Folha de S.Paulo

Bolsa acumula duas semanas de queda com piora na crise de saúde

- Júlia Moura Com Reuters

são paulo Pela primeira vez desde setembro, a Bolsa de Valores brasileira acumulou duas semanas consecutiv­as de queda. O movimento reflete o receio de investidor­es com as novas restrições para conter o avanço do coronavíru­s e com apoios a um novo auxílio emergencia­l.

O Ibovespa caiu 0,80% nesta sexta-feira (22), para 117.380,49 pontos, menor nível desde 22 de dezembro, e acumulou desvaloriz­ação de 2,47% na semana —na anterior, recuara 3,78%. Em 2021, há desvaloriz­ação de 1,38%.

O dólar subiu 2,12% nesta sexta, maior variação desse 23 de setembro, e fechou a R$ 5,4770. No ano, a moeda acumula alta de 5,55% —o real tem o pior desempenho de 2021 entre os países emergentes. Na semana, subiu 3,32%.

Para Luiz Fernando Alves, sócio do Fundo Versa, o real é o “ativo brasileiro mais surrealmen­te fora de preço”.

“Com as commoditie­s onde estão, os termos de troca nunca foram tão favoráveis.

Temos superávit em contacorre­nte, reservas, e somos a pior moeda emergente póscrise. Essa é a melhor ilustração do risco Bolsonaro”, escreveu em seu Twitter.

O presidente Jair Bolsonaro tem sido alvo de críticas por sua condução do país em meio à pandemia de Covid-19, com atrasos e falta de insumos na vacinação.

O agravament­o da crise sanitária tem tido efeitos sobre a popularida­de de Bolsonaro e, por sua vez, alimentado temores no mercado da volta do auxílio emergencia­l. A criação de mais despesas pode ameaçar o teto de gastos, visto pelo mercado como âncora fiscal do país.

“A incerteza para o primeiro trimestre permanece elevada, com o agravament­o da pandemia a curto prazo e atraso na vacinação”, disse o departamen­to de pesquisas econômicas do Bradesco, em relatório a clientes.

Enquanto os casos de Covid-19 disparam, novas medidas restritiva­s são adotadas. O estado de São Paulo, que responde por um terço do PIB [Produto Interno Bruto] do Brasil, endureceu restrições ao funcioname­nto de estabeleci­mentos como bares, restaurant­es, comércios não essenciais e shoppings.

“Isso deve trazer um impacto econômico e, com isso, provavelme­nte levar o BC a esperar mais antes de subir os juros. E isso não ajudaria a defender o câmbio”, afirmou Jerson Zanlorenzi, responsáve­l pela mesa de renda variável e derivativo­s do BTG Pactual digital.

No exterior, o viés também foi negativo na sessão. Dados apontam que a atividade empresaria­l na zona do euro encolheu em janeiro com rígidos lockdowns para controlar a pandemia.

Para Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora, os dados aquém do esperado são “um sinal de alerta sobre as otimistas perspectiv­as de cresciment­o para este ano”.

O índice Stoxx 600, que reúne as ações das principais empresas da região, caiu 0,6%.

As ações do segmento de viagens e lazer caíram 2,5%, liderando as perdas entre os setores em meio a preocupaçõ­es com novas restrições de viagens na Europa.

Londres recuou 0,30%, Paris, 0,56%, e Frankfurt, 0,24%.

Em Nova York, o S&P 500 cedeu 0,30%, o Dow Jones, 0,57%, e a Nasdaq, 0,09%.

O petróleo também se desvaloriz­ou. O barril de Brent (referência internacio­nal) cedeu 1,23%, a US$ 55,41, enquanto o WTI (referência nos EUA) se desvaloriz­ou em 1,62%, para US$ 52,27.

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