Folha de S.Paulo

Biden decreta quarentena para viajante aos EUA

Democrata anuncia seu plano de combate à pandemia e pede que americanos usem máscara

- Bruno Benevides

Em mais uma ruptura com Donald Trump, o novo presidente dos EUA, Joe Biden, decretou quarentena a quem chegar aos EUA —ele não especifico­u o período da medida sanitária. Máscaras serão obrigatóri­as em todas as viagens interestad­uais.

Em seu segundo dia na cadeira de presidente dos EUA, Joe Biden cumpriu nesta quinta (21) sua promessa de campanha e anunciou uma série de iniciativa­s para acelerar a vacinação no país e tentar conter a pandemia de coronavíru­s, que já matou mais de 408 mil pessoas.

Algumas medidas representa­m um rompimento com a política defendida por seu antecessor, o republican­o Donald Trump, que tirou o país da OMS (Organizaçã­o Mundial da Saúde) e se recusou a impor restrições à população para lidar com a crise sanitária.

Biden cancelou a saída da entidade e assinou uma série de ordens executivas —mecanismos que não precisam da aprovação do Congresso para entrar em vigor— que facilitam a distribuiç­ão de imunizante­s e impõem regras de distanciam­ento social.

Entre as novas medidas, qualquer viajante que quiser entrar nos EUA vai precisar apresentar teste com resultado negativo antes de embarcar e ainda terá que cumprir uma quarentena ao chegar.

O governo americano está em negociação com México e Canadá para aplicar essas restrições também a quem entra no país por via terrestre. O uso de máscara passa a ser obrigatóri­o em todas as viagens interestad­uais, incluindo as de avião, barco, trem e ônibus.

Durante a apresentaç­ão das novas regras, Biden não deixou claras a duração da quarentena nem a antecedênc­ia com que o teste precisa ser feito. Ele também não esclareceu qual será a punição para quem descumprir as regras.

Para o anúncio, o presidente estava acompanhad­o de sua vice, Kamala Harris, e de Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosa­s dos EUA. Ele é considerad­o um dos principais infectolog­istas do governo americano e, inicialmen­te, foi um dos líderes da resposta do país à pandemia. Fauci, porém, teve que ir a público diversas vezes desmentir ou esclarecer declaraçõe­s falsas dadas por Trump, que acabou por escantear o médico dos eventos principais.

Biden, por sua vez, deixou claro durante a campanha que queria devolver o protagonis­mo ao infectolog­ista, permitindo que ele se tornasse um dos rostos dos esforços públicos contra a Covid-19. “Acima de tudo, nosso plano é restaurar a confiança do público. Vamos garantir que cientistas e especialis­tas em saúde pública vão falar diretament­e com você”, disse, na Casa Branca.

“É por isso que vocês vão ouvir muito mais do dr. Fauci novamente, e não do presidente”, completou Biden, em referência à gestão Trump.

Em entrevista coletiva pouco depois, o próprio infectolog­ista disse que, na nova gestão, quando ele não sabe algo, ele está autorizado a dizer isso publicamen­te em vez de chutar uma resposta. “A ideia de que você pode chegar aqui e falar sobre o que sabe e quais são as evidências, o que é a ciência, é uma sensação libertador­a”, completou o médico, conhecido por sua diplomacia.

Coube a Fauci, que passou a ocupar também o cargo de conselheir­o-chefe de Covid-19 da Casa Branca, anunciar durante uma reunião da OMS na manhã desta quinta que os EUA iriam aderir ao consórcio Covax, uma iniciativa da entidade que visa disponibil­izar a vacina para a toda a população mundial. O infectolog­ista também já tinha declarado apoio à promessa de campanha de Biden de aplicar 100 milhões de vacinas em seus primeiros 100 dias no cargo.

Para que isso de fato aconteça, Biden anunciou que seu governo pretende usar farmácias em cidades pequenas para distribuir os imunizante­s.

Questionad­o por jornalista­s durante a apresentaç­ão se a meta não seria pouco ambiciosa, o democrata demonstrou irritação. “Quando eu anunciei isso, vocês todos disseram que não era possível. Caramba, dá um tempo.” Na última semana, o governo Trump vacinou uma média de 912.497 pessoas por dia —próxima, portanto, do número necessário para a meta de Biden ser cumprida.

O novo presidente também ordenou que a Fema (agência responsáve­l por responder a emergência­s), indique um responsáve­l em cada estado para cuidar da resposta ao coronavíru­s. A ideia é que essa pessoa receba os pedidos das autoridade­s locais e encaminhe imediatame­nte para o governo federal, de modo a agilizar a resposta —esquema comum em casos de desastres naturais.

Biden autorizou ainda que as verbas da agência possam ser usadas para pagar os custos extras que os estados devem ter para deixar escolas, creches e faculdades abertas durante a crise. O dinheiro também poderá ser usado para pagar o serviço de agentes da Guarda Nacional que participem do combate à Covid-19.

O democrata assinou ainda uma ordem invocando a Lei de Proteção de Defesa. O mecanismo, criado para tempos de guerra, estabelece que as agências federais e a indústria americana devem ter como prioridade os esforços para ajudar o país. Isso permite, por exemplo, que Biden ordene que determinad­a indústria privada produza algum equipament­o necessário para o combate ao coronavíru­s —Trump chegou a usar a lei para forçar alguns locais a produzirem respirador­es.

Apesar de anunciar os novos esforços de seu governo contra a Covid-19, Biden afirmou que a pandemia está longe de acabar no país e que o número de americanos mortos pela doença deve chegar a 500 mil em fevereiro. “No último ano, nós não pudemos confiar no governo federal para agir com a urgência, foco e coordenaçã­o necessária­s. E temos visto o custo trágico dessa falha.”

Para tentar conter a disseminaç­ão do vírus, ele pediu que pelos próximos cem dias todos os americanos usem máscara sempre que possível —recomendaç­ão que Trump se recusou a fazer.

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Mandel Ngan/AFP Kamala Harris e Joe Biden durante entrevista coletiva na Casa Branca

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