Folha de S.Paulo

Em segundo dia de provas, Enem registra recorde de abstenção, com 55,3% de faltas

Ministro avalia que ‘acertou’ em prever a alta abstenção e defende organizaçã­o da prova

- Isabela Palhares, Thaiza Pauluze e Marcelo Rocha

são paulo e brasília O Enem (Exame Nacional do Ensino

Médio) 2020, na sua versão impressa, terminou neste domingo (24) com o maior índice de abstenção desde sua reformulaç­ão, em 2009. Dos 5.523.029 inscritos da prova impressa 51,5% faltaram ao primeiro dia, enquanto a abstenção do segundo dia de provas foi de 55,33%. A avaliação, que é a principal forma de ingresso em instituiçõ­es públicas de ensino superior, foi aplicada após muitas manifestaç­ões pedindo o adiamento, já que os casos de Covid-19 voltaram a crescer pelo país.

“Foi mais [abstenção] do que a gente estava esperando”, afirmou Alexandre Lopes, presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educaciona­is). Mas, segundo ele, o órgão responsáve­l pela prova “não pode parar”. O ministro da Educação, Milton Ribeiro, acompanhou a entrada dos candidatos na manhã deste domingo na escola estadual Cesar Martinez, em Moema, bairro nobre de São Paulo. Ele afirmou que a pasta previu corretamen­te a alta abstenção e defendeu a organizaçã­o das salas de aplicação do teste.

No último domingo (17), quando foram feitas as primeiras provas, com questões de linguagens, ciências humanas e redação, candidatos foram barrados por conta de salas superlotad­as.

A Folha mostrou que, apesar de ter anunciado que todas as 14 mil salas de prova do país receberiam apenas 50% da capacidade, havia locais em que a organizaçã­o alocou número de candidatos até 80%.

“Se houve esse pensamento, de que a abstenção seria de pelo menos 30%, então estávamos certos. Imagine se tivéssemos contratado tudo [maior número de salas]... o valor de dinheiro público que haveríamos de usar”, disse o ministro do governo Jair Bolsonaro.

Segundo Ribeiro, foi feita uma gestão “séria e responsáve­l” do dinheiro público. “Gastamos mais de R$ 700 milhões do Tesouro para a aplicação do Enem neste ano. Imagine se não tivesse feito uma mínima previsão [de abstenção] aí as coisas ficariam mais difíceis”, afirmou o ministro.

A Defensoria Pública da União entrou com uma ação na Justiça Federal em que argumenta que o Inep sabia que algumas salas tinham lotação acima do anunciado. A ação, que foi rejeitada, diz que a organizaçã­o mentiu aos candidatos sobre as medidas de segurança.

Neste domingo, em vários locais de prova, houve aglomeraçã­o na entrada dos portões próximo do horário de início do exame. Mas, segundo os estudantes, havia distanciam­ento de duas carteiras entre os inscritos e álcool em gel. O uso da máscara também foi respeitado.

As provas, com 45 questões de ciências da natureza e 45 de matemática, cobraram mais uma vez conteúdos relacionad­os a situações do dia a dia dos estudantes. As questões abordaram, por exemplo, funcioname­nto do fone de ouvido, uso de óleos essenciais, consumo de etanol por carros elétricos, óleo nas praias do Nordeste e cálculo de orçamento familiar.

O percentual de abstenção mais próximo ao Enem 2020 foi o de 2009, ano em que foi reformulad­o e as provas vazaram ainda na gráfica —o que gerou o adiamento do exame. Na época, eram poucas as universida­des que usavam o exame como forma de ingresso.

Este ano, outros 96.086 candidatos se inscrevera­m para o Enem Digital, modalidade que terá provas nos dias 21 de janeiro e 7 de fevereiro. Apesar de ter provas virtuais, o exame será realizado presencial­mente, em laboratóri­os de informátic­a de instituiçõ­es de ensino.

De 25 a 29 de janeiro, serão recebidos pedidos de reaplicaçã­o para quem se sentiu prejudicad­o ou foi impedido de fazer a prova por problemas logísticos. Pessoas que tiveram Covid-19 ou outras doenças infectocon­tagiosas também poderão solicitar que o exame seja reaplicado.

Apesar da abstenção recorde e dos candidatos barrados, Ribeiro voltou a defender a realização do Enem no momento em que a pandemia se agravou. Segundo ele, além de não poder prejudicar os alunos com um novo adiamento, havia preocupaçã­o com a saúde financeira das faculdades privadas.

Ribeiro tem mantido boa relação com donos de faculdade privada, que exercem influência sobre o ministro. O setor foi um dos que mais o pressionou para a realização da prova.

Gastamos mais de R$ 700 milhões do Tesouro para a aplicação do Enem neste ano. Imagine se não tivesse feito uma mínima previsão [da abstenção]... aí as coisas ficariam mais difíceis

Milton Ribeiro

ministro da educação

 ?? Eduardo Anizelli/Folhapress ?? Ministro da Educação, Milton Ribeiro, acompanha segundo dia do Enem em uma escola estadual em Moema, na zona sul de São Paulo
Eduardo Anizelli/Folhapress Ministro da Educação, Milton Ribeiro, acompanha segundo dia do Enem em uma escola estadual em Moema, na zona sul de São Paulo

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