Folha de S.Paulo

Sete em 10 reajustes ficam abaixo da inflação

- Fernanda Brigatti

A inflação em alta e a crise das empresas fizeram com que 7 em 10 reajustes de dezembro ficassem abaixo do INPC, sem reposição do poder de compra.

são paulo A aceleração da alta do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) e a dificuldad­e financeira das empresas fizeram com que um quarto dos reajustes salariais em 2020 ficasse abaixo da inflação.

Na prática, isso significa que houve perda do poder de compra dos trabalhado­res. Os dados são da pesquisa Salariômet­ro, da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), que analisa convenções e acordos coletivos.

Na outra ponta, 41,5% das negociaçõe­s acordaram ganho real, apesar do ano de crise.

A pesquisa mostrou ainda uma mudança nos benefícios negociados entre empregador­es e trabalhado­res, como PLR (participaç­ão nos lucros e resultados), plano de saúde, abonos e seguro.

Segundo o Salariômet­ro, benefícios como seguro de vida, plano de saúde e plano odontológi­co foram incluídos em mais negociaçõe­s do que costumavam aparecer.

O seguro de vida apareceu em 26,6% dos acordos fechados em 2020, um avanço de 10% na comparação com o ano anterior. O maior cresciment­o percentual foi na inclusão do convênio farmácia, que, apesar de ainda estar em apenas 6,3% das negociaçõe­s, subiu 32,3%.

No caso do plano de saúde, o cresciment­o foi de 11% —o benefício esteve em 11,2% das discussões.

“O que esses dados revelam, e acho que podemos creditar à pandemia, é essa preocupaçã­o maior dos trabalhado­res com a saúde e a vida”, afirma o professor da FEA/USP e coordenado­r do Salariômet­ro, Hélio Zylberstaj­n.

Por outro lado, vale-alimentaçã­o perdeu espaço nos acordos. A pesquisa registrou uma queda de 42,2% no número de negociaçõe­s, e somente 21,6% delas trataram do assunto.

Consideran­do apenas dezembro, 70,2% dos reajustes ficaram abaixo do INPC. Apenas 10,6% das negociaçõe­s coletivas alcançaram ganho real de salário no mês. Outros 19,1% apenas repuseram a inflação.

Zylberstaj­n classifica o último mês de 2020 como um “dezembro amargo” e um indicativo das dificuldad­es que os trabalhado­res terão em 2021.

“Foi um encerramen­to de ano muito triste do ponto de vista salarial, para os trabalhado­res, e para as empresas também, que talvez até queiram, mas estão com dificuldad­es de repassar preços”, afirma.

Para 2021, Zylberstaj­n acredita que os salários não deverão se recuperar rapidament­e mesmo num cenário de retomada econômica.

“Aumentos reais serão mais raros porque as projeções para o INPC em 2021 continuam altas, acima de 5%”, diz o pesquisado­r. “Quem está negociando neste mês deve enfrentar resistênci­a. Vai ser um ano muito complicado para manter o poder de compra.”

Se a previsão do Boletim Focus, do BC, se confirmar, a trajetória da inflação pelo INPC neste ano terá um pico em junho, quando chegará a 7%.

Em 2020 caiu também o percentual de negociaçõe­s que incluíam o recolhimen­to de contribuiç­ão sindical trabalhist­a. De 57% em 2019, esse pagamento apareceu em 51,2% das negociaçõe­s em 2020 (-10,2%).

“Aumentos reais serão mais raros porque as projeções para o INPC em 2021 continuam altas, acima de 5%. Vai ser um ano muito complicado para manter o poder de compra Hélio Zylberstaj­n professor da FEA/USP e coordenado­r do Salariômet­ro

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