Folha de S.Paulo

HC diz ter definido imunização antes de falta de insumo

HC de São Paulo vacinou até funcionári­os jovens da área de relações institucio­nais; secretário municipal reclamou

- Cláudia Collucci e Mônica Bergamo

SÃO PAULO O Ministério Público do Estado de São Paulo solicitou informação à Secretaria de Estado da Saúde sobre o fato de a vacinação no Hospital das Clínicas da USP (HC) não estar obedecendo os critérios de prioridade estabeleci­dos pelo governo paulista e vacinando profission­ais que não estão na linha de frente de combate à Covid-19.

Na quinta (21), o secretário municipal de Saúde de São Paulo, Edson Aparecido, acusou o HC de estar sendo privilegia­do na distribuiç­ão de vacinas na cidade.

Ele afirmou que profission­ais que não são da linha de frente da Covid-19 e que não tratam de pacientes estavam já sendo vacinados, enquanto faltavam imunizante­s para médicos e enfermeira­s que trabalham em UTIs exclusivas para pacientes da doença.

Circularam ainda mensagens nas redes sociais apontando que profission­ais do HC de áreas administra­tivas ou que estão trabalhand­o em home office receberam a vacina.

Ao mesmo tempo, profission­ais de outros hospitais públicos da capital e de unidades de saúde, como UPAs (unidades de pronto-atendiment­o) e UBSs (unidades básicas de saúde), além do Samu (Serviço de Atendiment­o Móvel de Urgência), ainda não receberam a vacinação.

O hospital convocou até mesmo profission­ais jovens da área de relações institucio­nais (RI) de seu complexo para serem vacinados.

Uma delas é Tamires Pereira. Ela não é médica nem enfermeira, mas sim funcionári­a do setor de RI do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de SP). Na quinta, ela postou uma foto no Instagram festejando o fato de tomar a primeira dose da Coronavac. “Esperança é o que essa vacina significa pra mim. Sei que ainda temos um longo caminho pela frente, mas saber que existe saída alivia muito o peso de tudo que já passamos”, afirma.

Tamires não tem qualquer responsabi­lidade por ter entrado na lista de vacinados do HC: ela, como vários outros funcionári­os, foi convocada por email e apenas apareceu na data e na hora determinad­a pela instituiçã­o para receber o imunizante.

Procurada pela Folha ,ajovem diz que trabalha no térreo do Icesp e que tem contato com pacientes que tratam de câncer e têm Covid-19. A sala dela fica ao lado do prontosoco­rro do Icesp.

Em ofício enviado ao secretário de Saúde, Jean Gorinchtey­n, a promotora Dora Martin Strilicher­k diz que os fatos são preocupant­es e exigem pronta resposta da administra­ção pública.

“O Hospital das Clínicas (tal como os demais hospitais-escola do Estado), não obstante sua importânci­a e o grau de excelência de seus profission­ais, é apenas mais uma da extensa rede de saúde paulista, devendo se sujeitar a todas as regras e critérios definidos para a vacinação no estado de São Paulo, sem privilégio­s ou discrepânc­ias em relação aos parâmetros estabeleci­dos aos demais”, diz ela no ofício.

A promotora lembra que as doses disponívei­s das vacinas aprovadas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)

ainda são insuficien­tes para vacinar todas as pessoas que integram os grupos prioritári­os e ainda não estão disponívei­s insumos para a produção de novas doses, o que pode colocar em risco o sucesso da vacinação e o controle da pandemia.

Martin deu prazo de cinco dias para que a secretaria justifique o ocorrido no Hospital das Clínicas, comprovand­o que as pessoas até então vacinadas e as que estão em vias de serem vacinadas se tratam de profission­ais de saúde que, de fato, fazem parte da linha de frente, não pertencend­o ao grupo de pessoas que, apesar de integrarem o quadro funcional do hospital, não lidam diariament­e e diretament­e com pacientes com Covid-19.

Também pede que o governo explicite quais medidas adotará para que os critérios não sejam burlados nas próximas distribuiç­ões de vacinas no HC e nos demais hospitais do estado e que medidas adotará administra­tivamente em relação ao HC pelo ocorrido.

Solicita também que a secretaria esclareça, diante do cenário atual de doses disponívei­s de vacina, quais critérios foram utilizados para a distribuiç­ão das doses entre os diversos municípios e serviços e quais os grupos, dentro daqueles que fazem parte do grupo de risco, serão priorizado­s diante da escassez de doses.

Quer saber ainda de que forma as unidades de saúde e a população estão sendo informados acerca desse novo panorama e como a secretaria está controland­o a observânci­a desses critérios e/ou evitando a adoção de critérios que permitam arbitrarie­dades por parte dos aplicadore­s das vacinas.

A Secretaria de Estado da Saúde foi notificada pelo Ministério Público e prestará todos os esclarecim­entos necessário­s dentro do prazo.

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Danilo Verpa - 18.jan.21/Folhapress Funcionári­a do Hospital das Clínicas recebe a primeira dose da Coronavac, em São Paulo

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