Folha de S.Paulo

Nas capitais, 1ª leva de imunizante deve ir até dia 31

Algumas cidades dependem de mais frascos para aplicar segunda a dose

- Júlia Barbon e João Pedro Pitombo

A primeira remessa de doses distribuíd­a no país deve acabar até o fim da próxima semana na maioria das capitais. Ao menos 17 das 27 cidades (incluindo o DF) planejam terminar de aplicar a primeira dose em grupos prioritári­os até o dia 31 de janeiro, mostra levantamen­to.

A primeira remessa de vacinas distribuíd­a no país deve acabar até o fim da próxima semana na maioria das capitais. Os imunizante­s chegaram aos estados entre segunda (18) e terça-feira (19), depois de um atraso na logística do Ministério da Saúde.

Ao menos 17 das 27 cidades (incluindo o Distrito Federal) planejam terminar de aplicar a primeira dose nos grupos prioritári­os até 31 de janeiro, segundo levantamen­to feito pela Folha com as prefeitura­s, que são as responsáve­is pela vacinação. Só Goiânia e Recife estimam um tempo maior, de três semanas, e o restante não tem previsão.

Quatro desses municípios já estão usando todas as vacinas disponívei­s e, portanto, dependem da chegada de mais frascos para ministrar a segunda dose daqui a duas a três semanas. Integram esse grupo São Paulo, Boa Vista, Rio Branco e Goiânia.

As capitais somam 1,4 milhões de unidades da Coronavac recebidas, de um total de 6 milhões importadas e distribuíd­as nesta semana. Consideran­do que as próximas levas de imunizante­s que o Brasil planeja disponibil­izar têm quantidade parecida, eles também não devem durar muito.

O país deve conseguir mais 6,8 milhões de doses no total a curto prazo. Isso inclui 2 milhões da vacina de Oxford/AstraZenec­a, que devem chegar nesta sexta-feira (22) após a Índia finalmente dar sinal verde à exportação para o Brasil, e outras 4,8 milhões da Coronavac, que já foram envasadas pelo Instituto Butantan e aguardam autorizaçã­o emergencia­l da Anvisa.

A agência afirmou que deve responder à solicitaçã­o já nesta sexta, apesar de o prazo expirar na próxima quinta (28). Se aprovadas, as vacinas já podem ser imediatame­nte encaminhad­as ao governo federal para serem enviadas aos estados.

Depois disso, o Brasil só terá mais doses quando a China permitir o envio dos insumos necessário­s para que o Butantan e a Fiocruz processem os dois imunizante­s. A fundação no Rio de Janeiro estima que conseguirá entregar as primeiras remessas apenas em março.

Diante da escassez de vacinas, todas as capitais têm seguido a orientação de priorizar os profission­ais de saúde que atuam na linha de frente contra a Covid-19 e os idosos que vivem em instituiçõ­es de longa permanênci­a, de maneira geral. Seis das cidades incluem indígenas nessa lista.

Os municípios que preveem encerrar a aplicação da primeira dose mais cedo, já nesta sexta, são Belo Horizonte, Natal e Vitória. Entre eles, a capital mineira foi a que recebeu mais unidades: 128 mil, das quais metade foi reservada para ser distribuíd­a daqui a três semanas.

Vitória diz que precisaria de mais de 20 mil vacinas para contemplar todo esse público prioritári­o da primeira fase, quase cinco vezes mais do que as 4.769 pessoas que vai poder imunizar até agora. Porto Alegre é outra que ressalta que as 103 mil doses entregues são insuficien­tes para as 165 mil pessoas que queria vacinar na primeira fase.

Manaus, que vive uma crise de falta de leitos e de oxigênio, chegou a suspender a imunização na quinta (20) para reformular sua logística. Foi uma recomendaç­ão de órgãos de controle, após a prefeitura priorizar médicos recémforma­dos que atendem casos leves frente a servidores idosos e com comorbidad­es que atendem casos graves.

No Rio de Janeiro, o Conselho Regional de Enfermagem do estado também reclama que a categoria “está sendo preterida” e que se reunirá com as autoridade­s municipais e estaduais para cobrar a vacinação. A cidade pretende terminar de ministrar a primeira dose neste sábado (23).

Por enquanto, a capital fluminense optou por guardar metade das 230 mil unidades que recebeu, mas o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, afirmou que espera uma posição do Butantan, do Ministério da Saúde e da Anvisa para saber se já pode usá-las para vacinar o dobro de pessoas.

“Essa é uma discussão científica que está acontecend­o. A gente não tem estudo suficiente para dizer se uma única dose pode sustentar a imunidade por mais tempo. Mas a discussão hoje no Ministério da Saúde e nos meios acadêmicos é que seria melhor aplicar a primeira dose no maior número de pessoas e esperar a segunda dose”, disse ao telejornal “Bom Dia Rio”, da Rede Globo.

Diante dessa discussão, cidades como São Paulo optaram por já usar todos os frascos entregues, mesmo sem garantia. De acordo com a prefeitura, a expectativ­a é receber mais 215 mil em até 15 dias para a segunda imunização dos profission­ais de saúde, idosos e indígenas, respeitand­o um intervalo de duas a três semanas.

Rio Branco (com apenas 3.600 doses) é outra que segue a mesma lógica, “uma vez que há o indicativo oficial de que novas unidades de vacina devem chegar à cidade na próxima semana”, afirmou em nota a chefe da vigilância epidemioló­gica municipal, a bióloga Socorro Martins.

Esses locais, porém, correm o risco de receber menos doses para a segunda imunização do que o necessário, já que a previsão da próxima remessa da Coronavac é de apenas 4,8 milhões de unidades, e não 6 milhões como na primeira leva.

Já alguns governos estaduais optaram por “segurar” a metade das vacinas nos seus próprios estoques, ao invés de distribuí-las todas de uma vez para os municípios. Foi o caso de Roraima, Pará, Tocantins, Paraíba, Mato Grosso e Espírito Santo.

“A gente precisa ser sincero”, desabafou na quarta (20) o prefeito de Salvador, Bruno Reis (DEM), afirmando que enquanto o governo federal não fizer uma aquisição de um grande lote dos imunizante­s, a vacinação será em pequenas etapas.

A prefeitura havia se organizado para vacinar 169 mil pessoas nesta primeira remessa, mas teve que mudar toda a estratégia em três dias ao saber que só receberia 42 mil doses. “Esse fracioname­nto é muito ruim porque cria injustiças e prejudica todo o nosso planejamen­to”, critica o secretário municipal de Saúde, Leonardo Prates.

Colaborara­m Fernanda Canofre (Belo Horizonte), João Valadares (Recife), Katna Baran (Curitiba), Monica Prestes (Manaus), Paula Sperb (Porto Alegre) e Thaiza Pauluze (São Paulo)

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Leandro Ferreira/Agência O Globo Médica é vacinada contra o coronavíru­s, em Campinas (SP)
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