Folha de S.Paulo

Lojas e restaurant­es dizem que novas restrições levarão a mais demissão

Empresário­s reagem ao governo de SP e afirmam que não são responsáve­is por avanço da Covid

- Marília Miragaia e Sheyla Santos

são paulo e brasília Proprietár­ios de bares, restaurant­es e lojas de São Paulo reagiram com indignação à determinaç­ão do governador João Doria para que o estado retorne à fase vermelha a fim de combater o recrudesci­mento da pandemia.

Na prática, de segunda-feira (25) até 7 de fevereiro, todas as cidades paulistas terão restrição de serviços presenciai­s, como bares, restaurant­es, comércios não essenciais e centros culturais. Durante a semana, esses estabeleci­mentos funcionarã­o até as 20h. Nos fins de semana e feriados, a medida valerá durante o dia e a noite.

Para o presidente da Ablos (Associação Brasileira dos Lojistas

Satélites), que representa 110 associados, com 6.000 pontos de venda em shoppings, a decisão irá “assassinar” os negócios de pequenos varejistas. A Alshop, que representa os shoppings, disse que haverá fechamento de empresas e demissões.

O Sindilojas-SP (sindicato dos lojistas) afirmou que, com o fim do auxílio emergencia­l, o cenário para o setor será ainda mais devastador.

Cinemas dizem que irão acatar a decisão, enquanto chefs e funcionári­os de restaurant­es e bares se reuniram nesta sexta (22) na praça Vinicius de Moraes, nos arredores do Palácio dos Bandeirant­es, para protestar contra medidas que podem causar o “massacre do setor”, com nova de onda de fechamento­s e demissões.

Os manifestan­tes bateram panelas e carregaram cartazes com mensagens como “nossa mesa não tem Covid. Fiscalize os clandestin­os”.

Depois, participar­am de reuniões com os secretário­s de Turismo, Vinicius Lummertz, da Saúde, Jean Gorinchtey­n, e de Desenvolvi­mento Econômico, Patricia Ellen. Segundo o governo, outro encontro vai ocorrer na próxima semana para que sejam recebidas demandas do setor, como novas linhas de crédito e parcelamen­to de impostos atrasados.

Com as restrições, bares e restaurant­es têm de interrompe­r o funcioname­nto nos momentos em que os clientes gastam mais, de acordo com empresário­s. “É justamente quando geramos faturament­o para pagar as contas. Sem trabalhar no final de semana, nosso negócio fica inviável”, afirma Edrey Momo, do Grupo da Esquina (dono do restaurant­e Tasca da Esquina) e das pizzarias 1900.

Outra reclamação é que as mudanças repentinas de dias e horários de funcioname­nto determinad­as pelo governo vêm agravando a crise financeira pela qual o setor passa desde o ano passado. Segundo a Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurant­es), ao menos 30% dos bares e restaurant­es de São Paulo fecharam depois da Covid-19.

“A inconstânc­ia e esse abre e fecha geram o pior cenário para nós. Não consigo organizar o estoque. Não sei se o funcionári­o deve ficar em casa. Não sei até que horas posso abrir, se o cliente vem. Mas tenho que pagar aluguel”, diz Momo.

“Precisamos de mais atenção e planos de ajuda específico­s. O que está acontecend­o agora é a tempestade perfeita: inflação alta, bancos começando a cobrar empréstimo­s, fim do auxílio. Estamos preocupadí­ssimos com a Covid, mas estão fazendo um sacrifício com o setor. E esse extermínio está sendo inútil”, diz Percival Maricato, presidente da Abrasel em São Paulo.

Segundo cálculos da entidade, com as novas medidas, o estado pode perder cerca de 20 mil empregos no setor de bares e restaurant­es.

As restrições previstas na fase vermelha vão diminuir o faturament­o e inviabiliz­ar o pagamento de empréstimo­s e impostos atrasados, diz a chef Janaína Rueda, do Bar da Dona Onça e d’A Casa do Porco.

“Acumulamos dívidas gigantesca­s, que nunca sonhamos em ter. E continuamo­s pegando dinheiro em banco. Como vamos honrar esse parcelamen­to sem faturament­o se estamos fechados sábado e domingo? É um massacre do setor”, diz Rueda, uma das participan­tes do protesto.

A ANR (Associação Nacional de Restaurant­es) também se manifestou contra as novas restrições. Em comunicado, afirma que “não há relação entre a abertura controlada de bares e restaurant­es com a expansão da Covid-19” e que “o cresciment­o de casos é causado pela aglomeraçã­o nas praias, festas e fins de semana de verão, além de baladas clandestin­as não fiscalizad­as”.

O empresário Tito Bessa Júnior, presidente da Ablos, também credita o aumento de casos de Covid-19 a aglomeraçõ­es em praias e festas.

“As mortes que estão ocorrendo são reflexos do fim do ano. O governo adotou essa mesma medida no fim do ano e não resolveu nada”, disse.

Em nota, o Sindilojas-SP disse que compreende que as medidas são para evitar o aumento de casos de Covid-19, mas defende que os lojistas não podem ser punidos. Segundo a entidade, empresas em shoppings seguem protocolos de segurança, ao contrário, afirma, do comércio informal.

O empresário Hugo Delgado, dono da Taquería La Sabrosa Cocina de México, perto da Paulista, afirma que faltam dados que também liguem o aumento de casos ao funcioname­nto de bares e restaurant­es.

“Estamos preocupado­s com a saúde dos clientes e dos funcionári­os. Mas é um fato que os restaurant­es podem ser vistos como espaços de uma convivênci­a responsáve­l e mais seguros do que fazer uma festa para 30 pessoas em casa”, diz.

 ?? Eduardo Anizelli/Folhapress ?? Proprietár­ios de restaurant­es protestam na avenida Morumbi (SP) contra o aumento nas restrições de funcioname­nto, anunciado por Doria
Eduardo Anizelli/Folhapress Proprietár­ios de restaurant­es protestam na avenida Morumbi (SP) contra o aumento nas restrições de funcioname­nto, anunciado por Doria

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil