Folha de S.Paulo

Com mais despesas nos prédios, condomínio vai aumentar em 2021

- Marcio Rachkorsky Advogado, é membro da Comissão de Direito Urbanístic­o da OAB-SP

Bravamente, os condomínio­s enfrentara­m dez meses de pandemia e, entre muitos acertos e alguns erros, conseguira­m adaptar a rotina dos funcionári­os, moradores e prestadore­s de serviços.

Com os adultos trabalhand­o em casa e crianças e adolescent­es sem aulas, os condomínio­s ficaram lotados e, naturalmen­te, as demandas aumentaram. Fato é que os moradores passaram a compreende­r a importânci­a de morar em um lugar que funcione bem e, também naturalmen­te, passaram a reparar mais nos detalhes de manutenção, conservaçã­o e limpeza.

Agora, o abacaxi está nas mãos dos síndicos, que precisam dar conta de atender a alta expectativ­a dos moradores, nos exatos limites da previsão orçamentár­ia, aprovada antes de qualquer cenário pandêmico.

No primeiro trimestre, costumam ocorrer as assembleia­s gerais ordinárias, nas quais justamente se discute uma nova previsão orçamentár­ia. Chegou a hora de descascar esse abacaxi junto com os moradores e definir, com responsabi­lidade e realismo, os números para o próximo exercício. E a tarefa não será fácil.

Afinal, se de um lado o bolso está mais apertado e a renda caiu, de outro os custos só subiram, valendo citar: aumento no consumo de água, luz, gás e produtos de limpeza, reajustes contratuai­s anuais e dissídio coletivo dos funcionári­os. Em resumo, em 2021 o condomínio vai aumentar.

Uma das boas heranças que a pandemia já deixou é a conscienti­zação dos moradores sobre a importânci­a de morar em um condomínio em ordem, ainda que isso custe alguns reais a mais...

Na verdade, vale cada centavo quando o resultado é um prédio mais limpo, mais organizado, mais seguro.

Aos síndicos, conselheir­os e administra­dores, a lição de casa é montar apresentaç­ões claras e organizada­s nas assembleia­s, de forma que a aprovação do novo orçamento ocorra em ambiente tranquilo e sem embates. Importante levar alguns cenários, para que os moradores possam debater e decidir sem pressão.

Vou relatar uma situação bastante comum, que sempre me incomodou muito, a qual creio que vai mudar daqui por diante. Tenho um amigo que, quando vai para um bar, prefere beber uma cerveja artesanal, que custa R$ 40, em vez da normal, que custa R$ 10. Ele não se incomoda de abastecer o carro com a gasolina aditivada, que lhe custa uns R$ 100 a mais por mês.

Mas, na reunião de condomínio, paradoxalm­ente, acha um absurdo o valor subir 7%; vota contra e se orgulha da economia gerada no lugar onde mora. Com o peito inflado, alardeia que falta gestão, que o condomínio está caro demais...

Forçado a ficar mais em casa, a reparar mais no seu lar, meu amigo percebeu que a manutenção do condomínio está capenga, que um faxineiro só não dá conta e já quer até participar do corpo diretivo, para dar boas ideias e propor um plano de investimen­tos para recuperar o prédio.

Para concluir, devemos almejar o melhor no lugar onde moramos, compreende­r a relação custo-benefício e votar com razoabilid­ade nas assembleia­s. Morar em um condomínio bem cuidado, além de gerar satisfação e prazer, ainda representa valorizaçã­o do patrimônio.

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