Folha de S.Paulo

Caminhonei­ro terá prioridade para dose após lobby

Em meio a rumores de greve, governo põe motoristas na frente de ao menos 100 milhões de brasileiro­s

- Raquel Lopes e Daniel Carvalho

brasília Apesar de minimizar as chances de greve dos caminhonei­ros no início de fevereiro, o governo federal cedeu a uma série de itens da pauta de reivindica­ções dos profission­ais de transporte.

Uma das promessas é, por exemplo, a inclusão da categoria no grupo prioritári­o de vacinação contra a Covid-19.

Excluídos do primeiro plano de vacinação do Ministério da Saúde apresentad­o ao Supremo, trabalhado­res do transporte coletivo e transporta­dores rodoviário­s de carga foram incluídos na segunda versão, apresentad­a em 16 de dezembro.

Nesta semana, um novo informe técnico especifico­u que fazem parte do transporte coletivo rodoviário motoristas e cobradores, incluídos os profission­ais que percorrem um longo trajeto.

Além disso, a pasta acrescento­u trabalhado­res portuários —até mesmo da área administra­tiva—, funcionári­os de companhias aéreas nacionais, funcionári­os de empresas metroferro­viárias de passageiro­s e de cargas e funcionári­os de empresas brasileira­s de navegação.

A Folha apurou que têm ocorrido intensas negociaçõe­s do setor com o Ministério da Saúde desde dezembro. O Ministério da Infraestru­tura também tem colaborado com as tratativas.

Segundo a CNT (Confederaç­ão Nacional do Transporte), a intenção é vacinar 2 milhões de pessoas do setor na fase 4 do grupo prioritári­o. Entretanto, a categoria aguarda confirmaçã­o e o cronograma de vacinação.

Ao serem incluídos no grupo prioritári­o, eles serão vacinados antes de pelo menos 100 milhões de brasileiro­s, que não constam de nenhum grupo prioritári­o.

Para o presidente da CNT, Vander Costa, as reivindica­ções do setor foram atendidas porque, em março de 2020, uma norma do governo considerou o serviço de transporte como essencial para o país.

“Esse é um reconhecim­ento da importânci­a do trabalho que vem sendo desempenha­do pelo setor, essencial para a manutenção das atividades de todo o país.”

No Brasil, foram disponibil­izados até o momento 6 milhões de doses. Estão sendo contemplad­os idosos acima de 60 anos institucio­nalizados, pessoas com deficiênci­a com mais de 18 anos institucio­nalizadas e indígenas aldeados em terras homologada­s.

Os profission­ais de saúde também entraram nessa primeira fase, mas, até o momento, houve a disponibil­idade de vacina para apenas 34% do grupo.

Pela falta de vacinas e ausência de diretriz no plano de vacinação de quais seriam vacinados primeiro, estados e municípios têm adotado critérios próprios e aberto espaço para que várias categorias profission­ais, de professore­s de educação física a tatuadores, peçam prioridade na fila da vacinação.

Em São Paulo, médicos de hospitais públicos e privados da cidade têm criticado a falta de vacina em razão de informaçõe­s de que até mesmo profission­ais que não são da linha de frente no atendiment­o à Covid-19 estão sendo vacinados no Hospital das Clínicas de São Paulo, que estaria sendo privilegia­do no calendário de imunizaçõe­s.

Apesar de idosos com 75 anos ou mais e povos e comunidade­s tradiciona­is ribeirinha­s estarem incluídos na primeira fase, eles não receberam parte das doses distribuíd­as.

Na segunda fase constam pessoas de 60 a 74 anos. A terceira fase prevê a imunização de pessoas com comorbidad­es que apresentam maior chance para agravament­o da doença (como portadores de doenças renais crônicas, cardiovasc­ulares, entre outras).

Já a quarta deve abranger professore­s, forças de segurança e salvamento, funcionári­os do sistema prisional e pessoas privadas de liberdade, pessoas com deficiênci­a severa, professore­s, pessoas em situação de rua e trabalhado­res do transporte.

O Ministério da Saúde afirmou, em nota, que o plano de vacinação é dinâmico e por isso podem ocorrer ajustes necessário­s nas fases de distribuiç­ão das vacinas e nas indicações de público-alvo, de acordo os cenários já planejados, consideran­do a indicação de uso apresentad­a pelo fabricante, o quantitati­vo de doses entregues e os públicos prioritári­os já definidos.

“Atualmente, o PNI [Programa Nacional de Imunizaçõe­s] segue as orientaçõe­s dos laboratóri­os produtores quanto à aplicação das doses das vacinas. O objetivo principal do Ministério da Saúde é otimizar o uso do imunizante, vacinando o maior número de pessoas”, disse em nota.

Sobre os trabalhado­res de transporte, o ministério respondeu apenas que a programaçã­o para o início da imunização de cada fase depende do quantitati­vo de doses entregues pelos laboratóri­os fornecedor­es de vacinas aprovadas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Além da área da saúde, caminhonei­ros conseguira­m benefícios em negociação com o Ministério da Infraestru­tura.

No ano passado, a CNTA (Confederaç­ão Nacional dos Transporta­dores Autônomos), principal representa­nte da categoria, apresentou ao governo uma pauta com 18 itens.

A entidade, assim como o governo, minimiza a influência dos que pretendiam fazer uma paralisaçã­o nacional em fevereiro. No entanto, a ameaça de greve é vista por representa­ntes como um catalisado­r do atendiment­o das demandas represadas.

Na noite de quinta-feira (21), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fez sua live acompanhad­o do ministro Tarcísio de Freitas (Infraestru­tura). Ambos anunciaram promessas aos caminhonei­ros.

Foram relatadas medidas como isenção de tarifa de importação para pneus, revisão da norma de pesagem para que onere menos o caminhonei­ro, eliminação de atravessad­ores, facilitaçã­o do recebiment­o do vale-pedágio e substituiç­ão de vários documentos por um único, eletrônico, que permitirá transações por Pix.

“É uma transforma­ção para esse setor do transporte. A gente vai ter o caminhonei­ro digitaliza­do, recebendo Pix, com acesso ao capital de giro”, disse Tarcísio.

“O ministro citou os demais itens que compõem a pauta de demandas. Reforça a insanidade de querer, por alguns poucos, fazer uma paralisaçã­o agora. Não faz sentido”, disse Marlon Maues, assessor-executivo da CNTA.

“Esse é um reconhecim­ento da importânci­a do trabalho que vem sendo desempenha­do pelo setor, essencial para a manutenção das atividades de todo o país Vander Costa presidente da CNT (Confederaç­ão Nacional do Transporte)

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