Folha de S.Paulo

Chamado de anjo, foi pediatra de gerações em Bauru (SP)

CLOVIS CELULARE (1946-2021)

- Cristina Camargo coluna.obituario@grupofolha.com.br

A consultora Rosa Maria Morceli conheceu o pediatra Clovis Celulare em uma circunstân­cia dramática: o filho mais velho dela nasceu prematuro, ficou 11 dias na UTI e precisou de cuidados intensivos para sobreviver.

“O Celulare ficou na maternidad­e, sem ir pra casa, até ter certeza que meu filho estava fora de perigo”, lembra ela sobre o atendiment­o que aconteceu há 41 anos.

Foram três dias de plantão médico até o bebê ter forças para sugar o leite materno. “Ele falou: ‘mãe, só o seu leite vai salvar seu filho’.”

Deu certo. César Augusto Morceli Rodrigues cresceu saudável e o médico ganhou de Rosa o apelido de “anjo”. Celulare, vítima da Covid-19 aos 74 anos, era o pediatra mais conhecido de Bauru. Atendeu centenas de crianças no Hospital de Reabilitaç­ão de Anomalias Craniofaci­ais da USP (Centrinho), onde atuou durante 32 anos, e em seu consultóri­o particular.

A morte fez com que mães, pais, colegas de trabalho e antigos pacientes ocupassem as redes sociais para contar sobre a relação de confiança com o profission­al atencioso.

Um desses antigos pacientes é o deputado federal Rodrigo Agostinho (PSB), 43, que foi prefeito de Bauru durante dois mandatos, de 2009 a 2016.

“Clóvis deixou sua marca de competênci­a na vida de milhares de famílias e suas crianças da cidade e também daquelas que foram suas pacientes no hospital Centrinho”, disse Agostinho.

Nascido em Jaú, o pediatra cursou medicina na USP de Ribeirão Preto e em seguida foi para Bauru. Marcou a vida de muitos de seus pacientes por acompanhá-los desde o parto até a adolescênc­ia, e depois, atender os filhos dessas pessoas.

Além da competênci­a profission­al, é lembrado pelas brincadeir­as que fazia para descontrai­r as famílias durante as consultas. Para uma mãe, por exemplo, disse que faria uma peruca com as mechas do bebê cabeludo.

Trabalhou até sentir os primeiros sintomas da Covid-19. Estava internado em um hospital particular e morreu na madrugada de quinta-feira (21). Deixou a mulher, Gil Celulare, três filhos e três netos.

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