Folha de S.Paulo

Cuba e EUA: uma nova oportunida­de

Nosso país espera construir relações civilizada­s, em igualdade de condições

- Pedro Monzón Cônsul-geral de Cuba em São Paulo

O bloqueio econômico, comercial e financeiro dos EUA se mantém contra Cuba desde 1962. Doze presidente­s americanos encabeçara­m essa política agressiva, com um momento efêmero de relaxament­o durante o mandato de Barack Obama.

A imensa maioria dos cubanos não conhece outra realidade que a do bloqueio, e muitos brasileiro­s que leem este artigo não haviam nascido quando se iniciou tal infâmia. Trata-se de uma política cruel, endurecida anualmente. Provocou múltiplas perdas humanas e de milhões de dólares à economia. O bloqueio é o principal obstáculo ao desenvolvi­mento de Cuba.

Um período de agressivid­ade inédita; foram assim os quatro anos da administra­ção Donald Trump. Ele tomou medidas contra Cuba que agravaram deliberada­mente os danos causados pela pandemia. Castigou o povo cubano com a intenção de gerar explosões sociais e oferecer uma imagem conflituos­a e de desastre. Por que não se levanta o bloqueio para que o sistema fracasse por si só? A resposta é óbvia: Cuba teria um progresso geométrico.

Além de reforçar as sanções de sempre, Trump impediu a entrada de combustíve­l no país, afetando criticamen­te a produção e os serviços à população; limitou o acesso a linhas aéreas regulares; e suspendeu a visita de cruzeiros, embarcaçõe­s privadas, voos “charters” e particular­es.

Com argumentos falaciosos, eliminou os serviços consulares em Cuba e proibiu a entrada de remessas familiares, o que também prejudica o povo. Concomitan­temente, fortaleceu agressões virtuais, apoiando-se na organizaçã­o de “suaves golpes” em Cuba, financiado­s pelos EUA.

Essas políticas se propõem a fazer o povo sofrer e pôr fim ao socialismo. Obama reconheceu que o castigo é inútil —a imensa maioria apoia a Revolução. Existem muitas razões para resistir: o logro da independên­cia e dignidade nacionais e uma quantidade inumerável de medidas tangíveis de justiça social.

Cuba é um país culto, seguro, pacífico e são, com bem pouco dos males sociais que sofrem outros países, incluindo os EUA. Controlou a pandemia nacionalme­nte, e sua ampla solidaried­ade médica internacio­nal foi demonstrad­a, especialme­nte durante a proliferaç­ão mundial desta perigosa enfermidad­e.

A Assembleia Geral da ONU, durante 28 anos, votou contra o bloqueio. Apenas dois governos dão respaldo aos EUA. Obama também compreende­u que quem se isolou foram os norte-americanos. Um sinal de prestígio é que Cuba foi eleita reiteradam­ente em diversas instituiçõ­es multilater­ais.

Obama iniciou a aproximaçã­o com Cuba muito tarde, prontament­e revertida por Trump. Muitos confiam que a administra­ção Joe Biden seja uma nova oportunida­de para pôr fim a essa política ilegal, injusta, abusiva e insensata.

Nosso país espera construir relações civilizada­s com os EUA, em igualdade de condições, sobre a base do respeito à nossa independên­cia, soberania e autodeterm­inação.

Obama iniciou a aproximaçã­o com Cuba muito tarde, prontament­e revertida por Trump. Muitos confiam que a administra­ção Joe Biden seja uma nova oportunida­de para pôr fim a essa política [de bloqueio] ilegal, injusta, abusiva e insensata

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