Mesmo sem público, Libertadores levará torcedores de Santos e Palmeiras ao Rio
Torcedores querem estar mais perto do Maracanã na final; aglomerações preocupam autoridades
O comerciante Bruno Luiz Opasso, 37, estará no Rio de Janeiro em 30 de janeiro por causa da final da Libertadores.
O jogo entre Santos e Palmeiras será disputado com portões fechados, devido à pandemia da Covid-19, e ele ficará fora do Maracanã —local escolhido previamente pela Conmebol para a decisão. Mesmo que pudesse, porém, não entraria no estádio.
“Não quero ir ao Maracanã. Já fui lá entre 10 e 12 vezes. O Santos só ganhou uma. Mesmo que me ofereçam um ingresso, eu não vou. É superstição. Vi todos os jogos da Libertadores em barzinhos. Vou ver esse também, só que no Rio”, diz o torcedor santista, que deve chegar à Barra da Tijuca para se hospedar no mesmo hotel da delegação do clube na próxima quinta (28).
Opasso não está sozinho. A primeira decisão 100% brasileira do torneio sul-americano desde 2006 (e inédita no formato de jogo único) provocará o deslocamento de torcidas das duas equipes paulistas ao Rio, mesmo que para assistir à partida pela televisão. O acesso ao entorno do estádio também estará fechado, para tentar evitar os corredores de torcedores que marcaram as últimas partidas do torneio.
“Meu filho pergunta a toda hora quantos dias faltam para a final. Comprei passagem e hotel depois do empate em 1 a 1 com o Libertad (PAR), pelas quartas de final. A ideia é proporcionar a ele estar na cidade da decisão. Viver a partida da melhor maneira”, diz o jornalista palmeirense Fabio Bolla, 42, que vai à capital carioca com o filho Lorenzo, 5, e a mulher, Fabiana, 38.
O plano de estar na final é mais antigo do que isso. Começou em março do ano passado, quando os jogos ainda tinham público. Para dar a Lorenzo a noção do que é estar em uma partida fora de São Paulo, planejou levá-lo ao confronto contra o Tigre, na Argentina, pela fase de grupos, mas eles perderam o voo.
Alguns poucos privilegiados poderão acompanhar a decisão dentro do Maracanã.
Cada clube recebeu 150 ingressos para distribuir entre convidados, então serão 300 pessoas em um estádio com capacidade para 78.838.
O Santos destinará 45 bilhetes para familiares de jogadores e comissão técnica, 30 para o comitê de gestão (que tem 9 integrantes), 30 para conselheiros, 15 para autoridades e patrocinadores, 25 para sócios e 5 para funcionários.
O Palmeiras definiu que 75 irão para o elenco e comissão técnica. Segundo a assessoria do clube, dois serão entregues a Silvia Greco e seu filho Nickollas, que venceram em 2019 o prêmio The Fan, entregue pela Fifa. O garoto tem deficiência visual, e a mãe narra os jogos do time para ele saber o que acontece em campo. O destino dos outros 73 ingressos ainda não foi definido.
Todos os torcedores ouvidos pela reportagem dizem querer estar o mais perto possível da partida para a eventual festa do título. Pretendem ver o jogo em bares ou nos quiosques das praias cariocas.
“Quando eu disse para a minha mulher, ela falou que eu era louco. Depois aceitou. Pode ser uma sensação estranha, mas vou sentir que fiz tudo o que era possível pelo Palmeiras”, diz o gerente de vendas Marcelo André Carone, 41. Ele irá à cidade com o filho Murilo, 7, e a mulher Tatiane, 38.
Há também um movimento não divulgado de forma oficial de torcidas organizadas para ver a partida em telões, em suas sedes, nos arredores do Allianz Parque e da Vila Belmiro, ou mesmo no Rio.
Organizadas de Santos e Fluminense se mobilizam para acompanhar a partida juntas na capital carioca. O mesmo pode ocorrer entre palmeirenses e vascaínos.
Os clubes não têm um número de quantos de seus fãs farão a viagem. O Santos divulgou nota sobre o encontro do presidente Andres Rueda com o prefeito santista, Rogério Santos, para discutir os riscos de aglomeração.
“Sabemos que é um momento histórico e que os torcedores querem assistir a essa partida, diante dessa campanha maravilhosa. Mas nossa preocupação é com a saúde da comunidade, criando uma campanha conjunta com o Santos para que todos respeitem os protocolos”, disse o prefeito.
Consultada, a Prefeitura de São Paulo lembra que a cidade “continua em pandemia, na fase amarela, de acordo com o Plano SP, e o cumprimento dos protocolos de segurança, respeitando o distanciamento social, é essencial para o controle do contágio pela Covid-19 na cidade”.
A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo ressalta que aglomerações podem levar à interdição de estabelecimentos comerciais e que pode intensificar o trabalho de orientação ao público, com o uso de viaturas de patrulhamento.
A prefeitura do Rio de Janeiro diz que planeja junto à CBF, à Conmebol e à Policia Militar um esquema operacional para intensificar a segurança. A administração municipal afirma ainda que é importante que torcedores colaborem, evitando aglomerações, e que intensificará a fiscalização nos bares e comércios próximos ao Maracanã.