Biden turbina auxílio contra crise de fome agravada pela Covid-19
WASHINGTON | AFP e reuters Dois dias após assumir a Casa Branca, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, começou a tentar combater um dos efeitos mais visíveis da crise econômica provocada pela pandemia de coronavírus —a fome— com um decreto para aumentar o auxílio alimentar dado a milhões de americanos.
Ele assinou, nesta sexta-feira (22), duas ordens executivas: uma para aumentar os programas de auxílio aos desempregados e aos que recorrem a bancos alimentares, e a segunda para fortalecer direitos sociais de trabalhadores.
“Quase 30 milhões de americanos sofrem por não ter suficiente para comer”, disse Brian Deese, diretor do Conselho Econômico Nacional da Casa Branca. “Isso inclui 1 em cada 5 adultos negros e latinos”, contou, observando que 1 em cada 7 lares tem dificuldades de acesso a alimentação adequada.
Outro desafio do novo governo será encontrar formas de garantir que a ajuda direta já aprovada pelo Congresso chegue de fato às famílias que precisam do auxílio. Segundo o conselho, muitos americanos tiveram problemas para receber a primeira parcela de pagamentos diretos e até 8 milhões de famílias elegíveis não a receberam.
O plano de Biden é pedir ao Departamento de Agricultura que expanda seu programa para famílias e indivíduos de baixa ou nenhuma renda e, ao Departamento do Tesouro, que expanda os mecanismos de entrega dos auxílios, criando, por exemplo, ferramentas para solicitações online.
O governo propõe ainda aumentar em 15% o valor depositado nos EBT, cartões eletrônicos por meio dos quais os beneficiários têm acesso ao auxílio federal. Hoje, o valor é de até US$ 5,7 (R$ 30,90) diários por criança em idade escolar.
O objetivo é “refletir corretamente o custo das refeições perdidas” com o fechamento das escolas. Segundo Deese, cerca de 12 milhões de crianças no país não têm suficiente para comer, embora as escolas forneçam refeições diárias a alunos de famílias pobres.
“Essas são ações concretas e vão ajudar as famílias que precisam de assistência imediata, mas não são suficientes para resolver a crise alimentar que enfrentamos”, admitiu. “Daí a necessidade de um plano de resgate para a economia.”
O segundo decreto de Biden visa restaurar o poder de negociação coletiva e as proteções aos trabalhadores federais ao revogar três decisões do ex-presidente Donald Trump classificadas como tentativas de “destruir” e “marginalizar” a carreira dos servidores públicos.
A ordem exige que empresas terceirizadas paguem pelo menos US$ 15 (R$ 81,34) por hora —desde 2009, o salário mínimo federal é de US$ 7,25 (R$ 39,32) por hora— e garantam a trabalhadores “licença de emergência remunerada”.
“Essas medidas ajudarão a tornar o governo federal um empregador modelo e a restaurar as proteções sociais a funcionários de carreira tão essenciais ao país”, disse o Conselho em nota.
Na prática, o novo governo quer fazer dos dois decretos uma tentativa de alívio para as pessoas mais afetadas pela pandemia enquanto avançam no Congresso americano as negociações sobre o pacote de US$ 1,9 trilhão (R$ 10,3 trilhões) apresentado por Biden na semana passada.
O programa de estímulos à economia inclui US$ 415 bilhões (R$ 2,25 trilhões) para reforçar a resposta à pandemia e a campanha de vacinação, cerca de US$ 1 trilhão (R$ 5,42 trilhões) para programas de ajuda direta às famílias, e outros US$ 440 bilhões (R$ 2,38 trilhões) em incentivos a pequenas empresas e comunidades particularmente atingidas pela Covid-19.
O auxílio emergencial proposto por Biden às famílias é de US$ 1.400 (R$ 7.600), além dos cheques de US$ 600 (R$ 3.250) aprovados pela última legislação de estímulo.
Além disso, a proposta prevê prorrogação até setembro do seguro-desemprego suplementar, que deve ir de US$ 300 (R$ 1.626) a US$ 400 (R$ 2.169) por semana.
Segundo Biden, é necessário um investimento ousado que possa ser aplicado em agenda de curto prazo para impulsionar a economia
“Quase 30 milhões de americanos sofrem por não ter o suficiente para comer, pela pesquisa mais recente. Isso inclui 1 em cada 5 latinos Brian Deese diretor do Conselho Econômico Nacional da Casa Branca
e acelerar a distribuição de vacinas para controlar a Covid-19 —o vírus infectou 24 milhões e matou mais de 410 mil pessoas nos EUA.
Biden visa iniciar seu mandato com um projeto que demonstra, ao mesmo tempo, ações práticas e contrastantes com as políticas de Trump. Este concentrou seus últimos meses na Casa Branca nas tentativas de deslegitimar a vitória do adversário democrata.
O plano de Trump, entretanto, também era oferecer auxílios de US$ 2.000 (R$ 10,8 mil) aos americanos, valor ao qual se opuseram muitos republicanos. Assim, Biden também deve enfrentar obstáculos, visto que os congressistas já aprovaram no mês passado pacote de estímulos de US$ 900 bilhões (R$ 4,8 tri).
Conta a favor do presidente, porém, o fato de que seus colegas democratas controlam a Câmara e o Senado. Os líderes das duas Casas, Nancy Pelosi e Chuck Schumer, afirmaram nesta quinta que o pacote econômico do novo presidente é “a abordagem certa” e prometeram trabalhar para aprová-lo rapidamente.