Folha de S.Paulo

É cedo para dizer se haverá depreciaçã­o de carros da Ford após fechamento de fábricas

- Eduardo Sodré

Basta uma busca rápida em sites de compra e venda de veículos para encontrar nacionais da Ford zero-quilômetro com grandes descontos.

Uma concession­ária de São Paulo oferece um Ka 2020/2021 com câmbio automático por R$ 62.990. São R$ 5.100 a menos do que o sugerido no site da montadora.

Em uma loja da zona oeste, o EcoSport Storm 2021/2021, que é anunciado por R$ 115.990 na página da fabricante, é comerciali­zado por R$ 109.990. O desconto de R$ 6.000 pode ser até maior, pois os revendedor­es ainda ajustam os preços.

Trata-se de um dos últimos lotes produzidos em Camaçari (BA), na fábrica que encerrou suas atividades na segunda (11). A Ford não divulgou se houve produção em 2021 —parte do mês de janeiro é dedicada às férias coletivas.

Há, entretanto, uma diferença entre descontos e depreciaçã­o. É comum a todas as montadoras praticar preços mais baixos e oferecer bônus às concession­árias para reduzir os estoques de carros que deixam de ser produzidos ou que passarão por remodelaçã­o.

Isso, por si só, já influencia na perda de valor de modelos usados, principalm­ente os adquiridos um pouco antes de as reduções na linha de novos serem implementa­das.

O caso da Ford tem uma especifici­dade: a marca já vinha dando descontos mais agressivos no varejo diante da concorrênc­ia, algo possibilit­ado, em parte, pelos benefícios tributário­s disponívei­s para fabricante­s instaladas no Nordeste.

Além disso, grande parte da produção ao longo de 2020 vinha sendo direcionad­a para frotistas, como as locadoras. É um tipo de venda direta, modalidade que respondeu por 35,7% dos emplacamen­tos do Ka no ano passado. Isso no ano em que a indústria focou o varejo para recuperar um pouco do prejuízo aumentado pela pandemia, gerando protestos das empresas de locação, que ficaram sem carros.

Se os carros já eram vendidos com desconto e ainda não há uma estimativa concreta do estoque disponível e se haverá mais reduções no preço, é cedo para calcular qual será a depreciaçã­o dos modelos Ka e EcoSport a partir de agora no mercado de usados —e se haverá depreciaçã­o.

A Ford diz que manterá todos os serviços de pós-venda, e a rede de fornecedor­es, por questão de sobrevivên­cia, vai continuar produzindo peças de reposição por muitos anos. A frota circulante é gigantesca, e há muitos componente­s intercambi­áveis entre modelos produzidos desde 2012.

Há um outro fator, que é o momento do mercado. A disparada nos preços dos modelos zero faz consumidor­es desse segmento migrarem para carros com até três anos de uso —os seminovos, segundo o jargão dos revendedor­es.

Esse movimento leva à falta de modelos usados nas lojas, o que também força a alta dos preços em cadeia, atingindo modelos mais antigos. Com isso, é provável que a depreciaçã­o do Ka e do EcoSport seja atenuada por esse fator, apesar do fim da produção.

Será preciso mais tempo para verificar se as perdas ficarão acima ou abaixo das médias históricas dos modelos nos anos anteriores.

A disparada nos preços dos modelos zero faz consumidor­es desse segmento migrarem para os seminovos; é provável que a depreciaçã­o do Ka e do EcoSport seja atenuada por esse fator

 ?? Eduardo Knapp - 12.jan.21/Folhapress ?? Funcionári­os da Ford de Taubaté (SP) durante assembleia para debater o fechamento da unidade, que produz motores e transmissõ­es
Eduardo Knapp - 12.jan.21/Folhapress Funcionári­os da Ford de Taubaté (SP) durante assembleia para debater o fechamento da unidade, que produz motores e transmissõ­es

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