Folha de S.Paulo

Crise derruba popularida­de de Bolsonaro, aponta Datafolha

Rejeição sobe para 40%, e aprovação cai a 31% em meio a debacle sanitária e fracassos de vacinação

- Igor Gielow

Em meio ao agravament­o da crise de gestão da pandemia, a reprovação ao governo de Jair Bolsonaro voltou a superar sua aprovação. De acordo com o Datafolha, o presidente é avaliado como ruim ou péssimo por 40%, ante 32% no início de dezembro.

Quem o avalia como ótimo ou bom passou de 37% para 31% no novo levantamen­to —que ouviu 2.030 pessoas por telefone em todo o Brasil nos dias 20 e 21 de janeiro.

Esta é a maior queda nominal de aprovação desde o começo de seu mandato.

A melhoria em relação à imagem de Bolsonaro no segundo semestre de 2020, impulsiona­da pelo auxílio emergencia­l e por políticas para o Nordeste, foi abalada de dezembro para cá, especialme­nte após as falhas na campanha de vacinação.

As pessoas que temem contrair o coronavíru­s estão entre as mais descontent­es com o presidente. Entre aquelas que dizem ter muito medo da doença, a rejeição saltou de 41% para 51%, e sua aprovação nesse grupo caiu de 27% para 20%.

Para metade dos brasileiro­s, Bolsonaro não tem capacidade de comandar o país. Ele continua a ostentar a pior avaliação para o estágio atual de seu governo, consideran­do apenas os eleitos para um primeiro mandato depois de 1989.

são paulo Em meio ao agravament­o da crise de gestão da pandemia da Covid-19, a reprovação ao governo de Jair Bolsonaro (sem partido) inverteu a curva recente e voltou a superar sua aprovação.

Segundo o Datafolha, o presidente é avaliado como ruim ou péssimo por 40% da população, ante 32% que assim o considerav­am na rodada anterior da pesquisa, no começo de dezembro.

Já quem acha o presidente ótimo ou bom passou de 37% para 31% no novo levantamen­to, feito nos dias 20 e 21 de janeiro. É a maior queda nominal de aprovação desde o começo de seu governo.

Avaliam Bolsonaro regular 26%, contra 29% anteriorme­nte —oscilação dentro da margem de erro, que é de dois pontos percentuai­s para mais ou para menos.

O instituto ouviu, por telefone devido às restrições sanitárias da pandemia, 2.030 pessoas em todo o Brasil.

Se no levantamen­to de 8 e 10 de dezembro Bolsonaro mantinha o melhor nível de avaliação até aqui de seu mandato, de 37%, agora ele se aproxima do seu pior retrato de popularida­de, registrado em junho de 2020, quando 44% o rejeitavam, ante 32% que o aprovavam.

A melhoria do segundo semestre —cortesia da acomodação após a turbulênci­a institucio­nal, do auxílio emergencia­l aos mais carentes e de políticas para o Nordeste— foi abalada de dezembro para cá.

Concorrem para isso o recrudesci­mento da pandemia, que fez subir números de casos e mortes no país todo, a aguda crise da falta de oxigênio em Manaus, as sucessivas trapalhada­s para tentar começar a campanha de vacinação no país e o fim do auxílio em 31 de dezembro.

Com efeito, as pessoas que têm medo de pegar o novo coronavíru­s estão entre as que mais rejeitam o presidente.

Entre aqueles que têm muito medo de pegar o SarsCoV-2, a rejeição de Bolsonaro subiu de 41% em dezembro para 51% agora. A aprovação caiu de 27% para 20%.

Entre quem tem um pouco de medo de se infectar, a rejeição subiu de 30% para 37%, enquanto a aprovação oscilou de 36% para 33%.

No grupo dos que dizem não ter medo, próximos da retórica bolsonaris­ta sobre a pandemia, os dados são estáveis e previsívei­s: 21% o rejeitam (eram 18%) e 55% o aprovam (eram 53%).

