Fase vermelha leva a mudanças no estado
Governo paulista anunciou a abertura de 756 leitos para o enfrentamento da Covid-19 no estado
são paulo O agravamento da pandemia no estado de São Paulo levou o governador João Doria (PSDB) a adiar a volta às aulas, retroceder regiões nas fases do Plano São Paulo a partir de segunda (25) e reabrir um hospital de campanha na capital.
O retorno às aulas presenciais na rede estadual de ensino, que antes estava marcado para o dia 1º de fevereiro, agora acontecerá uma semana depois, no dia 8, para as cerca de 5.000 escolas da rede.
Professores e funcionários da educação, no entanto, devem comparecer presencialmente já na primeira semana de fevereiro para as atividades de formação sobre os protocolos sanitários.
Doria decidiu também que o estado não vai obrigar os alunos a irem para a escola durante as fases mais restritivas da pandemia, a laranja e a vermelha. As escolas públicas e particulares poderão funcionar presencialmente com até 35% dos estudantes nessas fases, mas, ao contrário do que havia sido anunciado anteriormente, as famílias poderão optar por enviar ou não as crianças.
Apesar do adiamento na rede estadual, Rossieli Soares, secretário de Educação da gestão Doria, deu autorização para o funcionamento presencial das particulares.
“Está mantida a autorização para a escola particular que já tinha programado o seu calendário para iniciar em 1º de fevereiro”, disse à imprensa nesta sexta-feira (22).
O governo de São Paulo foi um dos primeiros no país a classificar as escolas como serviço essencial, para que possam permanecer abertas em qualquer momento da pandemia, mesmo em situações mais críticas, como a que vive o estado atualmente.
No sábado (16), Soares tinha aprovado deliberação do Conselho Estadual de Educação que determinava ser obrigatório às escolas estaduais e particulares ofertarem ao menos 1/3 das aulas de forma presencial neste ano. A regra estabelecia ainda que elas deveriam acontecer em todos os meses letivos a partir de fevereiro.
Segundo o secretário, a regra será alterada para que a obrigatoriedade não valha nas fases laranja e vermelha.
“Essa regra não valerá neste momento. Não haverá obrigatoriedade nessas situações, mas a escola pode e deve abrir. Escolas não são locais vetores para a pandemia”, disse.
Mesmo com as mudanças no Plano SP anunciadas nesta sexta, não foi estabelecida nenhuma nova restrição para as escolas já que, em dezembro, o governador publicou decreto permitindo que elas fossem abertas a qualquer momento da pandemia. Na ocasião, ele disse que o funcionamento presencial das instituições de ensino seria a prioridade deste ano.
Atualmente, nas fases vermelha e laranja, as escolas públicas e particulares podem funcionar com 35% dos alunos e as instituições de ensino superior devem permanecer fechadas. Já na fase amarela, os colégios podem funcionar com 70% das matrículas e as faculdades, com 35% Apenas na fase verde é que escolas podem ter aulas com 100% dos alunos e as faculdades, com 70%.
O Centro de Contingência do Coronavírus fez mais uma reclassificação do Plano São Paulo, a terceira em 14 dias, colocando todas as cidades na fase vermelha em todos os dias úteis no período noturno, das 20h às 6h, mais os fins de semana e os feriados.
As nova classificação e as restrições começam a valer a partir da próxima segundafeira (25) e serão válidas até 7 de fevereiro. Como segunda é feriado na capital paulista, o comitê de controle da pandemia decidiu que valerão as regras de um dia útil —fase laranja durante o dia e vermelha à noite.
Com as mudanças de fase, somente atividades essenciais —como supermercados, farmácias e padarias— poderão funcionar nos períodos de vigência da etapa restritiva.
Bares e restaurantes poderão trabalhar apenas com sistema de delivery; shoppings e o comércio devem estar fechados para o público; e parques estaduais, cinemas e teatros não funcionarão no período noturno e aos fins de semana e feriados.
Seis regiões do estado — Barretos, Bauru, Franca, Presidente Prudente, Sorocaba e Taubaté— vão regredir para a fase vermelha e juntam-se a Marília, que estava no estágio mais restritivo da quarentena desde o último dia 15. Nessas cidades, só os serviços essenciais poderão funcionar tanto durante o dia quanto à noite.
