Grupo Boca Livre racha de vez com saída de mais um membro por causa da vacina
Quatro dias após os músicos Zé Renato e Lourenço Baeta anunciarem suas saídas do Boca Livre, foi a vez de David Tygel deixar o que um dia foi um quarteto. “Depois de pensar, de sofrer, de me reservar ao direito de sonhar, de me respeitar, abandono esse projeto que criei com tanto carinho”, ele escreveu numa rede social, na quarta.
Assim como os seus outros dois colegas, Tygel disse ter tomado a decisão por divergências ideológicas com Maurício Maestro. Elas teriam chegado ao limite depois de o músico dizer que não se vacinaria contra o novo coronavírus.
Segundo Tygel, a presença de alguém que se identifica com uma postura antivacina no grupo encerra a possibilidade de trabalho conjunto.
“Eu sou totalmente a favor da vacina, então houve um corte na relação com o Maurício. Esse Boca Livre que as pessoas tanto se identificaram, e para o qual eu dei 40 anos da minha vida, esse Boca Livre não existe mais”, disse, em entrevista por telefone.
Parceiros mais antigos do quarteto, David Tygel e Maurício Maestro frequentaram o mesmo colégio no Rio de Janeiro e, em 1966, formaram o grupo Momento 4uatro. Após o encerramento do conjunto, os dois ficaram um período separados antes de fundarem o Boca Livre, em 1978.
Tygel explica que foi essa relação antiga com Maestro que o fez pensar duas vezes antes de deixar o quarteto com Zé Renato e Lourenço Baeta. Segundo ele, ainda passava em sua cabeça a possibilidade de continuar com o Boca Livre apesar das discordâncias. “Isso era uma loucura minha obviamente, mas fez com que demorasse alguns dias até tomar minha decisão”, afirmou.
Com isso, o conjunto carioca formado há mais de 40 anos perde três integrantes. Como a marca pertence a Maestro, ainda não se sabe se ele vai manter o Boca Livre ativo.
Maestro é apoiador de Jair Bolsonaro e, nas redes sociais, costuma compartilhar publicações de aliados do presidente. Entre as mais recentes, há um vídeo do blogueiro Allan dos Santos, que é investigado no inquérito sobre fake news no Supremo Tribunal Federal, e outro de Olavo de Carvalho, considerado um guru dos bolsonaristas.
Procurado, ele disse que não comentaria a saída de Tygel .
Por enquanto, Tygel diz que seguirá como professor universitário e como compositor de músicas para filmes.
Já em relação a Maurício Maestro, a quem chama de “um gênio musical e companheiro”, ele afirma ainda ter esperança de que as coisas mudem.
“Espero que um dia caia a ficha do Maurício e ele possa seguir a vida dele com mais abertura, revendo essa posição, mas eu não tenho controle sobre isso”, afirma. Por isso, “a melhor decisão foi sair do grupo”, concluiu.