Bolsonaro segue assim sendo o presidente com pior avaliação para o estágio atual de seu governo, consideran­do aqui apenas os eleitos para um primeiro mandato depois de 1989.

Em situação pior que ele só Fernando Collor (PRN), que no seu segundo ano de governo em 1992 tinha rejeição de 48%, ante aprovação de 15%. Só que o então presidente já estava acossado pelas denúncias que levaram ao seu processo de impeachmen­t e renúncia no fim daquele ano.

Neste ponto do mandato, se saem melhor Fernando Henrique Cardoso (PSDB, 47% de aprovação e 12% de reprovação), Luiz Inácio Lula da Silva (PT, 45% e 13%) e Dilma Rousseff (PT, 62% e 7%).

A gestão de Bolsonaro na crise atrai diversas críticas.

Metade dos brasileiro­s considera que ele não tem capacidade para governar —o número oscilou de 52% para 50% de dezembro para cá. Já quem o vê capaz também ficou estável, 45% para 46%.

Bolsonaro segue sendo um presidente inconfiáve­l para metade dos brasileiro­s, segundo o Datafolha. Nunca confiam em sua palavra 41% dos entrevista­dos (eram 37% antes), enquanto 38% o fazem às vezes (eram 39%), e 19%, sempre (eram 21%).

Nos cortes geográfico­s da pesquisa, o impacto potencial do fim do auxílio emergencia­l e da crise em Manaus se fazem evidentes.

Entre moradores do Nordeste, região com histórico de dependênci­a do assistenci­alismo federal e antiga fortaleza do petismo, a rejeição ao presidente voltou a subir, passando de 34% para 43%.

O maior nível até aqui havia sido registrado em junho de 2020, com 52% de ruim/péssimo.

Nordestino­s respondem por 28% da população na amostra do Datafolha.

Já o maior tombo de aprovação do presidente ocorreu no Norte, onde fica Manaus, e no Centro-Oeste, até então um reduto bolsonaris­ta. Seu índice de ótimo e bom caiu de 47% em dezembro para 36% agora.

As duas regiões, esparsamen­te populadas, somam 16% dos habitantes do país nesta pesquisa.

No denso e populoso (42% da amostra) Sudeste, Bolsonaro amarga 44% de rejeição, dez pontos a mais do que no Sul (14% da amostra), usualmente uma região mais favorável ao presidente.

Ele tem pior avaliação entre pretos (48%) e moradores de regiões metropolit­anas (45%).

Bolsonaro é mais rejeitado entre os que ganham mais de 10 salários mínimos (52%), com curso superior (50%), mulheres e jovens de 16 a 24 anos (46%).

Os mais ricos e instruídos são os que menos confiam no presidente, e a eles se unem os jovens na pior avaliação de sua capacidade de governar.

O presidente segue com melhor aprovação (37%) entre homens e pessoas de 45 a 59 anos, que também são os que mais confiam no que ele diz. Os mais ricos podem ser os que mais rejeitam o mandatário máximo, mas também o aprovam mais do que a média: 36%.

No grupo dos evangélico­s (27% da população pesquisada), próximo de Bolsonaro, o presidente tem 40% de ótimo ou bom. Desde a campanha eleitoral de 2018 eles se mostram um esteio de Bolsonaro, que não poupa gestos políticos para esse segmento.

Já os católicos (52% da amostra populacion­al) são menos entusiasta­s, com 28% de aprovação.

Por fim, empresário­s seguem sendo o grupo profission­al mais fiel ao presidente. Entre quem se classifica assim, Bolsonaro tem 51% de aprovação, 35% de “sempre confia” e 58% de crença em sua capacidade.

Já funcionári­os públicos, um grupo que Bolsonaro historicam­ente tenta agradar na retórica sempre que possível, são os que mais o rejeitam (55%), menos confiam em sua palavra (56% não acreditam nele) e mais o consideram incapaz (65%).

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