HC diz ter definido imunização antes de falta de insumo
HC de São Paulo vacinou até funcionários jovens da área de relações institucionais; secretário municipal reclamou
SÃO PAULO O Ministério Público do Estado de São Paulo solicitou informação à Secretaria de Estado da Saúde sobre o fato de a vacinação no Hospital das Clínicas da USP (HC) não estar obedecendo os critérios de prioridade estabelecidos pelo governo paulista e vacinando profissionais que não estão na linha de frente de combate à Covid-19.
Na quinta (21), o secretário municipal de Saúde de São Paulo, Edson Aparecido, acusou o HC de estar sendo privilegiado na distribuição de vacinas na cidade.
Ele afirmou que profissionais que não são da linha de frente da Covid-19 e que não tratam de pacientes estavam já sendo vacinados, enquanto faltavam imunizantes para médicos e enfermeiras que trabalham em UTIs exclusivas para pacientes da doença.
Circularam ainda mensagens nas redes sociais apontando que profissionais do HC de áreas administrativas ou que estão trabalhando em home office receberam a vacina.
Ao mesmo tempo, profissionais de outros hospitais públicos da capital e de unidades de saúde, como UPAs (unidades de pronto-atendimento) e UBSs (unidades básicas de saúde), além do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), ainda não receberam a vacinação.
O hospital convocou até mesmo profissionais jovens da área de relações institucionais (RI) de seu complexo para serem vacinados.
Uma delas é Tamires Pereira. Ela não é médica nem enfermeira, mas sim funcionária do setor de RI do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de SP). Na quinta, ela postou uma foto no Instagram festejando o fato de tomar a primeira dose da Coronavac. “Esperança é o que essa vacina significa pra mim. Sei que ainda temos um longo caminho pela frente, mas saber que existe saída alivia muito o peso de tudo que já passamos”, afirma.
Tamires não tem qualquer responsabilidade por ter entrado na lista de vacinados do HC: ela, como vários outros funcionários, foi convocada por email e apenas apareceu na data e na hora determinada pela instituição para receber o imunizante.
Procurada pela Folha ,ajovem diz que trabalha no térreo do Icesp e que tem contato com pacientes que tratam de câncer e têm Covid-19. A sala dela fica ao lado do prontosocorro do Icesp.
Em ofício enviado ao secretário de Saúde, Jean Gorinchteyn, a promotora Dora Martin Strilicherk diz que os fatos são preocupantes e exigem pronta resposta da administração pública.
“O Hospital das Clínicas (tal como os demais hospitais-escola do Estado), não obstante sua importância e o grau de excelência de seus profissionais, é apenas mais uma da extensa rede de saúde paulista, devendo se sujeitar a todas as regras e critérios definidos para a vacinação no estado de São Paulo, sem privilégios ou discrepâncias em relação aos parâmetros estabelecidos aos demais”, diz ela no ofício.
A promotora lembra que as doses disponíveis das vacinas aprovadas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)
ainda são insuficientes para vacinar todas as pessoas que integram os grupos prioritários e ainda não estão disponíveis insumos para a produção de novas doses, o que pode colocar em risco o sucesso da vacinação e o controle da pandemia.
Martin deu prazo de cinco dias para que a secretaria justifique o ocorrido no Hospital das Clínicas, comprovando que as pessoas até então vacinadas e as que estão em vias de serem vacinadas se tratam de profissionais de saúde que, de fato, fazem parte da linha de frente, não pertencendo ao grupo de pessoas que, apesar de integrarem o quadro funcional do hospital, não lidam diariamente e diretamente com pacientes com Covid-19.
Também pede que o governo explicite quais medidas adotará para que os critérios não sejam burlados nas próximas distribuições de vacinas no HC e nos demais hospitais do estado e que medidas adotará administrativamente em relação ao HC pelo ocorrido.
Solicita também que a secretaria esclareça, diante do cenário atual de doses disponíveis de vacina, quais critérios foram utilizados para a distribuição das doses entre os diversos municípios e serviços e quais os grupos, dentro daqueles que fazem parte do grupo de risco, serão priorizados diante da escassez de doses.
Quer saber ainda de que forma as unidades de saúde e a população estão sendo informados acerca desse novo panorama e como a secretaria está controlando a observância desses critérios e/ou evitando a adoção de critérios que permitam arbitrariedades por parte dos aplicadores das vacinas.
A Secretaria de Estado da Saúde foi notificada pelo Ministério Público e prestará todos os esclarecimentos necessários dentro do prazo.