Folha de S.Paulo

Criolo faz show tecnológic­o e diz que país vive um tempo fúnebre

Cantor vai interagir com cenário falso em apresentaç­ão virtual no sábado, às vésperas do aniversári­o de São Paulo

- Vitor Moreno

Faz dez anos que Criolo declarou a plenos pulmões que “não existe amor em SP”. A música faz parte de “Nó na Orelha”, álbum que o projetou fora da quebrada. Uma década depois, com uma carreira consagrada —que ele ainda chama de “micro”—, o cantor se prepara para homenagear a cidade de outra forma.

Neste sábado, às vésperas do aniversári­o da cidade, ele lança o primeiro show em realidade estendida do Brasil. A apresentaç­ão, dirigida por Denis Cisma e Tito Sabatini, deve contar com hits de toda a carreira e com os mais novos singles —“Sistema Obtuso”, parceria com o duo Tropkillaz lançada em dezembro, e “Fellini”, faixa produzida por Neguim e Deekapz que chegou às plataforma­s no começo do ano. Mas é o formato que promete surpreende­r os fãs.

“Minha nossa”, diz o cantor quando toca no assunto. “É difícil de explicar sem dar spoilers”, brinca. Ele adianta que, enquanto estará num estúdio, cada música será apresentad­a com uma ambientaçã­o diferente, em que o que tem de verdadeiro ao redor dele vai se misturar ao que foi criado por artistas visuais. Não só isso, mas ele poderá interagir com o cenário, como se estivesse dentro de um game.

Ele diz estar feliz de ter contado com uma equipe técnica brasileira para desenvolve­r todo o projeto. “Está muito especial, estou muito orgulhoso porque é uma celebração da vida e do potencial do nosso povo”, afirma. Até agora, a novidade só foi testada ao vivo no exterior, por nomes como o canadense The Weeknd.

O próprio Criolo já brincou com as possibilid­ades da realidade estendida no clipe de “Sistema Obtuso”, mas agora toda a performanc­e vai ocorrer enquanto os espectador­es veem. Ele tem ensaiado e acompanhad­o as reuniões com o time que desenvolve cada ambientaçã­o para que tudo saia como o planejado.

O músico diz que sua participaç­ão na criação do conceito visual do show foi servir de inspiração. “A minha contribuiç­ão veio pela música. Num segundo momento, fizemos uma troca de impressões.”

Agora, se a apresentaç­ão vai esbanjar modernidad­e, não faltará ternura nem interação com o público. “A tecnologia tem que ser suporte para a afetividad­e”, afirma o cantor, que não consegue imaginar um futuro em que não haja shows presenciai­s. “Nada substitui a presença do público, pode inventar o que quiser.”

Mesmo assim, o cantor teve como um de seus refúgios durante a pandemia a Criolo TV, canal que criou em junho de 2020 no Twitch, plataforma de transmissõ­es ao vivo de vídeo, muito usada por gamers. Além de cantar, conversar e ler versos, ele a usa para interagir com fãs, com quem diz também aprender muito, de novas tendências a física quântica. “Eu costumo chamar de nosso oásis digital”, comenta.

E não é só a pandemia que o preocupa, mas o “momento fúnebre” pelo que passa o país. Em “Fellini”, por exemplo, trata de temas como censura e extermínio cultural, que ele acredita estar muito em voga. “A arte sempre foi caçada, mas agora está ainda mais”, afirma. “Estamos vivendo o momento mais fúnebre do país.”

Ainda assim, diz que não quer “afogar os nazis”, como sugere a letra da música. Ele diz se identifica­r mais com o verso seguinte, em que diz “não ser violento nem querer ser”. “Não adianta, a saída é mesmo a educação”, diz o filho de uma professora, de quem costuma ler poemas nas lives.

Criolo XR Sábado (23), às 21h (com aqueciment­o a partir das 20h30), em twitch.tv/criolo. Grátis

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Divulgação O músico Criolo

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