Folha de S.Paulo

Show online da posse tenta unir Bruce Springstee­n a George W. Bush

- Nelson de Sá

Foi arrastado e extenuante, como seria de esperar de uma live parcial de uma hora e meia, com distanciam­ento, máscaras e Joe Biden por estrela. Sem o baile anacrônico para marcar a chegada de uma nova família à Casa Branca, os democratas juntaram celebridad­es de música popular, do rap ao country e à Broadway, para turnê de ônibus virtual, como foi descrita.

Em parte, eram veteranos de campanhas do partido, embora não necessaria­mente de Biden, como Bruce Springstee­n. Seguindo a mensagem escolhida para o dia da posse, procurou-se celebrar a unidade do país, em contraste com a divisão que Donald Trump passou a simbolizar —ainda que ela já estivesse lá, antes de ele assumir.

Unidade foi o tema que tentou costurar tanto a diversidad­e de gêneros musicais como a cena com três ex-presidente­s, de Bill Clinton a Barack Obama, mas principalm­ente o republican­o George W. Bush. “Mr. President”, disse Bush, que iniciou as guerras sem fim, falando a um Biden que não estava lá, “estou torcendo pelo seu sucesso, seu sucesso é o sucesso do nosso país, Deus o abençoe”.

Nem ele nem Obama nem as celebridad­es musicais pareciam estar à vontade, expressand­o mais um alívio pelo que acabou.

As letras dos hits, mudando contexto, prometiam que “dias melhores virão”, pediam que “deixe o Sol entrar”, garantiam que “é um novo amanhecer, um novo dia, uma nova vida”.

Havia muito de artificial naquilo, no esforço patente nos semblantes, tanto nas gravações de cozinha, sem maquiagem e acústica, como nas passagens ao vivo no Lincoln Memorial, luxuosas e bem iluminadas.

Mas eram tantos artistas que muitos espectador­es ganharam ao menos alguns minutos de felicidade com seu preferido, fosse Luis Fonsi, Jon Bon Jovi, ou Katy Perry. O teatro musical, que vai completar um ano de portas fechadas nos EUA, ganhou edição com muitas vozes, cada uma em seu quarto ou jardim, para “Seasons of Love”, de “Rent”, resgatando atores do elenco original, de 1994.

O melhor foi o final, com abundância de fogos de artifício dando alguma vida ao National Mall de Washington, escondendo seu vazio.

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