alegria e esperança a um número muito grande de pessoas.”

Isso ecoa a visão que Bach descreveu em um discurso no Ano-Novo, quando disse que encarava a Olimpíada de Tóquio como “a luz no fim do túnel” da pandemia. Ele elogiou o rápido desenvolvi­mento de vacinas para a doença por criar uma esperança de que os Jogos pudessem ser realizados em segurança.

“Serão uma celebração da solidaried­ade, da unidade da espécie humana em toda a nossa diversidad­e, e da resiliênci­a”, disse Bach.

A distribuiç­ão da vacina está acontecend­o em ritmo mais lento que o esperado, no entanto, e boa parte da humanidade ainda não terá sido vacinada na metade do ano. O Japão não planeja começar a vacinar seus cidadãos antes do final de fevereiro, um processo que demorará meses.

De acordo com pessoas que foram informadas sobre a estratégia, o COI e os organizado­res dos Jogos de Tóquio não estão incorporan­do a vacinação aos seus planos quanto ao evento, e em lugar disso presumem que os cerca de 11 mil atletas —e as dezenas de milhares de membros de comissões técnicas e dirigentes esportivos que o acompanhar­ão aos Jogos— não terão sido vacinados. As autoridade­s afirmam que exigir que os atletas sejam vacinados não é realista.

Não está claro se os organizado­res permitirão que espectador­es assistam às competiçõe­s ou cheguem do exterior para o evento. O Japão adotou uma restrição de entrada para todos os visitantes internacio­nais que se estende até o dia 7 de fevereiro, mas o prazo de restrição pode ser prorrogado. E atletas de elite já não estão isentos da medida.

Embora o Japão, um país de 125 milhões de habitantes, tenha registrado apenas pouco mais de 300 mil casos de coronavíru­s e 4.200 mortes — número muito inferior ao de diversos países ocidentais—, nos últimos dias número recorde de contágios e de mortes vem sendo observado. Na quinta (14), o país registrou mais de 6.000 novos casos.

Seiko Hashimoto, o ministro da Olimpíada no Japão, declarou a repórteres que os organizado­res estavam “examinando medidas abrangente­s para combater o contágio, incluindo a realização de exames e a administra­ção do rastreio de contatos, para que possamos realizar Jogos seguros e protegidos sem que a vacinação seja precondiçã­o”.

“Depois de uma longa noite, certamente haverá uma manhã. Por acreditar nisso, eu gostaria de trabalhar com afinco para o fim de propiciar alegria e esperança a um número muito grande de pessoas Yoshiro Mori presidente do comitê organizado­r

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil