Cachoeiras e trilhas no extremo sul de SP dão respiro à vida na metrópole
Engenheiro Marsilac tem mais de 30 quedas d’água; algumas são próprias para visitação e banho
são paulo Quem vive rodeado de concreto, como a maioria dos paulistanos, talvez não imagine que o extremo sul da cidade de São Paulo guarde uma porção de cachoeiras.
Segundo Lucas Vieira Duarte, 29, proprietário da Toca da Onça, que organiza atividades de ecoturismo, a região de Engenheiro Marsilac possui mais de 30.
O distrito é o último da capital paulista, depois de Parelheiros. Está a cerca de 50 km da Praça da Sé, no centro, e faz divisa com Itanhaém, no litoral e São Bernardo do Campo e Embu-Guaçu, na Grande São Paulo.
Pessoas de qualquer idade podem conhecer uma das cachoeiras, basta escolher aquela que oferece uma trilha de acordo com o seu perfil. Quando há um grau de maior dificuldade para acesso ou a propriedade exige, é necessário o acompanhamento de um guia de turismo.
As cachoeiras de Engenheiro Marsilac são formadas pelo rio Capivari, que é o último curso d’água limpo da cidade. Algumas ficam em áreas indígenas, municipais ou estaduais, e o acesso é fechado por estarem em locais de risco ou proteção.
As abertas para a visitação e o banho estão em propriedades particulares, com visitação controlada. É o caso das cachoeiras do Sagui, Oásis e Raio de Sol, com acesso pela Fazenda Maravilha.
A entrada custa R$ 20 por pessoa. O local tem área de camping, banheiros, estacionamento e serve refeição.
Pelo parque Selva SP é possível visitar as cachoeiras dos Manacás, Marsilac, da Lontra e da Onça. A entrada custa R$ 10 e dá direito a estacionamento e estrutura com banheiros e vestiários.
Na lanchonete do local dá para experimentar sucos das frutas típicas da região, como cambuci, juçara, uvaia e butia. O parque, que está perto da área de proteção ambiental Capivari-Monos, também oferece a prática de esportes radicais.
A reportagem da Folha visitou as cachoeiras Marsilac, dos Manacás e do Sagui.
O passeio é quase uma viagem, dependendo da região onde está o turista. O ideal é sair cedo para que o retorno seja antes do anoitecer.
As vias de acesso possuem ondulações, mas carros comuns trafegam normalmente. Não há sinalização ou iluminação pública.
Mara Ferreira, 60, proprietária da Fazenda Maravilha, disse que os moradores já solicitaram melhorias das estradas locais à prefeitura, mais ainda nada foi feito.
Celular de nenhuma operadora tem sinal na região. Quando não há endereço, o jeito é seguir as placas indicando a direção das cachoeiras. É o caso da cachoeira do Sagui.
Para a cachoeira Marsilac, não há trilha. O usuário aproveita a queda d’água, nada ao longo do rio ou se aventura nas diversas atividades oferecidas pelo parque, como boia cross, stand up paddle, rapel guiado, rafting e trampolim aquático.
Durante os fins de semana, funciona uma tirolesa instalada sobre o rio. Um salva-vidas monitora a área.
A segunda visita foi para a cachoeira dos Manacás. O nome é uma referência à flor comum na Mata Atlântica e que existe em abundância na região.
A trilha aberta, de 3,5 km (ida e volta), é de nível fácil, mas há trechos inclinados e no meio do caminho conta com a travessia do rio Capivari. Crianças e idosos com pouco preparo físico não enfrentam dificuldade geralmente. Se o rio estiver cheio, pode inviabilizar o passeio.
A cachoeira do Sagui é cheia de inclinações. A trilha, de 2,2 km (ida e volta), também é fácil. Idosos e crianças podem se aventurar. Se for o seu dia de sorte, ao longo dela, podem ser vistos rastros de antas, jaguatiricas e diversos exemplares da fauna da Mata Atlântica.
O canto alto e estridente da araponga também pode ser um presente aos visitantes.
A dona de casa Diana Lopes da Silva Barros, 40, aproveitou o dia na cachoeira do Sagui com a família. Ela conta que morava em Osasco (Grande SP) e, com a morte do pai, trocou uma casa em Pernambuco por outra em Parelheiros, para ficar longe do agito da cidade e ter mais paz e tranquilidade.
“Não tem quem tire a gente daqui, só Deus. O lugar aqui é mais econômico e gostoso porque estamos perto da natureza”, afirma.
Antes de se render à beleza do local, o turista deve ter em mente o que é preciso levar e quais os cuidados necessários a serem adotados.
O passeio pede roupas confortáveis —calças e camisetas de manga longa—, tênis que não escorreguem, óculos escuros, boné ou chapéu, água e lanche leve —se a ideia for passar o dia na cachoeira—, capa de chuva, bastão de trilha —para ter apoio na caminhada—, repelente, protetor solar e sacos para recolher o próprio lixo.
Os locais particulares seguem as determinações do Plano São Paulo, de controle à pandemia de coronavírus no estado.
Fazem aferição de temperatura e exigem o uso de máscaras e álcool em gel.
“A principal causa de acidentes em cachoeiras é escorregar nas pedras. Por isso, o calçado é um item muito importante, mas, principalmente, a atenção é fundamental. Ande apoiando nas mãos, evite passadas longas e fortes. Se possível, leve um guia treinado”, alerta Duarte.
Quem tem problemas de saúde, alergias ou toma remédios deve avisar ao guia ou monitor local no agendamento do passeio.
A região oferece atividades de lazer tanto no verão como no inverno.
“A dica que eu dou é: venha no verão para aproveitar as cachoeiras, os parques naturais, que têm trilhas autoguiadas de 500 metros e um quilômetro para os iniciantes, e visitar os mirantes. No inverno, venha conhecer as fazendas, os sítios de produção orgânica, fazer as trilhas noturnas, os roteiros históricos-culturais pelas igrejas da região e visitar as nove aldeias. Você pode ter uma série de experiências em São Paulo sem sair da cidade”, diz Duarte.
A zona norte da cidade também guarda uma área verde de lazer dentro dos limites da metrópole. Trata-se da cachoeira do Engordador, localizada no no Parque Estadual da Cantareira, no Núcleo do Engordador. Para chegar até a queda d’água, percorre-se uma trilha de três quilômetros. O ingresso custa R$ 16 e é necessário agendamento prévio.