As outras dez regiões do estado, incluindo a Grande São Paulo, foram colocadas na fase laranja durante o dia —a segunda mais restritiva— e na vermelha à noite e aos finais de semana. Essa classificação permite o funcionamento de todos os setores de comércio e serviços, com capacidade máxima limitada a 40%, até oito horas por dia. Bares não podem fazer atendimento presencial nesta fase, nem durante o dia.
Segundo o secretário-executivo do centro de contingência, João Gabbardo, o estado tem registrado 1 óbito por Covid a cada 6 minutos e pode correr o risco de não ter mais leitos de UTI se decisões mais rígidas não forem tomadas.
“[Os números] que a gente prevê como cenário nos próximos dias não são tranquilizadores, muito pelo contrário, são muito sombrios”, disse.
Segundo o secretário de Saúde, Jean Gorinchteyn, o coronavírus apresentou uma circulação mais rápida e intensa nos últimos 45 dias, igual ao que foi registrado num período de cinco meses —entre março e agosto de 2020.
Houve aumento de 79% no número de casos, 25% nas internações e 96% no de óbitos nas últimas semanas. “Mais de mil leitos foram ocupados no período por isso”, disse.
Só nos 21 primeiros dias deste ano, o aumento de casos no estado foi de 42% ante o mesmo período de dezembro. Morreram 39% mais pessoas de Covid-19 neste intervalo. Foram 62 mil novos casos e 1.100 óbitos. Ao todo, São Paulo registrou desde o começo da pandemia, em fevereiro de 2020, 1,66 milhão de casos e 50,6 mil mortes.
O comitê também endureceu ainda mais os parâmetros do Plano São Paulo. Para entrar na fase vermelha, o nível de ocupação dos leitos de UTI cai de 80% para 75%. Nenhuma região do estado vai progredir para as fases amarela e verde até 7 de fevereiro.
Questionado sobre uma possível flexibilização das regras antes das festas de fim de ano e que, agora, refletem no agravamento dos índices, Doria disse que seu governo agiu no tempo certo a partir das recomendações de seu comitê de combate à pandemia.
Assim como nas reclassificações anteriores, a informação do endurecimento da quarentena foi anunciada pelo centro de contingência, mesmo Doria estado presente na entrevista desta sexta.
O governo paulista ainda anunciou a abertura de 756 novos leitos para o enfrentamento da Covid-19 no estado. Também será reaberto o hospital de campanha de Heliópolis, na zona sul da capital paulista, com 24 leitos, que deve começar a operar a partir do dia 25 de fevereiro.
Entre os novos leitos criados, 450 serão para enfermaria e outros 306 para o atendimento de casos graves.
Até quinta (21), 58 cidades paulistas tinham ocupação acima de 80% de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) para pacientes em estado grave por Covid-19. Em Itaquaquecetuba, Itatiba, Fernandópolis, Socorro, Américo Brasiliense, Promissão, Artur Nogueira, Pirassununga e Porto Feliz, a taxa já havia atingido 100%.
Numa outra frente, Doria anunciou que ao menos 78 mil profissionais de saúde já foram vacinados no estado com a primeira dose da Coronavac, vacina produzida pela chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan.
Na primeira fase de vacinação, apesar de a prioridade ser os profissionais da linha de frente no combate à pandemia, há inúmeras denúncias de pessoas furando a fila, como mostrou reportagem da Folha (leia mais na pág. B4).
Segundo Gorinchteyn, apenas os profissionais “que estão nos pronto-atendimentos, UTIs e enfermarias para pacientes com ou suspeita de Covid-19 devem ser vacinados”. “Eu mesmo estou na linha de frente, cuido de pacientes com Covid-19 e ainda não tomei a vacina”, afirmou.
Mas apenas cinco hospitais espalhados pelo estado, segundo Gorinchteyn, receberam estoques para as duas doses de vacinação. As demais unidades administraram apenas a primeira dose e aguardam novos lotes.