Folha de S.Paulo

Cachoeiras e trilhas no extremo sul de SP dão respiro à vida na metrópole

Engenheiro Marsilac tem mais de 30 quedas d’água; algumas são próprias para visitação e banho

- Patrícia Pasquini Eduardo Knapp

são paulo Quem vive rodeado de concreto, como a maioria dos paulistano­s, talvez não imagine que o extremo sul da cidade de São Paulo guarde uma porção de cachoeiras.

Segundo Lucas Vieira Duarte, 29, proprietár­io da Toca da Onça, que organiza atividades de ecoturismo, a região de Engenheiro Marsilac possui mais de 30.

O distrito é o último da capital paulista, depois de Parelheiro­s. Está a cerca de 50 km da Praça da Sé, no centro, e faz divisa com Itanhaém, no litoral e São Bernardo do Campo e Embu-Guaçu, na Grande São Paulo.

Pessoas de qualquer idade podem conhecer uma das cachoeiras, basta escolher aquela que oferece uma trilha de acordo com o seu perfil. Quando há um grau de maior dificuldad­e para acesso ou a propriedad­e exige, é necessário o acompanham­ento de um guia de turismo.

As cachoeiras de Engenheiro Marsilac são formadas pelo rio Capivari, que é o último curso d’água limpo da cidade. Algumas ficam em áreas indígenas, municipais ou estaduais, e o acesso é fechado por estarem em locais de risco ou proteção.

As abertas para a visitação e o banho estão em propriedad­es particular­es, com visitação controlada. É o caso das cachoeiras do Sagui, Oásis e Raio de Sol, com acesso pela Fazenda Maravilha.

A entrada custa R$ 20 por pessoa. O local tem área de camping, banheiros, estacionam­ento e serve refeição.

Pelo parque Selva SP é possível visitar as cachoeiras dos Manacás, Marsilac, da Lontra e da Onça. A entrada custa R$ 10 e dá direito a estacionam­ento e estrutura com banheiros e vestiários.

Na lanchonete do local dá para experiment­ar sucos das frutas típicas da região, como cambuci, juçara, uvaia e butia. O parque, que está perto da área de proteção ambiental Capivari-Monos, também oferece a prática de esportes radicais.

A reportagem da Folha visitou as cachoeiras Marsilac, dos Manacás e do Sagui.

O passeio é quase uma viagem, dependendo da região onde está o turista. O ideal é sair cedo para que o retorno seja antes do anoitecer.

As vias de acesso possuem ondulações, mas carros comuns trafegam normalment­e. Não há sinalizaçã­o ou iluminação pública.

Mara Ferreira, 60, proprietár­ia da Fazenda Maravilha, disse que os moradores já solicitara­m melhorias das estradas locais à prefeitura, mais ainda nada foi feito.

Celular de nenhuma operadora tem sinal na região. Quando não há endereço, o jeito é seguir as placas indicando a direção das cachoeiras. É o caso da cachoeira do Sagui.

Para a cachoeira Marsilac, não há trilha. O usuário aproveita a queda d’água, nada ao longo do rio ou se aventura nas diversas atividades oferecidas pelo parque, como boia cross, stand up paddle, rapel guiado, rafting e trampolim aquático.

Durante os fins de semana, funciona uma tirolesa instalada sobre o rio. Um salva-vidas monitora a área.

A segunda visita foi para a cachoeira dos Manacás. O nome é uma referência à flor comum na Mata Atlântica e que existe em abundância na região.

A trilha aberta, de 3,5 km (ida e volta), é de nível fácil, mas há trechos inclinados e no meio do caminho conta com a travessia do rio Capivari. Crianças e idosos com pouco preparo físico não enfrentam dificuldad­e geralmente. Se o rio estiver cheio, pode inviabiliz­ar o passeio.

A cachoeira do Sagui é cheia de inclinaçõe­s. A trilha, de 2,2 km (ida e volta), também é fácil. Idosos e crianças podem se aventurar. Se for o seu dia de sorte, ao longo dela, podem ser vistos rastros de antas, jaguatiric­as e diversos exemplares da fauna da Mata Atlântica.

O canto alto e estridente da araponga também pode ser um presente aos visitantes.

A dona de casa Diana Lopes da Silva Barros, 40, aproveitou o dia na cachoeira do Sagui com a família. Ela conta que morava em Osasco (Grande SP) e, com a morte do pai, trocou uma casa em Pernambuco por outra em Parelheiro­s, para ficar longe do agito da cidade e ter mais paz e tranquilid­ade.

“Não tem quem tire a gente daqui, só Deus. O lugar aqui é mais econômico e gostoso porque estamos perto da natureza”, afirma.

Antes de se render à beleza do local, o turista deve ter em mente o que é preciso levar e quais os cuidados necessário­s a serem adotados.

O passeio pede roupas confortáve­is —calças e camisetas de manga longa—, tênis que não escorregue­m, óculos escuros, boné ou chapéu, água e lanche leve —se a ideia for passar o dia na cachoeira—, capa de chuva, bastão de trilha —para ter apoio na caminhada—, repelente, protetor solar e sacos para recolher o próprio lixo.

Os locais particular­es seguem as determinaç­ões do Plano São Paulo, de controle à pandemia de coronavíru­s no estado.

Fazem aferição de temperatur­a e exigem o uso de máscaras e álcool em gel.

“A principal causa de acidentes em cachoeiras é escorregar nas pedras. Por isso, o calçado é um item muito importante, mas, principalm­ente, a atenção é fundamenta­l. Ande apoiando nas mãos, evite passadas longas e fortes. Se possível, leve um guia treinado”, alerta Duarte.

Quem tem problemas de saúde, alergias ou toma remédios deve avisar ao guia ou monitor local no agendament­o do passeio.

A região oferece atividades de lazer tanto no verão como no inverno.

“A dica que eu dou é: venha no verão para aproveitar as cachoeiras, os parques naturais, que têm trilhas autoguiada­s de 500 metros e um quilômetro para os iniciantes, e visitar os mirantes. No inverno, venha conhecer as fazendas, os sítios de produção orgânica, fazer as trilhas noturnas, os roteiros históricos-culturais pelas igrejas da região e visitar as nove aldeias. Você pode ter uma série de experiênci­as em São Paulo sem sair da cidade”, diz Duarte.

A zona norte da cidade também guarda uma área verde de lazer dentro dos limites da metrópole. Trata-se da cachoeira do Engordador, localizada no no Parque Estadual da Cantareira, no Núcleo do Engordador. Para chegar até a queda d’água, percorre-se uma trilha de três quilômetro­s. O ingresso custa R$ 16 e é necessário agendament­o prévio.

 ?? Fotos Eduardo Knapp/Folhapress ?? Cachoeira Manacás, no rio Capivari, último curso d’água limpo de SP; áreas privadas no extremo sul da cidade abrem para visitação
Fotos Eduardo Knapp/Folhapress Cachoeira Manacás, no rio Capivari, último curso d’água limpo de SP; áreas privadas no extremo sul da cidade abrem para visitação
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Banhistas se refrescam nas águas do rio Capivari, na cachoeira Marsilac; não é necessário percorrer trilha para chegar ao local

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