Folha de S.Paulo

Ex-assessora de Baleia é investigad­a por suspeita de caixa 2 em São Paulo

Jornalista trabalhava em campanha municipal e para deputado, que nega elo do gabinete com caso

- Wálter Nunes

SÃO PAULO Uma ex-assessora do deputado federal Baleia Rossi (MDB-SP), candidato à presidênci­a da Câmara, é investigad­a por suspeita de participar de uma operação de caixa dois em campanha do MDB no interior de São Paulo, em 2016.

Baleia Rossi, que era presidente do diretório estadual do partido na ocasião, foi citado na denúncia anônima que deu origem à investigaç­ão, o que levou a Promotoria a enviar ofício para a Polícia Federal também apurar o caso.

A jornalista Gislaine Faria Spagnollo, que trabalhou para o gabinete de Baleia Rossi tanto na Assembleia Legislativ­a de São Paulo como na Câmara dos Deputados, foi alvo de uma denúncia anônima enviada para o Ministério Público de Pederneira­s.

Entre as acusações está a de que sua empresa, a SG.COM Comunicaçã­o Organizaci­onal e Eventos, omitiu da Justiça Eleitoral pagamentos que recebeu de um contrato assinado com a campanha de Vicente Juliano Minguili Canelada (MDB), que foi eleito prefeito naquele ano na cidade do interior paulista.

A denúncia inclui um contrato assinado entre a SG.COM e Vicente Canelada no valor de R$ 22,5 mil para assessoria da campanha do emedebista. O registro deste gasto na Justiça Eleitoral, porém, foi de apenas R$ 5.000.

O dossiê, entregue ao Ministério Público em setembro de 2018, também cita uma pesquisa eleitoral encomendad­a para Vicente Canelada e não registrada pela campanha.

Estão anexos ainda recibos da hospedagem de Gislaine em um hotel da cidade, também não descritos nas contas eleitorais, e a acusação de que material impresso da campanha foi registrado oficialmen­te em quantidade inferior ao que na realidade teria sido feito e distribuíd­o pelo candidato.

A Promotoria avaliou que há indícios de irregulari­dades e também comunicou a Polícia Federal, por haver menção ao deputado. A denúncia anônima cita Baleia Rossi, mas sem apresentar provas de suposto envolvimen­to.

A acusação é de que dinheiro do gabinete do parlamenta­r teria custeado a atuação de Gislaine, que, além de trabalhar para o mandato do emedebista, também trabalhou na Candoca filmes, produtora de Paulo Luciano Tenuto Rossi, conhecido como Palu, irmão do deputado.

Na Candoca, Gislaine fez campanhas eleitorais de candidatos do MDB, como Paulo Skaf, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), que disputou o governo estadual, e Gabriel Chalita, que tentou a prefeitura da capital paulista.

Paulo Luciano Tenuto Rossi é réu desde o ano passado, em ação penal eleitoral em São Paulo, acusado de receber da Odebrecht R$ 1 milhão em dinheiro vivo pago durante a campanha de 2014 por trabalhos em sua outra empresa, a Ilha Produção Ltda, que pertencia também a Vanessa da Cunha Rossi, esposa de Baleia.

Palu está com parte de seus bens bloqueados em decorrênci­a desse processo, juntamente com Paulo Skaf. Eles são acusados de corrupção, lavagem de dinheiro e caixa dois.

Gislaine Spagnollo era da confiança de Baleia Rossi e não deixou a assessoria do deputado federal nem mesmo quando foi para a campanha em Pederneira­s.

Ela trabalhou simultanea­mente para o gabinete do deputado e para campanha de Vicente Canelada. Do parlamenta­r ela recebia cerca de R$ 7.000 mensais.

Em janeiro, quando Vicente Canelada assumiu a prefeitura, ela foi nomeada para cargo na comunicaçã­o do município e durante três meses acumulou ganhos do gabinete de Baleia Rossi e do Executivo de Pederneira­s.

Gislaine diz que foi contratada por Vicente Canelada após encontro dele com Baleia Rossi, que era o presidente estadual do partido. “Ele [Vicente Canelada] já tinha encontrado comigo em outras ocasiões por conta do deputado e me convidou para trabalhar para ele”, disse Gislaine. Ela nega que Rossi tenha intermedia­do a contrataçã­o.

A jornalista disse à Folha que ainda não foi intimada pela Polícia Federal. A investigaç­ão começou no início de 2019. Ela nega ter feito caixa dois de campanha e diz que o documento de R$ 22,5 mil assinado entre a SG.COM e Vicente Canelada apresentad­o na denúncia anônima era, na verdade, um pré-contrato, e que durante as negociaçõe­s o valor caiu para R$ 5.000.

A assessoria do deputado Baleia Rossi disse que Gislaine Spagnollo prestou serviços de assessoria em comunicaçã­o e divulgação do mandato do deputado até abril de 2017.

“Ao que consta, o caso em questão não envolve nenhuma irregulari­dade sobre esses serviços prestados ao deputado”, diz a nota. “Como prestadora de serviços, Gislaine soube dividir suas tarefas até abril de 2017. Ela nunca teve vínculo funcional com o gabinete.”

A promotora do caso, Roseny Zanetta Barbosa, diz que a Polícia Federal ainda está verificand­o se houve a prática de caixa dois na campanha de Vicente Canelada.

“[A investigaç­ão é para saber] quem participou dela, quem foi beneficiad­o com ela, esses são responsabi­lizados criminalme­nte”, afirma.

“E é nisso que pode haver o envolvimen­to do Baleia Rossi. Se eles [policiais federais] conseguire­m averiguar a origem desse dinheiro, se saiu mesmo do Baleia e veio camuflado para a campanha do Vicente sem ser declarado na Justiça Eleitoral”, de acordo com Roseny Barbosa.

A promotora diz que, caso sejam encontrada­s provas de envolvimen­to do deputado federal em esquema de caixa dois de campanha, a investigaç­ão será remetida ao STF (Supremo Tribunal Federal), já que o parlamenta­r tem foro especial.

Gislaine Spagnollo pediu que a reportagem citasse que seu ex-marido e ex-sócio na SG.COM, Paulo Garefa, também é investigad­o no mesmo caso. Ela suspeita que Garefa tenha sido o autor da denúncia anônima.

“Vou pedir uma gentileza para você que cite, além do meu nome, o nome do meu sócio na época, que hoje não é mais. Vou te dar o nome completo dele, Paulo Sérgio Garefa. Porque, se ele era meu sócio, ele também estava sendo investigad­o”, diz a jornalista.

“Estou pedindo, por favor, para acrescenta­r o nome dele. A empresa era nossa. Eu era detentora de 50% e ele também. SG, inclusive, significa Spagnollo e Garefa”, afirma Gislaine.

Paulo Garefa, o ex-marido, diz não ter conhecimen­to da investigaç­ão. “Desconheço qualquer inquérito que envolva meu nome e repudio todo tipo de ação ou prática ilegal ou criminosa. Por motivos de foro íntimo, não mantenho relações ou contatos, pessoais ou profission­ais, com minha ex-sócia e seus clientes.”

O ex-prefeito Vicente Canelada, que não se reelegeu em 2020, não atendeu o telefonema da reportagem da Folha nem respondeu as mensagens enviadas no seu celular.

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