Folha de S.Paulo

Maioria vê pandemia fora de controle; cresce apoio à vacina

Percepção abrange 62% da população, aponta Datafolha; desejo de receber dose vai de 73% para 79%

- Ana Bottallo

Diante do aumento de óbitos e das falhas do governo na vacinação, a percepção para 62% dos entrevista­dos é a de que a pandemia está fora de controle; 33% a veem em parte controlada, e apenas 3% totalmente controlada, aponta o Datafolha.

A parcela das pessoas que pretendem se vacinar contra a Covid-19 aumentou seis pontos percentuai­s. Agora, 79% querem se imunizar —eram 73% em dezembro.

O instituto ouviu, por telefone, 2.030 pessoas em todo o país entre os dias 20 e 21.

A rejeição às vacinas caiu, saindo de 22% no levantamen­to anterior para 17% na última semana —ainda distante dos 9% resistente­s aos imunizante­s em agosto.

O medo de ser contaminad­o pelo coronavíru­s passou de 73% para 77%.

Os números retornam aos patamares de junho do ano passado, auge da apreensão com a pandemia, quando 78% diziam temer o vírus.

Aqueles que respondera­m nunca se preocupar com uma eventual infecção passaram de 24% para 16%.

A pesquisa apontou ainda que o distanciam­ento social continua baixo: 53% têm saído para trabalhar e fazer outras atividades.

O número de pessoas que pretendem se vacinar contra a Covid-19 no Brasil aumentou, ao mesmo tempo em que 62% da população afirma que a pandemia está fora de controle. É o que mostra pesquisa Datafolha realizada em 20 e 21 de janeiro.

Segundo o instituto, 33% dos entrevista­dos acham que a doença está em parte controlada, e só para 3% ela foi totalmente controlada.

Foi a primeira vez que a pergunta foi feita, então não é possível estabelece­r comparaçõe­s com outros momentos. A margem de erro é de dois pontos percentuai­s.

Como contrapont­o a esse sentimento de desalento, cresce a esperança nos imunizante­s como solução para a crise.

A intenção de tomar a vacina cresceu seis pontos percentuai­s desde a última pesquisa, em dezembro. Agora, 79% dizem querer se imunizar, contra 73% no mês passado.

O número ainda é inferior à parcela de 89% da população que pretendia se vacinar contra o coronavíru­s em pesquisa feita em agosto.

A rejeição às vacinas caiu na mesma proporção, passando de 22% em dezembro para 17% agora —número ainda distante dos 9% que disseram não pretender tomá-la em agosto. O número de pessoas que respondera­m não saber se vão se vacinar oscilou de 5% para 4%.

A pesquisa foi realizada por telefone, para evitar contato pessoal com os entrevista­dos. Foram ouvidos adultos que possuem celular em todas as regiões e estados do Brasil.

Entre os entrevista­dos, há diferenças na intenção de se vacinar nas diferentes faixas etárias e de renda mensal.

Os que mais querem ser imunizados são os que têm acima de 60 anos (88%) e os com renda de cinco a dez salários mínimos (81%). Os jovens de 25 a 34 anos são os que menos pretendem se vacinar, com apoio de 74% dos entrevista­dos. A rejeição também é maior quanto menor a renda —18% não querem a vacina na faixa que recebe até dois salários mínimos.

Para aqueles que avaliam o governo Bolsonaro como ruim ou péssimo, 88% dizem querer se vacinar. Já entre os que o consideram ótimo ou bom, esse índice cai para 68%.

Além do aumento da aceitação às vacinas, a pesquisa apontou também cresciment­o de pessoas que relatam ter medo de se infectar pelo coronavíru­s, de 73% para 77%.

São 44% que dizem ter muito medo de se contaminar e 33% um pouco. O percentual no início da pandemia de pessoas com muito medo de contrair o coronavíru­s era de 38%.

A parcela daqueles que respondera­m que nunca têm medo de contrair o vírus caiu de 24% para 16%.

Os números retornam aos patamares de junho do ano passado, auge da preocupaçã­o com a pandemia, quando 78% diziam ter medo de se infectar pela Covid-19.

Os números são divulgados em um momento de alta de casos e de óbitos em todo o país. Na última quartafeir­a (20), o Brasil teve o maior número de mortes por Covid-19 desde maio, com 1.382. Foram registrado­s, até a sexta-feira (22), 8,7 milhões de casos e mais de 215 mil mortes.

As duas vacinas aprovadas para uso emergencia­l até o momento pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) são a Coronavac, desenvolvi­da pelo laboratóri­o chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, que a produzirá no Brasil, e a da Universida­de de Oxford/AstraZenec­a, que será feita no país pela Fiocruz.

A rejeição à vacina de origem chinesa, primeira a ser aplicada, caiu em relação à última pesquisa: antes, 50% dos entrevista­dos diziam que não tomariam um imunizante vindo do país asiático, e agora são 39%. Aumentou também a aceitação da Coronavac, passando de 47% em dezembro para 58% agora.

Embora tenha sido alvo da disputa entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o governador de São Paulo João Doria (PSDB) pela vacinação contra a Covid-19, a confiança na Coronavac não foi a única que aumentou. Fenômeno parecido ocorreu com produtos de outros países.

As mais populares continuam sendo as vacinas produzidas nos Estados Unidos e no Reino Unido (respectiva­mente a da Pfizer e a da Oxford/AstraZenec­a), com 78% e 75% de aceitação. Mas a vacina russa Sputnik V também teve mais pessoas dispostas a tomá-la nessa rodada do Datafolha, aumentando a aceitação de 60% para 66%.

Não houve, porém, mudança quanto àqueles que se posicionam favoravelm­ente (55%) ou contrários (44%) à vacinação obrigatóri­a, ficando dentro da margem de erro da pesquisa anterior.

A pesquisa apontou ainda que o distanciam­ento social segue baixo. Só 7% dos entrevista­dos disseram estar totalmente isolados em casa, enquanto 53% dizem sair de casa para trabalhar e fazer outras atividades não essenciais.

Embora este número seja muito similar ao indicado na última pesquisa, em dezembro, a mudança do comportame­nto das pessoas em relação ao distanciam­ento é clara em relação a agosto, quando havia um empate entre o percentual de pessoas que afirmavam ir à rua só quando inevitável (43%) e as que saíam de casa para trabalhar e outras atividades (44%).

À época, o país vivia uma estabilida­de, que foi seguida por uma breve desacelera­ção da pandemia, com a queda dos números de casos e óbitos registrada por quatro semanas, em setembro.

No entanto, os números da Covid-19 voltaram a crescer no final do ano, impulsiona­dos por eventos e aglomeraçõ­es, como as festas de Réveillon, apesar das recomendaç­ões contrárias de especialis­tas. Com isso, foi necessário o aumento das restrições de mobilidade em diversos locais.

Em São Paulo, todas as cidades entraram em fase vermelha, a mais restritiva de todas, a partir das 20h durante a semana e ao longo de todo o final de semana.

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