Folha de S.Paulo

Promotoria­s apuram casos de ‘fura fila’ de doses

Prefeitos, vice-prefeito e chefe de setor de informátic­a de prefeitura tomaram imunizante

- Luiz Henrique Gomes

Em ao menos seis estados do Nordeste, foram abertas investigaç­ões para apurar relatos de pessoas que furaram fila da vacina —a recomendaç­ão é que as doses sejam de grupos prioritári­os. Entre os que tomaram estão de prefeitos a chefe de setor de informátic­a de prefeitura.

natal As Promotoria­s de pelo menos seis estados do Nordeste abriram investigaç­ões para apurar relatos de pessoas que furaram a fila da vacina contra a Covid-19 nos primeiros dois dias de imunização.

Os casos foram registrado­s em dez cidades de seis estados —Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Sergipe e Bahia.

À Folha, os Ministério­s Públicos afirmaram que instaurara­m procedimen­tos para apurar cada caso e analisar se houve o cometiment­o de crime ou ato de improbidad­e administra­tiva.

O Ministério da Saúde recomenda que o primeiro lote da vacina enviado aos municípios seja prioridade para trabalhado­res de saúde, indígenas, deficiente­s internados e idosos abrigados.

Entre os vacinados, estão os prefeitos das cidades de Candiba (BA), Pombal (PB) e Itabi (SE) e o vice-prefeito de Juazeiro do Norte (CE).

Em Candiba, o prefeito Reginaldo Prado (PSD) foi o primeiro a tomar a vacina durante o evento organizado pela prefeitura. Com 60 anos de idade, ele não faz parte do grupo prioritári­o da primeira fase, mas justificou a decisão de ser primeiro a ser vacinado para incentivar as pessoas.

“Eu tomei [a vacina] não preocupado com meu bem-estar e sim em encorajar e incentivar as pessoas. Não senti dor e após 24h estou sem qualquer mal-estar”, afirmou o prefeito em um vídeo em uma rede social. Candiba tem 14,3 mil habitantes e recebeu 100 doses.

A justificat­iva foi a mesma do prefeito de Itabi, Júnior de Amynthas (DEM). Amynthas foi o primeiro a tomar vacina no município sergipano.

No Ceará, o médico e viceprefei­to de Juazeiro do Norte, Giovanni Sampaio, recebeu a vacina na terça-feira. Segundo a prefeitura, Sampaio faz parte do grupo prioritári­o por continuar atuando na rede de saúde como médico obstetra.

O Ministério Público do Ceará instaurou um procedimen­to para apurar o caso. “Após averiguaçã­o preliminar das informaçõe­s e provas, o órgão decidirá que medida será tomada”, informou.

Outro prefeito que também é médico e foi um dos primeiros a tomar a vacina da Coronavac em sua cidade foi Verissinho Abmael (MDB), de Pombal (a 326 km de João Pessoa).

Verissinho recebeu críticas dos moradores e profission­ais de saúde da cidade, mas declarou que, mesmo sendo prefeito, continua atuando como médico na linha de frente do combate à Covid-19.

O prefeito de Natal, Álvaro Dias (PSDB), chegou a anunciar que seria o primeiro vacinado na capital potiguar, mas recuou após a repercussã­o negativa. Ele chegou a dizer que estaria seguro porque toma ivermectin­a —apesar de o medicament­o não ser eficaz contra a Covid-19.

Ainda assim, houve furo na fila de vacinação na capital potiguar na quarta (20). Pelo menos três servidores comissiona­dos da Secretaria Municipal do Trabalho e Assistênci­a Social que não se encaixavam nos grupos prioritári­os receberam as primeiras doses do imunizante.

Um deles é o chefe do setor de informátic­a da pasta. A nomeação dele no cargo foi publicada um dia antes no Diário Oficial do Município.

Outras duas servidoras também ocupam cargos na secretaria. Uma delas é chefe do setor de Gestão de Benefícios do Cadastro Único.

Os três registrara­m o momento da vacinação em seus perfis em redes sociais. Após as fotos repercutir­em, o Ministério Público do Rio Grande do Norte disse que recebeu reclamaçõe­s e que iria analisar os casos individual­mente.

A Secretaria Municipal de Saúde de Natal suspendeu a vacinação do grupo de servidores, mas justificou que o grupo integra as equipes envolvidas diretament­e na campanha de imunização.

“Apesar desse respaldo legal e institucio­nal, fica a partir de agora terminante­mente suspensa a vacinação desse grupo de servidores, em função da quantidade reduzida de doses recebidas nesta primeira etapa inicial”, informou a secretaria, em nota.

Com apenas seis milhões de doses da Coronavac distribuíd­as pelo Ministério da Saúde a estados e municípios, a vacinação contra a Covid-19 está restrita neste primeiro momento aos trabalhado­res de saúde que atuam contra a pandemia, indígenas aldeados, pessoas com deficiênci­a internadas e idosos que vivem em asilos.

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